Mercado

Preço do álcool despenca e põe em risco ciclo virtuoso

Em meio à euforia do mercado do etanol, o setor sucroalcooleiro começou a fazer as contas e descobriu que o preço atual pode derrubar os investimentos a partir de 2008. A situação preocupa. O preço atual não vai ser suficiente para a expansão dos investimentos no próximo ano. Quem já investiu, tudo bem. Mas quem ainda pretende fazê-lo, vai pensar um pouco, alerta Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).

O preço do álcool hidratado voltou a cair na semana passada, desta vez para o menor nível desde junho de 2005. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o valor caiu para R$ 0,59 o litro. A supersafra de cana, estimada em 420 milhões de toneladas, ampliou a oferta de álcool e a demanda interna e externa está aquém da expectativa. A tendência de crescimento da oferta até o auge da safra (entre julho e agosto) pode piorar a situação para os produtores.

Quem planta está preocupado. Os investimentos em novos canaviais ou na manutenção dos atuais estão comprometidos em 2008, diz José Coral, presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi).

A associação dos usineiros estima que, até 2012, os investimentos em usinas e novos canaviais podem chegar a US$ 17 bilhões. São 86 novas usinas no País que podem ser afetadas e um plano que prevê elevar de 6,3 milhões para 10,3 milhões de hectares de cana.

Para a Unica, o atual problema de preços pode retardar os investimentos em pelo menos duas safras. Os efeitos da baixa rentabilidade do setor ainda não podem ser totalmente mensurados. De acordo com cálculos do setor, o preço do álcool hidratado de R$ 0,59854 por litro (sem impostos), não assegura sequer o custo de produção. Esse valor está abaixo do ponto de equilíbrio para as usinas, que é de R$ 0,80, diz Rodrigues.

DECEPÇÃO

São preços que atingem a capacidade de investimento de toda a cadeia. Diferente de outras cadeias agroindustriais, o setor sucroalcooleiro opera com um modelo fixo de definição de preços, chamado de Consecana. Em abril, o valor do ATR (Açúcar Total Recuperado – a medida que considera a quantidade de açúcares numa tonelada de cana, a partir da qual há o pagamento) estava em R$ 0,32 por quilo de ATR. Em maio, o valor havia caído para R$ 0,26 por quilo.

Multiplicado pelo total de ATR obtida numa tonelada (que é de pelo menos 120 quilos por tonelada), o produtor viu o valor da cana baixar de R$ 38,40 em abril para R$ 31,20 em maio. O chamado ATR médio da safra está em R$ 0,29 o quilo, o que significa uma remuneração de R$ 34,80 por tonelada.

Quem pensou neste mundo baseando-se no preço médio por tonelada no ano passado, de R$ 52, se decepcionou. A atual situação é potencialmente capaz de quebrar um ciclo virtuoso que o setor vive, explica o diretor da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), Fernando Gomes Perri .

NÚMEROS

R$ 0,59

foi o preço médio do litro de álcool hidratado nas usinas de São Paulo na semana passada

R$ 0,80

é o valor considerado pelo setor como de equilíbrio para garantir os custos de produção e assegurar rentabilidade para investimentos

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