A produção de açúcar deve ser menor na safra 2021/22, considerando-se que o Centro-Sul brasileiro atingiu recorde no volume em 2020 (totalizando 38,09 milhões de toneladas, alta de 44,16% em relação ao ano anterior) e que condições climáticas atípicas, como a estiagem entre setembro e outubro de 2020, podem prejudicar o volume de cana e a concentração de ATR (Açúcar Total Recuperável).
Adicionalmente, incêndios em alguns canaviais no período de seca prejudicaram a produção da cana-de-açúcar. Caso as chuvas da primavera e verão ocorram, mesmo que atrasadas, acredita-se que as perdas sejam minimizadas, mas ainda há incertezas quanto à intensidade do La Niña, fenômeno que pode diminuir a ocorrência de precipitações no Centro-Sul do Brasil nos próximos meses.
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Por enquanto, espera-se que a quantidade produzida de cana-de-açúcar disponível para moagem em 2021/22 seja de aproximadamente 585 milhões de toneladas, segundo empresas ligadas ao setor sucroenergético. Na atual temporada, a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) indica que o Centro-Sul havia produzido 594,88 milhões de toneladas até 1º de dezembro de 2020.
No que tange ao ATR, a estiagem foi favorável à cana-de-açúcar colhida em 2020, mas será prejudicial à cana a ser colhida em 2021. Na parcial da safra 2020/21 (de 1º de abril de 2020 até 1º de dezembro de 2020), foram obtidos 145,13 kg de ATR/tonelada de cana, e para 2021/22, as expectativas apontam para 138 kg de ATR/tonelada.
Os preços favoráveis no mercado interno e a recuperação dos valores internacionais devem estimular a manutenção do mix mais açucareiro. Além disso, boa parte das exportações já está fixada para a próxima safra, o que compromete a flexibilidade para inverter o mix.
Quanto ao dólar, um fortalecimento acelerado da economia pode enfraquecer a moeda norte-americana frente ao Real, reduzindo as vantagens das exportações. Por outro lado, incertezas causadas pela pandemia e o novo ambiente de juros baixos, que não atrai mais o capital externo especulativo, indicam que o dólar pode se manter firme.
Segundo o Cepea, além desses aspectos, não existe sinalização segura de que o consumo de combustíveis aumente com força em 2021. O petróleo tem oscilado bastante, sem tendência definida. Se houver retomada de consumo interno, no entanto, a diferença entre os preços da gasolina e do etanol nos postos deve estimular sobremaneira seu consumo. Em relação ao consumo de açúcar, as mudanças ocorridas no Brasil e no mundo em 2020, especialmente devido à pandemia de coronavírus, podem se estender para 2021.
No geral, a velocidade de transição para uma nova estabilidade econômica definirá os preços relativos dos produtos finais e, consequentemente, a tendência do mix de produção para as próximas safras. Portanto, o que determinará se o mix terá um incremento relativo em termos de açúcar ou de etanol não é o consumo interno do adoçante, mas, sim, as exportações desta commodity. O contrário vale para o etanol, uma vez que o mercado interno é o mais relevante.
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Cabe, portanto, a questão: o mundo, e principalmente a China, continuarão a importar o açúcar brasileiro com a mesma intensidade neste ano? Caso positivo, a tendência seria de maior sustentação dos preços internacionais, favorecendo as receitas com exportação de açúcar. Outro aspecto parece ser a questão dos estoques mundiais, que devem ter se reduzido mediante a dificuldade de produção agrícola em diversos países.
De fato, temendo o desabastecimento de açúcar, a China não renovou em 2020 a política de salvaguarda, que limita as importações de açúcar no país. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o país asiático tem o menor volume de açúcar estocado das últimas quatro temporadas. Com isso, o açúcar brasileiro poderá encontrar no ano de 2021 um voraz comprador, o que contribui para fortalecer a projeção do mix favorecendo o açúcar.