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Queimadas e oportunismo

Queimada de cana é um assunto que sempre provoca celeuma e, na semana passada, quando o tema voltou à baila na Câmara de Ribeirão, não foi diferente.

O vereador Beto Cangussú (PT), que tenta a reeleição, apresentou projeto de lei que proíbe o uso do fogo na colheita dessa gramínea, mas a proposta acabou derrotada.

Queimar cana é uma atividade atrasada, poluidora, que prejudica a saúde da população e o meio ambiente. Por anos, mediante estipêndio, o setor sucroalcooleiro obteve pareceres de “cientistas” para tentar demonstrar o contrário do que, hoje, parece óbvio.

Com exceção dos insensatos, que persistem na crença de que a fumaça dos canaviais não faz mal à saúde, é consensual que atear fogo em canaviais para facilitar a colheita é comportamento retrógrado, que rebaixa os praticantes ao estágio em que a humanidade vivia em cavernas.

Mais: a cultura rural de usar fogo na colheita, praticada pelas elites agrárias, migrou para as cidades e fez cidadãos comuns acharem “natural” essa conduta. Resultado: além das queimadas rurais, a população tem de suportar atualmente as freqüentes queimadas de terrenos.

Descontado o notório caráter oportunista e eleitoreiro da proposta de proibir a queima de cana, a discussão do assunto serve, no entanto, para mostrar o grau de sensibilidade de parcela dos vereadores com tema tão relevante de saúde pública.

O projeto de lei, se tivesse recebido votação favorável, seria uma provocação, principalmente, ao prefeito candidato Welson Gasparini (PSDB), tradicional aliado do setor ruralista e beneficiário de doações para suas campanhas eleitorais.

A proibição das queimadas de cana está prevista no Código Municipal de Meio Ambiente de Ribeirão Preto. Mas o artigo que veda a prática foi alvo de questionamento judicial por setores ligados à produção de álcool e açúcar. Chamado a se manifestar sobre a questão em 2007, o Tribunal de Justiça, em votação apertada, que precisou ser desempatada com voto de minerva, decidiu pela inconstitucionalidade do artigo.

O município recorreu da decisão, e o assunto, portanto, permanece sob apreciação da Justiça. Ao mesmo tempo, por pressões de mercado, o setor canavieiro procura, aos poucos, se desvencilhar da prática retrógrada.

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