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Produção de máquinas agrícolas desacelera

Na contramão da indústria brasileira, fábricas que fornecem insumos a produtores rurais tiveram desempenho negativo no final de 2004, sob impacto da desaceleração de negócios agrícolas.

Após um início de década de elevado crescimento e de um primeiro semestre em ritmo aquecido, as produções de máquinas e equipamentos para a agricultura e de fertilizantes caíram 5,2% e 2,8% nos seis últimos meses de 2004, respectivamente.

Preços menores de commodities no mercado externo, que desestimulam os investimentos no campo, aumento dos custos, dificuldades para obter financiamentos e a queda do dólar foram as principais razões para a retração.

Em 2003, o agronegócio foi um dos poucos setores que impulsionaram a indústria, que fechou o ano com alta de apenas 0,1%. As produções de fertilizantes e de máquinas agrícolas subiram numa proporção muito maior do que a média da indústria -7,45% e 21,89%, respectivamente.

Os dois setores, que produzem os principais insumos da agricultura, registraram no ano passado desempenho inferior à média da indústria, cuja expansão foi de 8,3%, a maior em 18 anos.

No ano de 2004, os resultados foram bem mais modestos, com queda de 1,43% em fertilizantes e elevação de 6,36% em máquinas e equipamentos agrícolas.

Esse desempenho contrasta com o de outros ramos da categoria de bens de capital, uma das líderes da produção da indústria em 2004 -alta de 19,7%. A fabricação de máquinas e equipamentos destinados à construção civil avançou 38% no ano passado. Já os bens de capital utilizados no setor de transporte (como caminhões) cresceram 25,6%.

Rentabilidade menor

Para Glauco Carvalho, economista da MB Associados especializado no agronegócio, os preços dos produtos agrícolas de exportação -especialmente soja, milho e algodão- caíram muito no segundo semestre de 2004, o que reduziu “drasticamente a rentabilidade” do setor.

Com menos dinheiro para investir, diz Carvalho, os agricultores deixaram de encomendar máquinas e equipamentos e cortaram as compras de fertilizantes.

“É natural que o produtor fique com receio de comprar. As cotações caíram, mas houve alta substancial nos custos dos fertilizantes. Nos nitrogenados, por exemplo, o impacto do petróleo foi grande. E a demanda maior também contribuiu para elevar os custos, principalmente por causa da China e da Índia”, afirma o diretor-executivo da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Eduardo Daher.

A análise de Carvalho é compartilhada pelo vice-presidente do Sindag (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola), José Roberto Da Ros, cujo setor foi menos atingido pela crise, embora tenha registrado desaceleração nos ganhos. Ele prevê alta de 25% no faturamento em 2004 (mais 68% em 2003)

“Com a rentabilidade em queda, o produtor tenta diminuir os custos e utiliza menos máquinas e adubo. Mas, com o defensivo, é diferente porque ele não quer se arriscar a perder a lavoura por causa da praga”, afirma.

Outras razões para a indústria de defensivos não ter sido tão atingida são a propagação da ferrugem asiática (que atinge a soja) por vários Estados e o aumento da área plantada na atual safra.

Para Carvalho, o forte aumento da safra nos EUA foi o principal motivo para o recuo dos preços internacionais. Tal cenário nas cotações continuará em 2005, pois o estoque mundial de grãos se mantém elevado.

Newton de Mello, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), apontou justamente os preços menores de commodities como uma das três principais ameaças ao setor em 2005.

“[A queda dos preços] leva a agricultura brasileira a ter menos competitividade externa, diminuindo, certamente, o consumo não apenas de máquinas agrícolas como de veículos para transportar as safras”, disse.

Quem também prevê um ano “difícil” em 2005 é a indústria de fertilizantes.

“Tememos dificuldades na obtenção de recursos para crédito e financiamento. No ano passado, como os preços das commodities estavam bons, o produtor se endividou. Um empate no volume entregue ao agricultor neste ano será um bom resultado”, disse o diretor da Anda.

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