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Produção maior de etanol pode ter impacto no preço dos alimentos nos EUA e Europa, diz especialista

A expansão da produção de etanol poderá afetar o preço dos alimentos nos Estados Unidos e na Europa. A afirmação foi feita hoje pelo presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), Marcos Jank, durante o seminário “Bioenergia – Fonte de Energia para o Desenvolvimento Sustentável”, promovido pelo Valor, em São Paulo.

Segundo o especialista, os países desenvolvidos estão utilizando matéria-prima cara e de baixo potencial energético. No caso dos Estados Unidos, o milho usado na produção do etanol necessita de uma área plantada duas vezes maior do que a cana-de-açúcar para produzir o mesmo volume de combustível.

Como o governo americano está incentivando fortemente o crescimento da produção interna de etanol, o preço do milho vem subindo de forma significativa e poderá afetar a cadeia alimentar, na avaliação de Jank.

Ele disse ainda que, com os preços em alta, a produção do etanol a partir do milho só é economicamente viável porque o governo concede um subsídio de US$ 0,51 para cada galão de combustível produzido no país.

Para se ter uma idéia, a produção de álcool a partir da cana é 30% mais barata em relação ao milho e gera cerca de cinco vezes mais energia renovável.

Segundo Jank, uma solução interessante para afastar o risco de subidas drásticas nos preços dos alimentos seria a abertura dos países desenvolvidos ao comércio internacional de etanol. Dessa forma, eles poderiam comprar o combustível produzido a custos menores sem afetar a área plantada de alimentos. “Porém, isso (a abertura) não ocorre em razão dos fortes lobbies que existem nesses países”, apontou o especialista.

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, que também participou do seminário, lembrou que o Brasil tem hoje 22 milhões de hectares de terras propícias ao plantio da cana. No caso brasileiro, Rodrigues afastou a possibilidade de que a área plantada da cana avance sobre as que são destinadas a outras culturas. “Dos 91 milhões de hectares de terras agricultáveis, somente 22 milhões (de hectares) são aptos para cana. O resto é apto para outras coisas. Temos espaço para tudo”, afirmou Rodrigues.

Além da oferta de terras, a indústria brasileira também conta com a expectativa do crescimento vertical da produção, ou seja, de se extrair mais etanol dentro da mesma área plantada. Isso será possível assim que se viabilizar a extração do combustível a partir da celulose da cana. No ano passado, foram produzidos no Brasil 17,7 bilhões de litros de etanol.

Também presente ao evento, a presidente da Petrobras Distribuidora, Maria das Graças Foster, lembrou que a estatal está analisando a possibilidade de expandir em 1.150 quilômetros a sua capacidade de escoamento de etanol na malha Sudeste-Centro-Oeste.

Segundo ela, o volume de álcool transportado pela companhia durante o primeiro trimestre deste ano foi 65% maior do que no mesmo período de 2006. Para se ter uma idéia, no caso da gasolina, o crescimento foi de 7%.

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