O mercado sofreu uma leve correção em relação aos 21USc/lb de terça-feira (14) depois que algumas casas anunciaram sua visão otimista para a produção de açúcar do Centro-Sul brasileiro em 2023/24, com números de até 38Mt. Mas outra discussão tem chamado a atenção: a Índia exportará mais do que as cotas de 6Mt já aprovadas?
Um relatório elaborado pela hEDGEpoint, companhia especializada em commodities e gestão de riscos, mostra os impactos que uma exportação entre 5Mt e 7Mt pode significar para os fluxos comerciais globais e, é claro, para os estoques finais da Índia.
Atualmente, a hEDGEpoint estima cerca de 34Mt de produção de açúcar durante a safra 2022/23. Os números realizados em fevereiro foram divulgados e Maharashtra já está 2% abaixo de 2021/22, enquanto a vantagem de Uttar Pradesh e Karnataka foi reduzida.
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“Quando se trata de 2023/24, estamos sendo conservadores: o desvio para o etanol deve aumentar e, assim, reduzir o total de matéria-prima disponível para o adoçante. Além disso, a formação do El-Niño pode resultar em uma menor recuperação da produtividade. Assim, nossa visão preliminar é que a oferta total deve permanecer abaixo de 34Mt na próxima safra”, avalia a empresa.
Quanto aos estoques finais da Índia, dependendo de seus números de exportação, ceteris paribus, a hEDGEpoint afirma que, como o governo indiano geralmente tenta manter o estoque final de, pelo menos, 3 meses de consumo, é fácil ver que nem com 7Mt, 6Mt ou mesmo 5Mt de exportação ele atingiria sua meta na safra 2022/23.
O cenário marcado como caso base é a visão atual da hEDGEpoint. “Presumimos que o governo esteja confortável com o menor nível de estoque final histórico: cerca de 5,3Mt visto em 2021/22. Nesse sentido, não apenas a exportação de 6Mt seria possível em 2022/23 como também permitiria a exportação de mais de 4Mt em 2023/24 – mantendo os fluxos de comércio global apertados, mas, no geral, equilibrados”, disse.
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Agora, se o governo permitir mais 1Mt de cotas de exportação, os estoques finais cairiam para 4,4Mt e resultaria em uma disponibilidade extremamente baixa em 23/24. Caso a Índia reestoque para o nível de 5,3Mt, apenas 3,5Mt estariam disponíveis para exportações pelo país.
Como resultado, haveria uma tendência baixista no curto prazo, enquanto o contrato de março 2024 enfrentaria uma tendência de alta. Mesmo que o país consiga produzir 34,5Mt nesta temporada, os estoques devem cair para um novo patamar mínimo se qualquer cota adicional for permitida.
Se o governo decidir que precisa manter um estoque maior até o final da temporada atual, pode retirar 1Mt de quotas. Isso levaria a um estoque final de 6,3Mt e, assumindo que exigiria pelo menos a mesma quantidade para 2023/24, a Índia ainda poderia exportar 4,5Mt em 2023/24. As exportações de 5Mt em 2022/24 dão sustentação de curto prazo aos preços do açúcar.
Segundo a hEDGEpoint, existem, como sempre, muitos riscos dentro de um exercício preditivo. “Embora não esperemos mais concessões ou retiradas de cotas, só poderemos validar o nível de produção do país asiático em abril – assim como o governo indiano aguarda para sua tomada de decisão. Podemos nos surpreender tanto com um volume maior – como algumas tradings têm defendido – quanto para baixo, como reportado por produtores locais”, elucida.
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A companhia ressalta ainda que não apenas em relação à produção deste ano, mas prever 2023/24 ainda é muito difícil. E mesmo que as confirmações em relação a 2022/23 ajude a esclarecer algumas das expectativas, é preciso ficar de olho nas previsões do ENSO para tentar entender como pode ser o clima durante a fase de desenvolvimento da cana.
“Sobre os fluxos comerciais ainda temos discussões sobre o estresse das exportações brasileiras. Conforme abordamos em relatórios anteriores, depende sim do ritmo de exportação de grãos, principalmente da soja. Como a colheita parece estar melhorando, podemos escapar de um possível deslocamento do açúcar, mas só o tempo dirá”, conclui a hEDGEpoint.