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Potencial para afetar relações comerciais

No rastro das 22,8 milhões de toneladas de soja que o Brasil exportou em 2012 para a China, principal comprador, no valor total de US$ 17 bilhões, foram “transferidos” 50 trilhões de litros de água virtualmente embutidos no produto. O volume representa quase duas vezes a capacidade do reservatório da hidrelétrica de Itaipu. O dado tem como base a pegada hídrica da soja brasileira em grão, calculada pela organização Water Footprint Network (WFN) a partir de estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) e de outros organismos internacionais.

Com referências e padrões comparativos de consenso mundial, como as normas ISO 14.600, a gestão dos recursos hídricos poderá induzir regulações e influenciar as relações comerciais entre os países, como já ocorre com o carbono. Diante dos riscos da escassez, a água “transportada” por commodities entre regiões produtoras e consumidoras, muitas vezes ao custo de impactos ambientais, ganha força nas negociações e há risco de se transformar em barreira comercial.

O Brasil é como o quarto maior exportador de “água virtual”, atrás apenas de Estados Unidos (314 trilhões litros/ano), China (143 trilhões litros/ano) e Índia (125 trilhões litros/ano). No entanto, ao contar apenas o recurso captado dos rios, sem incluir a água existente nas plantas e os efluentes, as importações brasileiras anuais (2,3 trilhões de litros/ano) são superiores às exportações (1,9 trilhões de litros).

No topo do ranking, a atividade que mais participa desse fluxo global é a produção de algodão, seguida pelo setor de produtos industrializados em geral, soja e trigo. O consumo de produtos agrícolas representa 92% da pegada hídrica mundial. Os industrializados correspondem a 4%. O mundo consome 1,7 quatrilhão de litros de água na produção de mercadorias para exportação, com participação de 41% pelo setor industrial.

A China, como país mais populoso do planeta, também possui a maior pegada, consumindo mais de 1,3 quatrilhões de litros de água das várias categorias. Mas, segundo dados da Unesco, os EUA têm o maior consumo per capita. O brasileiro participa com o dobro da pegada dos chineses por habitante. O alto índice nacional se deve, principalmente, à produção agrícola. Em países menos desenvolvidos, o quadro piora devido aos baixos rendimentos no campo associados ao alto consumo hídrico por tonelada de alimentos. A Índia se destaca pelo uso intensivo dos rios, que representa 24% da pegada global da chamada “água azul”, empregada para irrigação principalmente de arroz e cana-de-açúcar. No caso da China, o problema está na “água cinza”, a que dilui poluentes da produção.

A desigualdade no uso da água pode ser acirrada no cenário de mudanças climáticas. Recente relatório da World Meteorological Organization apontou que os países mais vulneráveis a secas graves estão nas terras mais áridas, que desde 1950 aumentaram 2% por década. Na África e Oriente Médio, há risco de os alimentos ficarem mais escassos e caros, em função das mudanças no regime de chuvas e na evaporação das plantas. Sem capacidade de resposta, regiões inteiras se tornam cada vez mais dependentes de ajuda externa, além da constante ameaça de conflitos além das fronteiras. “O custo da inação é alto”, alerta o documento, ao lembrar que a seca também afeta não apenas a produção de alimentos, como fontes de energia e recursos florestais.

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