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‘Quem garante que a Cide não volta a zero?’

A presidenta da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, afirmou, em entrevista coletiva no evento Ethanol Summit, promovido pela instituição em São Paulo, que a falta de confianças nas políticas públicas afeta diretamente o setor sucroenergético.

Como exemplo dessa desconfiança, ela disparou:

“Se houver um recrudescimento da inflação, [quem garante que] o governo não irá baixar de novo para a Cide sobre a gasolina [hoje em 28% do preço do litro na bomba]? Ou não irá impedir que o Bendine [Ademir Bendine, presidente da Petrobras] faça a política de preços que melhor se ajusta à Petrobras?  E, com isso, abrir espaço para também rentabilizar o etanol?”

E emendou: “são perguntas que quem passou pela crise recente sabe que precisam ser respondidas. Tem-se que retomar a confiança do investidor.”

Confira a entrevista da presidenta da Unica:

O que esperar da conferência do clima, a COP 21, marcada para dezembro em Paris, para o etanol?

Elizabeth Farina – A COP 21 [conferência do clima, que pretende reunir 180 países em dezembro em Paris] traz um realce para o etanol. Sem dúvida, esse combustível pode assumir um papel muito mais importante do que ele tem hoje no mundo, como mitigador de emissões de gases de efeito estufa. No Brasil, que tem 20 milhões de veículos flex, que representa 70% da frota, isso [a expectativa de ter papel incisivo] é ainda mais importante. A conferência do clima irá dar sim um destaque para esse combustível, pelo papel que ele pode representar, mas mais do que isso será um fórum importante para discutir quais políticas, como se pode sair do discurso de redução de emissões e de fato ter investimento privado na busca de mitigação de emissões de gases de efeito estufa.

Farina: quem garante que a Cide não voltará a O?
Farina: quem garante que a Cide não voltará a O?

Como fazer o etanol voltar a crescer?

Elizabeth Farina – Temos ano a ano contribuído diretamente para o abastecimento do país e indiretamente com a mitigação de gases de efeito estufa no Brasil já há muitos anos. Se quisermos que essa participação seja maior do que é hoje, temos de voltar a investir em capacidade de processamento. Primeiro temos que encerrar o ciclo de fechamento das usinas, para que de novo a gente possa retomar um ciclo virtuoso de investimento.

Como?

Elizabeth Farina – Para isso, precisamos de novo tornar o etanol rentável para o investidor privado. Ele tem que ter a perspectiva de retorno positivo. Isso exige primeiro que o combustível fóssil ou a gasolina, que é o competidor direto, não seja subsidiado para que de fato haja competitividade. De outro lado, precisa haver investimento em melhorias tecnológicas que aumentem a produtividade, reduzam custos, aumentem a competitividade econômica. E precisa, sim, serem reconhecidas certas externalidades positivas que ele [o etanol] gera de algumas maneiras.

Cite uma maneira

Elizabeth Farina – Uma dessas maneiras é ter um diferencial tributário. Ultimamente nós temos discutido a Cide, mas também o diferencial de ICMS entre os estados tem mostrado que pode estimular muito o consumo de etanol hidratado. É um caminho para rentabilizar os investimentos, mas isso é urgente. Se queremos mais etanol em 2025, em 2030, dentro da matriz energética, tem-se que encontrar formas de rentabilizar [o etanol] rapidamente.

Como frear o fechamento das usinas?

Elizabeth Farina – Primeiro passo: tem que haver rentabilidade. Sem isso, será muito difícil retomar um ciclo de investimento. As usinas são muito heterogêneas entre si. Então, as situações que elas enfrentam também são muito diferentes em termos de produtividade, de custo, de capacidade, de inovação, de investimento na própria atividade como renovação de canaviais, plantio. Essa heterogeneidade faz com que não se tenha uma solução para todas as usinas. Mas todas elas necessitam retomar a rentabilidade. Usinas que estão mais endividadas terão mais dificuldades de equacionar o seu problemas, porque precisarão de rentabilidade corrente, e precisarão de algo a mais para de fato equacionar suas dívidas. Então isso irá de alguma maneira afetar diferente as diferentes usinas. Não há uma solução para todas.

Falta clareza das políticas públicas para o etanol atrair o investimento?

Elizabeth Farina – Sim. A crise que aí está foi alongada e aprofundada por uma política de preço de combustível equivocada. Eu acho que há consenso sobre isso. Certamente uma política de retomada para esse setor passa por esses diferenciais tributários que eu mencionei. A retomada da Cide foi uma sinalização positiva, embora bem aquém do que ela foi no passado, do que representou no preço de bomba da gasolina. E a competitividade do etanol está vinculada a isso. Há o aumento da mistura do etanol na gasolina representou um aumento de demanda importante, mas tudo isso depende de estabilidade, de confiança nessas regras.

Explique mais, por favor

Elizabeth Farina – Será que se houver um recrudescimento da inflação o governo não irá baixar de novo para 0 a Cidade sobre a gasolina [hoje em 28% do preço do litro na bomba]? Ou não irá impedir que o Bendine [Ademir Bendine, presidente da Petrobras] faça a política de preços que melhor se ajusta à Petrobras?  E, com isso, abrir espaço para também rentabilizar o etanol? São perguntas que quem passou pela crise recente sabe que precisam ser respondidas. Tem-se que retomar a confiança do investidor.

 

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