Mercado

Preço do álcool sobe 10% no interior paulista

O reajuste no preço do álcool já chegou às bombas de regiões produtoras do combustível no interior de São Paulo. O litro subiu em média 10% nesta semana em postos de São José do Rio Preto, Catanduva e Araçatuba. A elevação ocorre em plena safra da cana-de-açúcar e duas semanas depois do reajuste de 10% no preço da gasolina cobrado nas refinarias. O interior de São Paulo é responsável por 70% da produção de álcool do País.

Em Catanduva, região que concentra 11 destilarias de álcool, o litro chegou a subir R$ 0,26 nos postos desde o aumento da gasolina, segundo pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Em São José do Rio Preto, os postos amanheceram ontem com um reajuste de 9,5% em média. Em Araçatuba, região com 32 destilarias, o reajuste vem sendo repassado desde a semana passada e o aumento varia de 7% a 15% nos postos.

Representantes dos postos dizem que estão repassando aumento dado pelas distribuidoras, que na semana passada reajustaram o preço em 10%. As distribuidoras alegam que o repasse é conseqüência de aumento do preço do álcool vendido pelas usinas, que reajustaram os valores em até 15% desde o início do mês.

“O mercado enfrenta forte demanda interna e externa e o reajuste da gasolina forçou um aumento de preços do álcool anidro, que passou a ser muito procurado para formação de estoque de gasolina pouco antes do reajuste do governo. Essa pressão forçou o reajuste”, declara Fernando Perri, diretor da União das Destilarias do Oeste Paulista (Udop).

Segundo ele, o preço do álcool anidro, usado na mistura da gasolina, passou de R$ 0,82 no início do mês para R$ 0,95 em usinas do interior. Já o preço do álcool hidratado, usado para abastecer diretamente os veículos, saltou de R$ 0,89 para R$ 0,93 e R$ 0,95 no final da semana passada nas usinas do interior. “Além disso, o preço do álcool nas usinas deve acompanhar os preços do mercado de açúcar para evitar um excesso de produção pelas usinas”, disse Perri.

A variação encontrada ontem nos postos, de R$ 1,09 a R$ 1,37, demonstra que o mercado ainda não encontrou um novo nível de preços, o que, segundo Perri deve ocorrer dentro de duas semanas, quando depois de o mercado assimilar os reajustes e a oferta aumentar o litro deverá custar entre R$ 1,25 e R$ 1,29.

Para Datagro, preço deve superar R$ 1

O preço do litro do álcool anidro deve ultrapassar R$ 1 no curto prazo, diante da maior demanda por álcool combustível tanto no mercado interno como o externo, segundo estimativa de Plínio Nastari, presidente da Datagro Consultoria. De acordo com ele, os preços de exportação de álcool e açúcar estão mais remuneradores que os do mercado interno e, para que mais produtos sejam direcionados para o mercado interno e atendam à demanda crescente dos carros bicombustíveis, o preço interno terá de subir.

Nastari acredita que os preços do petróleo devem continuar atraentes no médio prazo também no mercado internacional mesmo com o câmbio brasileiro supervalorizado. “O custo do barril de álcool de cana sai por US$ 26 e dificilmente veremos o preço do barril de petróleo cair para este patamar”, diz.

Segundo ele, mesmo com o preço do álcool mais firme neste momento, os Estados Unidos devem importar mais álcool do Brasil no segundo semestre porque está competitivo em relação ao preço da gasolina americana. “E as importações devem ser diretas, com o pagamento dos impostos”, disse.

Para o consultor, os Estados Unidos devem substituir, neste segundo semestre, o bom desempenho importador da Índia no primeiro semestre. A exportação de álcool brasileira deve terminar a safra 2005/06 em 2,6 bilhões de litros, mesmo nível da safra anterior. Para 2006/07, o volume exportado deve atingir 2,8 bilhões de litros.

Para Nastari, o atual câmbio está reduzindo as margens do setor ao tornar seus custos mais elevados. “O câmbio real seria em torno de R$ 2,86 a R$ 2,87 o que reduziria o custo do barril de álcool para algo em torno de US$ 21, tornando o produto ainda mais competitivo”, disse. Mesmo para o açúcar, o consultor informa que, no atual câmbio, o custo de equilíbrio para ser lucrativo é de 8,4 cents de dólar por libra.

“O setor está registrando lucro com o açúcar a 10,5 cents mas é importante notar que os custos também subiram e os preços estão acima de 8,4 cents faz pouco tempo”, informa Nastari, que concedeu a entrevista durante a 5ª Conferência Internacional de Açúcar, Álcool e Energia da Datagro.

Os preços do açúcar também estão sendo sustentados pela maior demanda internacional pelo produto. De maio a agosto de 2005 o Brasil exportou 1,5 milhão de toneladas a mais que em igual período de 2004. “É um crescimento expressivo para o período de safra. Apenas em agosto foram embarcados perto de 1,8 milhão de toneladas”, disse. Nastari acredita, contudo, que o volume que será embarcado durante a entressafra deve permanecer estável em relação à entressafra passada.

Produção deve crescer 68% até 2013

O setor sucroalcooleiro do Brasil vai ter de correr contra o tempo para conseguir ajustar a oferta de cana-de-açúcar à crescente demanda por açúcar e álcool tanto no mercado interno como no internacional. Este é o principal desafio que foi debatido ontem na 5ª Conferência Internacional de Açúcar, Álcool e Energia, promovida pela consultoria Datagro. Plínio Nastari, presidente da Datagro, estima que o Brasil precisará produzir 672 milhões de toneladas de cana até 2013, ante os atuais 400 milhões de toneladas, uma expansão de 68%. “O setor tem de ser rápido porque esta cana deverá ser plantada nos próximos 2 a 3 anos”, disse.

O lado bom é que esta maior demanda deve deixar os preços sustentados por um bom período. “Os fundos já estão vendo este fundamento e por isso continuam aumentando seu saldo comprado na bolsa de Nova York para níveis recordes”, disse.

Apesar do dólar mais baixo ante o real ter anulado parte das margens do setor, Nastari disse que dinheiro não é problema no momento para investir no crescimento da produção. “O setor está financiando seus novos projetos com operações estruturadas sobre recebíveis de contratos de exportação”, disse. O consultor explica que as usinas estão utilizando seus contratos de longo prazo, de vários anos, para financiar projetos e dão os recebíveis de suas exportações como garantia no mercado financeiro.

Cerca de 41 projetos estão previstos para os próximos anos no Centro-Sul dos quais 28 localizados no Estado de São Paulo. Segundo ele, o problema das garantias pedidos pelo setor financeiro para realizar financiamentos ainda é um obstáculo para a concretização destes projetos. “Se os preços continuarem remuneradores no médio prazo, novos projetos deverão surgir, mas mesmo com os novos projetos será difícil atingir a meta de produção para os próximos 5 safras, que pressupõe um crescimento anual em torno de 8%”, acrescenta.

Os 41 projetos de usinas que estão em gestação no Centro-Sul deverão produzir um adicional de 70 milhões de toneladas de cana nos próximos 5 anos. Ao lado de outros 35 milhões de toneladas conseguidos por meio da expansão da produção de unidades já existentes, o Centro-Sul deverá estar com uma produção superior em 105 milhões de toneladas em 2010/11. “Mas este crescimento estimado ainda é insuficiente”, disse o diretor da Única, Antonio de Pádua Rodrigues.

Segundo ele, considerando que o Norte/Nordeste manterá sua produção de cana praticamente estável nos próximo 5 anos – em torno de 55 milhões de toneladas -, basicamente por motivos geográficos que impossibilitam a expansão de área, a produção de cana total do Brasil deverá atingir 2010/11 em torno de 510 milhões de toneladas. “O ideal seria 560 milhões de toneladas”, disse.

A estimativa é de que toda a expansão necessária será feita no Centro-Sul, principalmente em São Paulo, Goiás, Triângulo Mineiro, Paraná e Mato Grosso do Sul. Em São Paulo, este crescimento deverá estar concentrado na região de Araçatuba, Barretos e Presidente Prudente, áreas hoje ocupadas predominantemente com pastagens.

O consultor Plínio Nastari, da Datagro, lembra que hoje, dos 20,4 milhões de hectares agricultáveis, pouco mais de 2 milhões são ocupados com cana, enquanto 10,2 milhões de hectares são utilizados hoje como pastagens. “Muitas vezes estes pastos estão degradados e não totalmente utilizados e poderiam ser plantados com cana e o pecuarista ainda poderia utilizar a palha de cana para silagem de engorda intensiva de bois, feita em espaços menores”, disse.

Este crescimento esperado na área de cana deve ser atingido, segundo Pádua, porque o cenário de demanda para 2010/11 é de um consumo interno de álcool combustível de 22,1 bilhões de litros e exportação de 5,2 bilhões. O Brasil consome internamente cerca de 15 bilhões de litros hoje e exporta 2 bilhões. A expectativa é de que o consumo interno de açúcar seja de 11 milhões de toneladas, ante 8 milhões atualmente, e a exportação atinja 24 milhões de toneladas, ante cerca de 17 milhões de toneladas hoje.

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