Preço do álcool cai, mas não para o consumidor
A queda nos preços do álcool desde a entrada da safra da cana-de-açúcar na região Centro-Sul não está chegando ao bolso dos consumidores. Desde fevereiro, o preço do litro do álcool hidratado (colocado diretamente no tanque do veículo) caiu 28%, segundo o Centro de Pesquisas Avançadas em Economia Agrícola (Cepea), da USP. Nas bombas dos postos, a queda chegou, no máximo, a 6,2%, segundo pesquisa semanal da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
As distribuidoras apontam a sonegação como a principal vilã do setor e maior empecilho para o repasse da redução. O porta-voz do Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz, afirma que é impossível as “distribuidoras sérias” reduzirem mais seu preço, pois as empresas já “atuam no vermelho” para enfrentar a concorrência das “sonegadoras”. “As empresas representadas pelo Sindicom têm só 35% do mercado de álcool no País. Ou seja, o preço é ditado pelas outras, que, na maioria dos casos, não pagam corretamente todos os impostos.”
Segundo o Sindicom, pelo menos 1,5 bilhão de litros de álcool hidratado, do total de 5,5 bilhões produzidos pelas usinas, chegam ao mercado sem tributação. “É concorrência desleal.” O preço do litro do álcool pago ao produtor, segundo o Cepea, está hoje na média de R$ 0,62. Com impostos (ICMS e PIS/Cofins) incidentes no Estado de São Paulo, o litro vai a R$ 0,81, chegando a R$ 0,90 com o frete.
O presidente do Sindicato dos Postos Revendedores de Combustíveis do Rio (Sindicomb), José Luiz da Mota, diz que o produto pode chegar à revenda sem a incidência dos tributos. “Existem distribuidoras, ou mesmo atravessadores, que compram diretamente das usinas, sem impostos, e vendem aos postos por R$ 1, enquanto as maiores distribuidoras vendem o mesmo produto por R$ 1,30 ou R$ 1,40.”
Mota concorda que as distribuidoras “sérias” estão impossibilitadas de repassar novas quedas nos preços, por estarem com dificuldade de desovar seus estoques formados na época da entressafra.
