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“Precisamos voltar ao tempo do Atalla”

José Paulo Stupiello, da STAB, faz referência a Jorge Wolney Atalla, ex-presidente do Grupo Atalla e da Copersucar, que ajudou a criar profissionais do setor

A safra 2019/20 no Centro-Sul deverá encerrar com moagem entre 580 a 590 milhões de toneladas de cana. Esse volume está até 80 milhões de toneladas abaixo da capacidade plena de moagem de todas as unidades da região, que é de 660 milhões de toneladas. Qual sua opinião?

José Paulo Stupiello – Nossa perda de produtividade agrícola é muito grande. Reflete a falta de investimento. Aumentou-se o número de cortes, não se faz reformas adequadas dos canaviais.

Essa condição ruim persistirá?

José Paulo Stupiello – Estamos crescendo horizontalmente, e não verticalmente. Tem grupo que não chega a 60 toneladas de cana por hectare. Como sobreviver com isso?

Qual sua opinião sobre o RenovaBio?

José Paulo Stupiello – Há muita expectativa.

Como está a área industrial das unidades produtoras?

José Paulo Stupiello – Falta tecnologia e técnicos com conhecimento. Nosso setor precisa voltar à década de 70. É preciso um cara como o Attala [Jorge Wolney Attala – 1928-2009, que presidiu o Grupo Atalla e a Copersucar, e foi idealizador do Centro de Tecnologia Canavieira].

Tem muita usina açucareira que é hoje como é graças ao Atalla. Ninguém tem a visão dele, com quem trabalhei por dez anos.

Onde?

José Paulo Stupiello – Eu era professor na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, e a Copersucar [então sob o comando de Attala] me contratou para formar um grupo de profissionais. Isso foi no começo dos anos 970. E assim começou.

O senhor foi um dos precursores do setor dentro da Esalq?

José Paulo Stupiello – Na época, a Esalq tinha 235 professores que direta ou indiretamente estavam ligados a agroindústria canavieira. Hoje há poucos.

A seu ver, qual é a tendência das empresas do setor? Serão adquiridas por grupos de fora da área de cana?

José Paulo Stupiello – Engana-se em entrar no setor quem não entende. Cansei de falar para os que quebraram que para não fazer o que fizeram.

Dê um exemplo.

José Paulo Stupiello – Não posso falar [risos]. Uma vez um grupo estava começando no setor e me chamaram no Hotel JP, em Ribeirão Preto. Estavam construindo em outros estados. Eu disse que era um erro, que não havia oficina para prestar assistência. Disse que eles iriam cair nas mãos de picaretas, que iam perder dinheiro, que não era esse o caminho. Queriam fazer 10 usinas simultaneamente.

Em quantas usinas o senhor já prestou serviços?

José Paulo Stupiello – Duzentos e trinta e oito. Comecei como professor da Esalq.

Por quanto tempo o senhor foi professor da Esalq?

José Paulo Stupiello – Por 32 anos. Entre outros, foram meus alunos o Henrique Amorim, criador da Fermentec, e o Luiz Carlos Corrêa Carvalho, o Caio, da Canaplan. Mas o Caio tem um defeito: é santista.

E o senhor?

José Paulo Stupiello – São-paulino. Nasci em 25 de janeiro, dia de aniversário de São Paulo, sou paulistano e torço para o São Paulo.

O senhor pretende parar de trabalhar?

José Paulo Stupiello – Não. Diminui minha condição, não pretendo mais viajar para usinas no exterior. Mas divido meu tempo de consultoria junto a usinas do Brasil.

Com tanta vivência em usinas, o senhor já deve ter presenciado situações de crise. Cite uma delas.

José Paulo Stupiello – Certa vez trabalhava para usina na região de Pirassununga e fui chamado por então diretor estrangeiro de usinas. Ele me disse como queria conduzir a unidade e eu fui incisivo: você não pode perder cana de fornecedores.

O que aconteceu?

José Paulo Stupiello – Fui direto com ele: não pode perder nenhum fornecedor de cana. Pensa que isso aqui [usina] é fábrica de azeitona? Não pode perder. Mas perderam. E boa parte dos fornecedores foi vender para outra usina.

Como deve ser o relacionamento com o fornecedor de cana?

José Paulo Stupiello – É preciso passar a mão na cabeça. Tem que tomar café frio. Eu cansei de tomar. Relacionamento é relacionamento. E não tem nada diferente. Está tudo do mesmo jeito que era antes: para manter relacionamento é preciso passar a mão na cabeça.

O senhor pode dar um exemplo?

José Paulo Stupiello – Sim. Trabalhei na Usina São Manoel [localizada no município São Manuel, no interior paulista] e vi bem de perto esse tipo de relacionamento. Lá, o fornecedor conversava diretamente com os donos. O fornecedor gosta de ser recebido.

José Paulo Stupiello

Data nascimento: 25/1/1935

Local: São Paulo (SP)

PERFIL

Formado em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).

Fez doutorado em Tecnologia do Açúcar e do Álcool-Universidade de São Paulo (USP).

Professor aposentado da Esalq/USP na área de tecnologia do açúcar e álcool.

Atualmente é consultor técnico em usinas de açúcar, destilarias de etanol e aguardente.

É presidente nacional da Sociedade dos Técnicos Açucareiros e Alcooleiros do Brasil (STAB), editor técnico da revista STAB – Açúcar, Álcool e Subprodutos.

É membro Honorário da International Society of Sugar Cane Technologists (ISSCT).

Confira a matéria na edição 310 do JornalCana – Página 36

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