A produção mundial de açúcar deverá cair 1% em 2015, afirmou José Orive, presidente da International Sugar Organization (ISO), na tarde desta segunda-feira (21/09), no primeiro dia da Conferência Datagro, em São Paulo.
Segundo Orive, o déficit mundial de açúcar em 2016 está avaliado em 6,5 milhões de toneladas. “Os números consideram padrões climáticos normais”, afirmou. “Com o fenômeno El Niño, isso pode mudar. Mas ainda é cedo.”
Em palestra na abertura do evento, o presidente da ISO lembrou que o açúcar foi uma das piores commodities de 2015. “O colapso tem sido como acidente de trem em câmera lenta. Iniciou esse colapso em 2012 e, de lá para cá, com o avanço do dólar e a desvalorização do real. E, por último, ações para defesa de indústria local, o que contribuíram para o cenário local.”
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“O açúcar definitivamente tem sido um desafio para sobreviver em anos recentes. Mas estamos sozinhos?”, questionou.
“A resposta, retumbante, é: não. Não estamos sozinhos. As pressões nas commodities foram fortes em julho último. A China não compra mais. Políticas monetárias contrastantes definiram recordes negativos. Esse é o contexto de tudo. Todas as commodities têm caído de preço desde 2011. O açúcar é uma ilha em um mar de pontos vermelhos.”
Como chegamos a esse ponto? Não prestamos atenção? O que levou a um declínio tão forte?
José Orive: “O mundo hoje tem estoques que dão para encher 400 bilhões de copos de açúcar. Foi criada uma enorme bolha de estoque, o que garante açúcar para 5 temporadas seguidas. Última vez que isso ocorreu foi em 1990. A superprodução sacrifica os preços, impondo restrições a importações, introduzindo cotas e licenciamentos para compras, e oferecendo subsídios. Por último, o ciclo de cana soca também é responsável pela precificação. Essa oferta tem de ser espalhada por várias temporadas. A cana seguirá processada.”
“Os recentes declínios foram um fardo”, emendou. “A avaliação recente do real. A dívida do setor seria de R$ 90 bilhões. Na Índia, os preços baixos no mercado doméstico criaram dívida, o que cria ciclo insustentável no curto prazo.”
Orive reconhece: “o crescimento da população mundial avança, o que exige produção 2,4% maior anualmente. Índia, sem previsão clara, devido a grande dívida, produção 15/16 deve ficar inalterada, principalmente para os pequenos produtores, sem grandes alternativas. Na China, o quarto maior produtor do mundo, produção terá 20% de queda no preço. E na Austrália, produção não deve cair.”
A soma desses fatores gera a estimativa do presidente da ISO de produção de açúcar 1% menor em 2016.