Mercado

Preços do açúcar alcançam maior patamar desde 1998

Os preços do açúcar atingiram ontem a maior cotação observada desde fevereiro de 1998 para os contratos de segunda posição na bolsa de Nova York. A alta ocorre em meio à promessa da União Européia (UE) de despejar seu excedente de açúcar branco no mercado nos próximos meses, o que certamente pressionará o mercado.

Na bolsa americana, os contratos para março atingiram 11,07 centavos de dólar por libra-peso, em alta de 45 pontos (4,2%) sobre o dia anterior. Os contratos de outubro (primeira posição de entrega) fecharam a 10,92 centavos de dólar, com ganho de 52 pontos (5%), sobre o dia anterior, maior patamar desde outubro de 2000.

No mercado, os analistas não acreditam que a ameaça da UE em despejar seu excedente possa derrubar os preços do açúcar, que se mantêm sustentados pelo petróleo – uma vez que as usinas brasileiras estão destinando boa parte da produção da cana para o álcool – e por forte movimento de compra dos fundos, disse Michael McDougall, da Fimat Futures. “A ameaça da UE já é conhecida no mercado e não deve provocar fortes impactos sobre os preços”. A proximidade da entressafra brasileira também reduz o impacto baixista, segundo Alexandre Mourani, da Ágora Senior.

Ontem, o Brasil apresentou uma estimativa “preliminar” na Organização Mundial do Comércio (OMC), na qual afirma que os preços do açúcar poderão sofrer queda superior a 6% no mercado internacional com a decisão da UE de exportar mais 1,9 milhão de toneladas de açúcar subsidiado. O governo brasileiro preocupa-se com o aumento das vendas “proibidas” do bloco, que foi condenado pela OMC por sua política de subsídios.

A UE reagiu advertindo ser “impossível” implementar imediatamente decisão da OMC. A delegação européia advertiu que o Brasil, Austrália e Tailândia “estão obrigados a aceitar que a UE tenha um período razoável de tempo” para mudar as exportações.

Segundo fontes brasileiras, Bruxelas ameaça vender imediatamente 1,9 milhão de toneladas subsidiadas se não obtiver prazo até janeiro de 2007 para mudar seu regime açucareiro. A OMC define em 28 de outubro como deverá ser a implementação dessa reforma.

Ocorre que persiste o confronto entre a UE e o Brasil sobre o que significa implementar a decisão da OMC. Para o Brasil, a UE deve reduzir gradualmente as exportações, o que abre espaço para os embarques do país aumentarem. Para Bruxelas, porém, o prazo que pede é apenas para estudar como corrigir o que a OMC considerou “inconsistente”. Assim, se eventualmente conseguir prazo até janeiro de 2007, como deseja, a UE acha que poderá exportar enormes volumes de açúcar subsidiado.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que a exportação de 1,9 milhão de toneladas “parece ser contrária” à decisão do painel. “Se tiver que ser desafiada na OMC, a decisão da UE será desafiada”. Pelos cálculos do Brasil, a decisão da OMC implica que a UE reduza suas exportações de 5 milhões de toneladas/ano para 1,273 milhão de toneladas, volume estabelecido na Rodada do Uruguai. Só que, com o anuncio de exportações adicionais, as vendas externas “ilegais” podem chegar a 7 milhões de toneladas. A UE é o maior exportador mundial de açúcar branco. O produto representa 40% da produção global.

Brasil, Austrália e Tailândia aproveitaram reunião do Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) para pedir vigilância do órgão por três razões: a UE estaria tomando decisão unilateral para evitar cortar subsídios, causa dano no funcionamento e credibilidade do sistema de disputas da OMC e pode afetar o mercado mundial do açúcar.

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