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“Pool” pode aumentar energia em até 50%

A introdução do “pool” de compras de energia no setor elétrico brasileiro deve aumentar a tarifa de energia de US$ 20 (R$ 58,60) para até US$ 30 (R$ 87,90) o megawatt/hora (MW/h), um incremento de 50%. Já o preço médio projetado pelo banco americano Morgan Stanley é de US$ 25 o MW/h, equivalentes R$ 73,25 MWh – aumento de 25% em relação ao preço médio atual considerando o fechamento do câmbio de quinta-feira.

Os números fazem parte de um relatório com o título “Lições da Escandinávia”, elaborado pelos analistas David Souccar e Emmanuel Turpin, divulgado na semana passada.

O relatório mostra o impacto nos preços da desregulamentação do setor de energia nos países nórdicos, que tem similaridade com o modelo proposto pela ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Ali, Suécia, Noruega, Finlândia, Dinamarca e Islândia formaram em 1993 um pool onde 52% da energia transacionada tem base hidráulica. Entretanto, ao contrário do Brasil, o mercado lá é competitivo, com alta volatilidade de preços da energia, que em parte é comercializada no atacado (mercado spot).

As principais conclusões do estudo, segundo o analista David Souccar, são de que os preços dos contratos de longo prazo no Brasil – tomando como base as tarifas de 13 geradoras – devem ser maiores do que os praticados atualmente. E salienta que eles devem flutuar ao longo do tempo, mas com volatilidade menor do que a do pool nórdico “já que lá parte das vendas é feita no mercado spot e no Brasil quase que 100% das vendas serão feitas em contratos de médio e longo prazo”, explica o analista.

No relatório, o Morgan Stanley comparou a energia do pool nórdico com as perspectivas de preço no Brasil considerando as premissas do novo modelo do setor aprovado na Câmara e que ainda não foi votado no Senado. Os analistas mostram que em 2003 os preços médios no norte da Europa ficaram em torno de US$ 47,3/MWh. Mas a previsão é de que vão cair para uma faixa entre US$ 32 e U$ 38/MWh em 2004, assumindo a perspectiva de normalização dos reservatórios naquela região.

“O que se observa num mercado competitivo como o pool nórdico é que a eletricidade não é diferente de outras commodities e o preço tende a flutuar de acordo com a oferta e a demanda. Quando o mercado está em equilíbrio, os produtores vendem a um preço que cubra os custos operacionais mais a remuneração do custo de capital, que no Brasil eu estimo em US$ 30/MWh”, explica Souccar. Ele acrescenta que esta estimativa de preço leva em conta o custo para construir uma usina hidrelétrica e uma taxa de retorno que cubra o risco Brasil.

Para se ter uma idéia da volatilidade de preços nos países nórdicos, um ano com mais ou menos chuvas pode resultar em um aumento ou redução de 40 terawatts/hora (TW/h) na produção de energia, o equivalente a cerca de 20% da geração hidráulica em um ano normal. E isso se reflete nos preços. Entre 1997 e 2000, o preço do pool nos países nórdicos ficou em torno de US$ 13,3/MWh, subiu 81,3% em 2001, mais 15,9% em 2002, chegando a estratosféricos US$ 120,3/MWh em janeiro de 2003. E caindo para a média de US$ 50,7/MWh nos últimos 12 meses.

Entretanto, essa volatilidade poderia ser registrada em menor grau no Brasil considerando a maior participação hidrelétrica na matriz energética, de 91%. O custo médio aqui deve ser menor do que nos países nórdicos também porque os preços tendem a fechar próximos ao custo da energia hidráulica, mais barata do que as demais.

Outra diferença entre os dois modelos, segundo o Morgan Stanley, está no fato de grande parte das vendas de energia no pool a ser instalado aqui ser baseada em contratos de longo prazo. O que não significa que a volatilidade dos preços possa ser completamente eliminada, ressaltam os analistas. “No Nordpool, os preços flutuam de acordo com a oferta e demanda e as variações são passadas diretamente para o consumidor. A vantagem é que em épocas de alta nos preços, o consumidor usa a eletricidade de forma mais racional, o que evita futuros racionamentos”, explica Souccar.

Já no Brasil, lembra o analista, o governo vai reduzir a volatilidade por meio de contratos de médio e longo prazos. “O perigo é que os preços ao consumidor nem sempre refletirão o risco de déficit, que varia de acordo com a hidrologia. Deste modo, a idéia por trás da Empresa de Planejamento Energético é tentar antecipar futuras faltas ou sobras de energia”, observa Souccar.

O relatório do Morgan Stanley também chama a atenção para as incertezas com relação à estratégia de preços que será adotada pela Eletrobrás, que controla 40% do mercado e “cuja influência no preço final não pode ser subestimada.”

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