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Produção de cana-de-açúcar abre espaço para energias renováveis em Angola

A Companhia de Bioenergia de Angola (BIOCOM), uma joint venture formada entre as empresas Norberto Odebrecht, o grupo privado angolano Damer e a estatal petrolífera Sonangol, irá investir na produção de cana-de-açúcar em Angola. Até 2012, será implantada uma usina produtora de açúcar, etanol e bioeletricidade no município de Cacuso, na província de Malanje. O projeto foi idealizado com o objetivo de reduzir as importações de açúcar e também o consumo de combustíveis fósseis em Angola.

Para o diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Eduardo Leão de Sousa, Angola apresenta forte aptidão agrícola, especialmente para a produção de bicombustíveis. “Além de excelentes condições agro-climáticas e grande disponibilidade de terras aráveis, em boa medida muito semelhantes aos cerrados brasileiros, Angola apresenta localização geográfica privilegiada para escoamento do combustível para a Europa”, observa Sousa. No futuro, com a expansão da atividade canavieira em Angola, o país poderá até vender a produção excedente de açúcar e etanol para outros países, com a vantagem de exportar para a União Europeia (UE) sem precisar pagar nenhuma sobretaxa. O tratado comercial decorre do fato de Angola ser uma ex-colônia de Portugal.

Embora o país africano tenha semelhanças com o Brasil em termos de clima e disposição de terras aráveis para a plantação de cana-de-açúcar, ao contrário do caso brasileiro, em Angola, o cultivo de cana será destinado prioritariamente para fabricação de açúcar. Com isso, o país pretende reduzir os volumes do produto importados anualmente. No Brasil, 54,38% da cana foi destinada para a produção de etanol e 45,62% para o açúcar na safra 2008/09.

A adoção do etanol como combustível automotivo ainda é uma questão indefinida pelo governo de Angola e, por essa razão, segundo a BIOCOM, caso as autoridades angolanas demonstrem interesse em adotar o etanol em sua frota veicular, a empresa poderá fornecer parte destas necessidades ao país. De acordo com o diretor da UNICA, o aumento da produção de etanol em Angola poderá gerar benefícios sociais e econômicos ao país. “Os biocombustíveis podem ser tornar também importante alavanca de desenvolvimento rural, geração de emprego e fonte de energia elétrica nas áreas rurais”, destaca Sousa.

Além de o Brasil transferir para os angolanos todo seu conhecimento adquirido em mais de 30 anos de pesquisas na produção de biocombustíveis, a construtora brasileira Norberto Odebecht estará presente também na execução e gestão do projeto. A empresa realiza negócios há 21 anos em Angola, e terá 40% de participação na joint venture que deu origem a BIOCOM, que ainda terá o grupo privado angolano Damer (40%) e a estatal petrolífera Sonangol (20%) como sócios.

Para Eduardo de Sousa, os laços culturais e históricos de Angola com o Brasil e facilidade de língua se constituem em importantes facilitadores neste processo de transferência tecnológica entre os dois países. “Estas transferências podem ocorrer de diversas formas no setor agronômico, via transferência e adaptação de diversas variedades produtivas de cana-de-açúcar e manejo agrícola, no setor de processamento industrial, no setor de logística e, finalmente, no setor automotivo, no desenvolvimento de motores flex-fuel”, ressalta o diretor da UNICA.

Para o diretor de agronegócios da Odebrecht em Angola, Wolney Longhini, já faz parte da política corporativa da empresa investir em países onde atua. “Isto aumenta a nossa presença empresarial em Angola”, ressalta Longhini. “Como parte de uma atuação empresarial responsável, a Odebrecht vê neste negócio a oportunidade de participar da criação de uma nova geração de empresários comprometidos com o desenvolvimento sócio econômico sustentável.”, declarou o executivo.

O projeto da Companhia de Bioenergia de Angola, orçado em US$ 258 milhões, prevê a ocupação de 30 mil hectares de área agrícola, sendo que 4 mil já estão recebendo as primeiras mudas de cana. Da área total, outros 4 mil hectares serão destinados à rotação de plantio, onde será feita uma substituição da variedade da cana plantada, que pode durar até sete anos sem necessitar de troca. A previsão é de que em 2012, ano que a construção da usina será concluída, sejam produzidos 30 milhões de litros de etanol, 250 mil toneladas de açúcar e 160 mil MegaWatts/hora (MWh) por ano de bioeletricidade. Segundo informações da BIOCOM, toda essa produção servirá, inicialmente, para abastecer apenas o mercado interno.

Além da construção já confirmada de uma usina no município de Cacuso, na provícia de Malanje, o projeto angolano prevê a implantação de outras unidades pelo país.

Os benefícios ambientais gerados pela utilização do etanol, um combustível limpo e renovável que reduz em até 90% a emissão de CO2 em comparação com a gasolina, de origem fóssil, poderão resultar em oportunidades de negócios para Angola. Com a diminuição da poluição ambiental, o país africano poderá se habilitar para vender os créditos de carbono dentro do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), criados pelo Protocolo de Kyoto para auxiliar e estimular os países ricos e emergentes no processo de redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE). Embora admita um faturamento extra com a venda destes créditos, que poderiam chegar a € 1,3 milhão por ano, a direção da BIOCOM comunicou que ainda não explorou comercialmente esta possibilidade.

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