Com relação às commodities agrícolas, o clima desempenha um papel significativo sobre o lado da oferta. Para um bom desenvolvimento vegetativo, cada cultura depende de um determinado tipo de solo, temperatura e regime de precipitação. Esse é um, e possivelmente o principal motivo, que induz certa vantagem competitiva na produção de certas commodities por diferentes países.
“Padrões climáticos, como La Niña e El Niño, são responsáveis por mudanças nas condições climáticas normais e, portanto, podem afetar a oferta de commodities agrícolas. Claro que cada cultura tem suas particularidades e são afetadas de formas diferentes. Não só isso, mas, dependendo do estágio de desenvolvimento vegetativo da planta, mudanças nos padrões normais podem ser tanto positivas, quanto negativas para seus rendimentos e produção final”, ressalta a hEDGEpoint, que mostra em relatório os fundamentos atuais e os eventos climáticos, seus efeitos e o risco do momento.
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Brasil
A fase de crescimento da cana começa em meados de setembro e vai até março. Durante esta fase, o ideal é ter precipitação abundante, luz solar adequada e umidade do solo. Na época da moagem, pouca precipitação induz maior teor de sacarose, o que costuma acontecer no inverno brasileiro.
No geral, um evento La Niña tende a ser positivo para o Centro-Sul brasileiro. A janela junho-agosto torna-se ainda mais seca, enquanto entre dezembro-fevereiro a precipitação se intensifica, induzindo um maior teor de açúcar da safra atual e impulsionando o desenvolvimento da próxima, respectivamente.
No entanto, também pode tornar o inverno mais rigoroso e aumentar a probabilidade de geadas, resultando em rendimentos mais baixos e aceleração do ritmo de moagem.
Se o período seco se estende para além agosto, podem ocorrer incêndios, afetando também negativamente a produtividade e o ritmo da lavoura. Não só isso, mas se o evento climático for muito intenso, a seca pode comprometer safras futuras.
A combinação de tudo isso aconteceu entre 2020/21 – quando o Brasil colheu os benefícios do primeiro ano do La Niña e produziu 605Mt de cana – e 2021/22, quando geadas, incêndios e estiagem levaram à moagem de apenas 523Mt.
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O El Niño pode levar a um inverno mais úmido – ruim para o ritmo da safra e concentração de sacarose – sua ocorrência costuma impactar negativamente a produção total do adoçante na região.
Além disso, durante a janela mais importante de desenvolvimento da cana (dezembro a fevereiro), a precipitação no Centro-Sul diminui, principalmente no Norte de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, comprometendo a próxima safra. No entanto, as correlações ENSO são menores para a precipitação durante o El Niño, reduzindo seus efeitos esperados.
América Central
O La Niña é responsável por intensificar as chuvas durante a fase de desenvolvimento da cana (junho a setembro) – que, se não forem excessivas, tendem a ser benéficas para a produtividade. No entanto, caso prolongadas, podendo atrasar o início da safra ou até atrapalhar seu ritmo. Além disso, se forem muito intensas, as chuvas podem reduzir a concentração de sacarose, diminuindo a produção final de açúcar.
O El Niño faz o contrário e leva a região a um clima mais quente e seco do que o normal. Entre junho e agosto, se os países não contarem com métodos de irrigação, a cana pode sofrer e não se desenvolver adequadamente.
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Índia
Ambos os padrões climáticos afetam as regiões da Índia de forma diferente. Como os principais estados produtores de açúcar estão localizados ao norte, a análise focou nessa região.
Durante junho-agosto, o La Niña tende a levar a precipitação a níveis ligeiramente mais baixos; no entanto, o padrão tem pouco efeito na região durante setembro-novembro e março-maio. Nesse sentido, muito do seu impacto depende da sua intensidade, podendo trazer benefícios ao tornar o período da moagem (dezembro-fevereiro) mais seco.
O El Niño tende a ir na mesma direção, só que mais forte. Durante a janela de junho a novembro, basicamente toda a janela de desenvolvimento da cana, o padrão torna o clima mais seco – levando a monções abaixo da média e possivelmente comprometendo a produção de açúcar.
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Tailândia
Durante junho-agosto, a principal janela de desenvolvimento da cana, um evento La Niña tende a reduzir a precipitação. No entanto, seu efeito pode ser limitado, pois de setembro a maio pode levar a chuvas acima do normal. Assim, dependendo da intensidade, o La Niña pode reduzir o teor de açúcar e atrapalhar a moagem.
Em oposição a isso, o El Niño traz um clima mais seco que a média na maior parte do ano, exceto no período de dezembro a fevereiro, sendo extremamente preocupante, pois afeta negativamente o desenvolvimento da cana e o ritmo de moagem.
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Europa
Embora ambos os padrões climáticos tenham pouco efeito e correlação, para ambas temperatura e precipitação na região, eles são bastante semelhantes.
De março a agosto, um La Niña ou um El Niño podem ser responsáveis por um leve aumento na precipitação -principalmente na França e na Alemanha. Portanto, pode ser benéfico, pois é exatamente durante o estágio de desenvolvimento da beterraba.
A diferença é que quando a Europa atinge o pico da colheita, de setembro a novembro, enquanto o La Niña pode garantir um clima mais seco do que a média, um El Niño pode levar ao prolongamento das chuvas – dificultando a atividade do agricultor.