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Qualidade da cana será discutida hoje na EEL/USP

A Escola de Engenharia de Lorena (EEL/USP) realiza hoje (30), no Campus I da instituição, um workshop sobre qualidade da matéria-prima para produção de etanol. O evento faz parte das Diretrizes de Políticas Públicas para a Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo – Programa de Pesquisa em Políticas Públicas da Fapesp (PPPP).

O evento vai reunir as comunidades acadêmica e científica, além de representantes do setor produtivo, para discutir temas relacionados à influência da qualidade da cana no processo fermentativo, ao efeito de fatores inibidores na fermentação alcoólica e às pesquisas sobre o uso do bagaço e da palha para obtenção de etanol.

De acordo com a coordenadora do workshop, Maria das Graças de Almeida Felipe, o projeto é uma oportunidade para que o setor produtivo conheça a “expertise” existente na academia e o potencial de sua aplicação nos processos produtivos. “Por outro lado, a academia também pode conhecer, de fato, as necessidades e demandas da agroindústria canavieira”, observa.

Em entrevista ao JornalCana, a pesquisadora fala sobre o desenvolvimento de pesquisas sobre a cana-de-açúcar, do desenvolvimento da celulose de 2ª geração, além do projeto Diretrizes de Políticas Públicas para a Agroindústria Canavieira de São Paulo.

JornalCana – Quais são as principais linhas de pesquisas referentes à qualidade da cana?

Maria das Graças Felipe – Pesquisas importantes quanto à qualidade da matéria-prima se referem às alternativas de moagem e limpeza; aumento do rendimento e produtividade de sacarose na cana; alternativas para eliminação do emprego de biocidas; definição da melhor época de colheita da cana de forma a propiciar menor teor de compostos fenólicos totais no caldo, influência da contaminação microbiana, novas variedades de cana além das opções de utilização do bagaço e palha de cana-de-açúcar.

JC – Qual o significado da qualidade da matéria-prima para o etanol?

MGF – Nas condições brasileiras, a matéria-prima cana-de-açúcar é obrigatoriamente variável e não armazenável por se tratar de material vegetal vivo sujeito às condições climáticas tanto em termos de sua produção como também em termo de sua colheita. Além disso, 60% do custo final do etanol no Brasil é referente à matéria-prima.

JC – Quais as expectativas com relação às pesquisas com a celulose de 2ª geração?

MGF – Para o desenvolvimento de novas tecnologias de obtenção de etanol a partir da celulose é necessário ainda, além dos esforços de pesquisadores e usinas, um considerável investimento e incentivos do Governo Federal para os avanços das pesquisas de forma a que esta tecnologia possa ser oferecida ao mercado em curto prazo. O incentivo e investimentos governamentais são fundamentais, pois estas novas tecnologias deverão aumentar em mínimo 50% a produtividade da produção de álcool de cana-de-açúcar. A grande vantagem é que estes aumentos de produtividade ocorrem sem que seja necessário aumentar a área de cana plantada. Isto, além de reduzir o impacto ambiental da atividade canavieira, certamente reduzirá também as restrições impostas pela comunidade européia sobre o produto de origem brasileira.

JC – É possível prever quando essa tecnologia será comercialmente viável?

MGF – Considerando o cenário atual de investimentos do governo nas pesquisas de produção de etanol, imagina-se que estas novas tecnologias demorarão, no mínimo, dez anos para sua viabilização. Entretanto, se os esforços empreendidos pelos setores envolvidos neste projeto e desde que os governos implementem políticas efetivas de incentivo, estas tecnologias poderão ser disponibilizadas em um tempo bem menor.

JC – Qual o objetivo do projeto Diretrizes de Políticas Públicas para a Agroindústria Canavieira?

MGF – Este projeto, financiado pela Fapesp, coordenado pelo professor Luis Augusto Barbosa Cortez da Unicamp, tem por objetivo propor diretrizes, estratégias e políticas para o desenvolvimento do setor sucroalcooleiro no Estado de São Paulo. Conta com a participação de uma equipe interdisciplinar composta por pesquisadores com vasta experiência acadêmica e profissionais do setor.

JC – Qual é a abrangência do projeto?

MGF – O projeto abrange a cadeia produtiva da cana (açúcar e álcool) concentrando os estudos nas áreas agrícola (melhoramento genético e tecnologia de colheita), industrial (gestão e hidrólise), produtos (etanol, alcoolquímica, energia) e ambiente externo (mercado nacional e internacional, oferta x demanda), contemplando o tripé do desenvolvimento sustentável (econômico, ambiental e social), em consonância com as Diretrizes de Política de Agroenergia do Governo Federal.

JC – Como ele é aplicado?

MGF – Seu desenvolvimento se baseia na realização de vários Workshops, que ocorrem em diferentes regiões do Estado de São Paulo, cujos resultados abrangerão toda a cadeia produtiva e oferecerão subsídios para a elaboração de políticas públicas para o setor, além de contribuir indiretamente para a formação e capacitação de profissionais aptos a atuarem administrativamente.

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