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Presidente da Letônia visita o Brasil, de olho na tecnologia do etanol

RIO – Na primeira visita oficial de um líder da Letônia ao Brasil, a presidente da ex-república soviética, Vaira Vike-Freiberga, se encontra com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira com um interesse específico no etanol brasileiro.

A Letônia tem atualmente 5% de sua matriz energética baseada em biocombustíveis, mas pretende elevar esta participação para 20% – meta já anunciada pela União Européia para seus países-membros.

– Temos interesse especial nos equipamentos brasileiros e instalações que são mais eficientes e permitem uma produção mais barata. Vocês conseguiram fazer o etanol com um baixo custo. Muitos outros países estão fazendo etanol como um luxo, porque ainda é caro para produzir. Mas o Brasil conseguiu fazê-lo com sucesso e queremos saber como chegaram a isso – explicou a presidente, em entrevista exclusiva ao GLOBO ONLINE.

Vaira também contou que a Letônia quer expandir as relações comerciais com o Brasil nas áreas de logística, serviços financeiros, máquinas e equipamentos elétricos. Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a balança comercial entre os dois países foi de apenas US$ 44,3 milhões em 2006, resultado de exportações brasileiras de US$ 44,1 milhões e de importações de US$ 178 mil.

O Brasil, por sua vez, tem interesse em expandir sua influência em outras regiões e a Letônia já manifestou seu apoio ao pleito do país de ampliar o número de assentos do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas e de ocupar uma vaga.

Em termos econômicos, ambos os países enfrentam dilemas parecidos, mas optaram por estratégias diferentes. A Letônia cresce a uma das maiores taxas da Europa, tendo registrado uma expansão econômica de 11,5% no ano passado. A presidente, no entanto, vem sendo criticada pelo alto índice inflacionário do país – em torno de 7% – o que vem postergando a adesão da Letônia à Zona do Euro.

No Brasil, a política monetária é alvo de setores mais desenvolvimentistas, que defendem cortes mais ousados da taxa de juros em prol de um crescimento maior.

– Em macroeconomia não há solução ideal. A nossa prioridade é crescer rápido porque somos um dos países mais pobres da União Européia e precisamos acompanhar o bloco. Crescemos 8% durante cerca de seis anos e, desde que entramos na União Européia, temos crescido 9%, 10% e até 11,5% no ano passado, mas a economia está se superaquecendo porque existe um aumento muito forte do consumo interno – admite.

Vaira explica que o governo tem sido relutante em fazer algo que resulte na interrupção do crescimento, mas acha necessária a adoção de medidas que inibam a especulação, por exemplo.

– As pessoas estão ficando enlouquecidas e comprando imóveis. Temos bancos internacionais na Letônia que emprestam em euros a custos muito baixos. O Banco Central da Letônia pode emprestar e controlar as taxas para empréstimos em moeda local, o lat, mas não em euros. O que o governo está fazendo é estabelecendo taxas. Se você compra um imóvel e o revende, os impostos são muito mais altos que se você mantivesse o imóvel por três anos – conta.

O país também vem impondo altos impostos sobre a compra de automóveis luxuosos.

– A Letônia é um dos países mais pobres da União Européia e você ficaria surpresa se visse o nível dos automóveis de luxo que circulam nas ruas – diz.

Mas, segundo a presidente, parte da inflação pode ser atribuída à importação de máquinas e equipamentos para o aumento da produção, o que é positivo em sua opinião.

Com um dos mais altos índices de popularidade do mundo – acima de 70% – Vaira assume posições polêmicas ao apoiar a ocupação do Iraque pelos Estados Unidos, assim como a instalação de escudos anti-mísseis pelo país na Polônia ou na República Tcheca.

– O senhor Putin (Vladimir Putin, presidente da Rússia) está supervalorizando esta questão e dizendo que isso coloca a Rússia sob risco, mas um escudo de defesa não é uma ameaça porque não é ofensivo. Acho que estão fazendo disto um fato político – diz.

Quando citada sua aprovação pela população da Letônia, Vaira sorri e relembra de seu passado como exilada política.

A presidente diz que teve uma vida dupla, como bolsista e cientista no Canadá, ao mesmo tempo freqüentando comunidades letãs e fazendo palestras sobre a identidade cultural dos cidadãos do país.

Segundo ela, a vivência no Ocidente e o anseio da população por uma abertura, depois da independência da extinta União Soviética, também ajudaram:

– Naquele momento histórico o fato de eu ter vivido fora e de conhecer outros costumes era uma feliz coincidência e foi uma vantagem – diz.

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