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Preço do álcool cai no DF

Com o fim do período de entressafra(1) da cana-de-açúcar, o preço do álcool, que no início do ano chegou a R$ 2,35 o litro no Distrito Federal, finalmente caiu para R$ 1,89 na maioria dos postos de combustíveis. No entanto, substituir a gasolina pelo etanol continua sendo desvantajoso para o consumidor do DF. Assim, os postos não registraram alta na demanda e a redução no preço mal foi notada pelos donos de carros com motor flex, que continuam dando preferência à gasolina.

Como o derivado da cana-de-açúcar proporciona um rendimento do motor 30% inferior àquele oferecido pelo derivado do petróleo, o preço do! litro não pode custar mais do que 70% do valor da gasolina para que sua utilização compense (veja quadro Como calcular). Representantes do mercado apontam a carga tributária como um dos fatores determinantes para que o etanol, festejado por ser um combustível bem menos poluente do que a gasolina, seja vendido a um preço elevado no DF. Outras questões, como distâncias, custos operacionais e falta de políticas públicas também influenciam.

“As distribuidoras passaram o barateamento para nós e o setor começou a repassar para o consumidor. Mas o preço menor é reflexo da nova safra, da nova moagem de cana. Queremos saber como vai ser daqui a seis ou sete meses, quando um novo período de entressafra chegar. O governo deveria aproveitar a fartura para estruturar o setor, organizar a estocagem”, afirma José Carlos Ulhôa, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos do DF (Sinpetro). Segundo ele, as distribuidoras reduziram em valores de R$ 0,35 a R$ 0,40! o preço do litro do álcool vendido aos postos de gasolina. “Caiu na bomba o quanto o setor pôde baixar. De R$ 2,35 para R$ 1,87, R$ 1,88 ou R$ 1,89”, diz.

Ulhôa diz que os revendedores temem ver repetir-se situação igual à do fim do ano passado e início deste, quando, devido à escassez da matéria-prima do álcool causada pela entressafra, os preços do etanol subiram em todo o país. Na ocasião, o governo federal reduziu a mistura de álcool na gasolina de 25% para 20% na tentativa de garantir uma oferta maior do biocombustível. A medida, no entanto, não teve impacto grande sobre o preço final do produto e foi considerada insuficiente pelo mercado.

ICMS

André Rocha, presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool do Estado de Goiás (Sifaeg), diz que os produtores esperam uma atuação mais firme do governo durante a próxima entressafra, como a liberação de crédito para facilitar a estocagem. “Esperamos que o poder público se sensibilize”, afirma.

Para o presidente do Sifaeg, no entanto, esse tipo de política não deve ser o suficiente para aumentar o consumo de etanol no DF. “Enquanto outros estados reduziram a alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Prestação de Serviço) sobre o etanol frente à gasolina, o Distrito Federal continua praticando 25% sobre ambos. Já procuramos a Secretaria de Fazenda e o governo distrital com esse apelo em outras ocasiões. Da forma como está, não tem como o álcool ser competitivo em Brasília”, diz.

André Rocha compara o preço local com o valor do litro em Goiás, onde o álcool custa em média R$ 1,39. “São R$ 0,50 a menos. A diferença é muito grande”, comenta. Ele admite que os preços maiores não têm relação exclusivamente com o imposto mais salgado. “Entram aí outros fatores, como o custo para operar em Brasília, os preços praticados pela distribuição”, diz. Rocha representa o principal mercado fornecedor de álcool combustível para o Distrito Federal — que não cultiva cana-de-açúcar dentro de seus limites — e o segundo maior do país, atrás de São Paulo.

Alísio Vaz, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), diz que a alíquota superior do ICMS contribui para um preço pouco competitivo do álcool no Distrito Federal. Ele diz, entretanto, que deve ser levada em conta também a quantidade maior de empresas de distribuição atuando em Goiás e problemas do estado vizinho com sonegação no mercado de etanol. “É uma questão que deprime artificialmente os preços do álcool em muitos estados”, disse.

O secretário de Fazenda do Distrito Federal, André Clemente, confirmou que a questão de uma alíquota menor do ICMS é discutida há algum tempo com os produtores de Goiás. Ele diz que nenhuma decisão foi tomada a respeito porque o governo do DF “não se convenceu” de que uma taxa menor seria vantajosa para o consumidor. “Não ficou comprovado que isso traria redução do preço na bomba. O preço é um conjunto de vários fatores, inclusive margem de lucro das empresas”, declarou.

A fisioterapeuta Patrícia Montenegro da Silva, 29 anos, ficou feliz quando, há cerca de dois anos, adquiriu um carro flex, porque poderia optar pelo preço mais competitivo. “Eu sempre fazia a conta antes de abastecer”, conta. De janeiro deste ano para cá, entretanto, ela se decepcionou com os preços altos atingidos pelo etanol e faz opção direta pela gasolina. “Subiu tanto que não compensa. O jeito é esperar”, afirma.

1 – Menos produção

É o período em que, por razões de ordem climática, os plantadores de cana-de-açúcar não cultivam a matéria-prima do álcool. A safra começa entre o fim de março e o início de abril, atingindo seu pico em junho. Dezembro marcou o começo da época de entressafra.

Como calcular

Para saber quando é mais vantajoso abastecer com álcool ou gasolina, divida o preço do álcool pelo preço da gasolina num mesmo posto e multiplique o resultado por 100. Se o valor final for inferior a 70, o álcool é mais vantajoso.

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