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Queda do preço do álcool demora a chegar ao consumidor

O Brasil bate novo recorde de produção de álcool combustível. Mas, o produto não baixou de preço nos postos e, em pleno mês de abril, até ficou mais caro no estado de São Paulo. É uma história que se repete: quando o valor sobe, imediatamente chega na bomba. Agora, quando o preço cai, essa redução demora para chegar ao consumidor. A safra está a todo vapor: praticamente 100% das usinas do Centro-sul, que nesta safra deve responder por 88% da produção nacional, já estão em funcionamento. Neste ano, segundo dados da Datagro, a produção brasileira de álcool deve alcançar 20,5 bilhões de litros, dependendo do consumo. Com o álcool novo saindo das destilarias, repetiu-se o que acontece em todo início de safra: o preço do litro caiu. Em março, o álcool saía das usinas a R$ 0,96 o litro, sem frete e sem impostos, segundo dados do Centro Avançado em Pesquisa Econômica Aplicada da Esalq/USP (Cepea). Na semana terminada em 08 de junho, caiu para R$ 0,59. Trata-se de uma queda de 38%. No mesmo período, o preço médio do álcool para o consumidor paulista caiu apenas 2,4%, de R$ 1,405 o litro para R$ 1,372, segundo levantamento da ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (veja o quadro).

O ETERNO DILEMA

Mesmo admitindo que a redução precisa chegar ao consumidor, os donos de postos dizem que a diferença advém dos estoques das distribuidoras e que só podem comprar de determinadas distribuidoras, o que atrapalha o mercado, que é livre. Em entrevista coletiva, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, admitiu que a morosidade no repasse dos preços mais baixos às bombas “não é boa, porque tem alguém ganhando dinheiro, e não é nem o produtor nem o consumidor”. Em nota, o sindicato das distribuidoras afirmou que o mercado é competitivo, pois existem hoje mais de cem distribuidoras de álcool.

FORÇA PARA TRAZER EQUILÍBRIO AO MERCADO

Evitar essa volatilidade dos preços e da oferta de álcool é uma das preocupações do governo federal, que voltou a aumentar o teor da mistura de álcool na gasolina para 25%. A medida, uma das principais reivindicações do setor canavieiro, elevará em cerca de 400 milhões de litros por ano a demanda de álcool anidro. O aumento de demanda deve ajudar a elevar o preço do álcool entre as usinas e as distribuidoras, mas é irrelevante na solução do dilema. Assim como outras ações anunciadas pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, como a adoção de contratos de longo prazo entre distribuidoras e usinas; comercialização do produto na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e a formação de estoques reguladores. Apesar da boa vontade e iniciativas do Governo Lula, que pontualmente tem utilizado os mecanismos públicos em favor do equilíbrio do mercado, a solução definitiva somente poderá acontecer pelas forças naturais de mercado. E, com certeza, passa por uma maior atuação dos produtores, exercendo efetivamente sua força além da simples equação oferta e demanda.

VENDA DIRETA AOS POSTOS

Para Luiz Custódio Cotta Martins, presidente do Siamig, a solução é o setor reivindicar a liberação da comercialização do álcool direto das usinas aos postos, sem a obrigatoriedade da participação de distribuidoras. Uma sugestão com certeza ousada e que conta com uma

certa simpatia dentro da ANP. A questão comercial que se impõe nesta alternativa é a garantia da qualidade ao consumidor. E isto é plenamente viável da mesma forma em vigor atualmente, porém passando

a fazer o controle da qualidade diretamente nas pontas, mantendo-se amostras do combustível na expedição das usinas e da recepção nos postos. O risco maior seria uma retaliação das distribuidoras, especialmente as maiores, em fechar as bombas de álcool nos postos de suas bandeiras. Por outro lado, alguns postos poderão abandonar as bandeiras para venderem exclusivamente álcool barato. É uma conta de chegada…

POSTOS ESTRATÉGICOS DE ABASTECIMENTO E REFERÊNCIA DE PREÇOS

Outra alternativa ventilada nos bastidores do Ethanol Summit é a criação de postos com grande capacidade de venda de álcool, com o objetivo de torna-los referências de preços baixos em suas localidades, obrigando os demais a manterem preços próximos. Um bom exemplo desta iniciativa acontece na cidade de Sertãozinho, cuja proximidade das usinas e a existência de um posto de grande capacidade e preços baixos mantido pela Copercana – Cooperativa dos Plantadores de Cana do Oeste de São Paulo, sustenta os preços do álcool na cidade sempre entre 15 e 20 centavos mais baratos do que Ribeirão Preto (SP), distante a apenas 22 km. Na semana de 03 a 09 de junho, por exemplo, o preço médio ao consumidor em Sertãozinho estava

em R$ 1,160 contra 1,321 em Ribeirão Preto, segundo a ANP. Uma significativa economia de 12% para o consumidor local! O coordenador do Departamento de Agroenergia do Ministério da Agricultura, Ângelo Bressan, afirma que esta distorção não contribui para o equilíbrio do mercado e portanto, carece de ser corrigida. Bressan diz que, independente da mudança na legislação, o setor já pode adquirir ou utilizar distribuidoras em funcionamento para “vender diretamente” aos postos, tendo em vista que existem mais de 250 distribuidoras autorizadas pela ANP mas somente 180 são atuantes. Ele concorda que a criação de postos de referência de preços baixos também é uma alternativa interessante e de aplicação imediata.

LIÇÃO DE CASA

Homero Correa de Arruda, das Usinas São Martinho (SP) e Dacalda (PR),

aplica um provérbio à situação atual: “Não há mal que perdure nem bem que nunca acabe”. Em sua opinião, obter baixo custo de produção é uma obrigação do produtor que pretende se manter no mercado e, no médio prazo, o maior ganho de competitividade virá através de investimentos em logística, tendo em vista que tanto o açúcar quanto o álcool são produtos de baixo valor agregado. Já para o presidente do Grupo Cosan, Rubens Ometto Silveira Mello, “a ação mais importante para o setor de bioenergia sucroalcooleira é colocar em prática um planejamento estratégico comercial eficiente”. Os números não negam: a má distribuição das forças na comercialização do álcool tem prejudicado o setor produtivo. Os demais agentes não se eximem de lançar suas cartas. Nossa aposta é que os produtores efetivamente passem de meros expectadores a jogadores criativos…

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