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Poluição da matriz energética e seca no Sul

Não obstante, o Brasil ter um potencial – o maior do mundo – não utilizado para geração hídrica acima dos 130 mil MegaWatts (MW); mais 42 mil MW no setor sucroalcooleiro e um potencial eólico que passa de 140 mil MW, as nossas autoridades, resolveram abdicar de matrizes energéticas limpas, trocando-as por outras de origem fóssil, extremamente poluentes, não renováveis e muito mais caras. Um total contrassenso!

Para que não fiquem dúvidas em relação às minhas afirmações, vamos à análise dos números oficiais da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel, www.aneel.gov.br).

Segundo a Aneel, em 14 de abril do corrente ano, o parque gerador brasileiro tinha uma potência outorgada de 122.598.248 kiloWatts (kW) e potência fiscalizada de 117.462.871kW.

Notas: a) De acordo a Aneel, a “potência outorgada” é igual à considerada no Ato de Outorga e “potência fiscalizada” é igual à considerada a partir da operação comercial da primeira unidade geradora, ou seja, a potência que efetivamente é colocada à disposição dos consumidores; b) Para facilitar a leitura dos números que doravante serão apresentados, fiz a conversão para MegaWatts (MW); e c) Legenda: UHE – Usina Hidrelétrica de Energia; UTE – Usina Termelétrica de Energia; PCH – Pequena Central Hidrelétrica; UTN – Usina Termonuclear; EOL – Central Geradora Eoliolétrica; CGH – Central; SOL – Central Geradora Solar Fotovoltaica.

Para que se tenha uma ideia de como as usinas termelétricas movidas a combustível fóssil foram tomando espaço, em 2006, a potência fiscalizada era de 94,202 mil MW, assim distribuídos: 1) UHE, 70, 385 mil, 74,72%; 2) UTE, 20,317 mil, 21,57%; 3) UTN, 2,007 mil, 2,13%; 4) PCH, 1,361 mil, 1,45%; 5) CGH, 102,256, 0,11%; 6) EOL, 28,550, 0,03%; 7) SOL, 0,02, praticamente 0,0%.

Em abril de 2012, como resultado de uma política equivocada direcionada para termelétricas com uso de combustíveis fosseis, como detalharei mais adiante, o panorama mudou bastante. De positivo, podemos citar o grande avanço das PCHs e, principalmente da energia eólica que deu um grande salto, como veremos a seguir, mas que continuam com uma pequena participação no total.

Total da potência fiscalizada em 14/04/2012: 117,462 mil MW, sendo: 1) UHE, 78,456 mil, 66,79%; 2) UTE, 31,420 mil, 26,75%; 3) PCH, 3,889 mil, 3,31%; 4) UTN, 2,007 mil, 1,71%; 5) EOL, 1,471 mil; 1,25%; 6) CGH, 217,00, 0,19%; 7) SOL, 1,142, 0,0013%.

Por aí vemos que as UHEs que em 2006 tinham uma participação de 74,72% na energia fiscalizada, em 2012 passaram para 66,79%, uma perda de 7,92%, enquanto as UTEs passaram de 21,57% para 26,75%, um aumento de 5,18%.

Ledo engano de quem pensar que essa maior participação das UTEs na matriz energética foi em função da biomassa. Se observarmos os números da Aneel, que, diga-se de passagem, muito bem detalhados, vemos que os combustíveis fosseis têm uma participação de 66,55% (20,910 mil MW), a biomassa, 28,66% (9,006 mil MW), sendo os restantes 1,503 mil MW (4,79%) distribuídos entre outras matrizes. Do total referente à biomassa, o bagaço da cana-de-açúcar entra com 7,271 mil MW (80,74%). Se fizermos as contas, vamos concluir que o bagaço da cana participa somente com 6,19% como matriz de geração de energia, quando poderia ser o triplo.

Não é minha intenção dizer que a biomassa de cana e a energia eólica devam substituir as demais matrizes, mas devem ser cada vez mais incentivadas. Como todos sabem, a geração com a utilização do bagaço é complementar à geração hídrica, visto que nos meses que se está moendo a cana – e gerando energia – é o pe ríodo quando os maiores reservatórios normalmente tendem a baixar.

O exemplo está aí, cristalino; já em abril, os reservatórios da região Sul estão com apenas 29,88% (20/04) de capacidade que, segundo o Operador Nacional de Energia do Sistema (ONS) é o mais baixo para o período desde o ano 2000. Segundo o jornal Valor (18/04) “O ONS mandou ligar nove térmicas a gás e a carvão no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Ao todo, elas estão gerando 1.320 MW médios, três vezes mais do que no mesmo período do ano passado, quando os reservatórios do Sul estavam com 91,3% de armazenamento”. Energia poluente e cara que poderia ser substituída por outras fontes limpas e renováveis.

Essa situação é um aviso contundente às nossas autoridades de que não podemos, em hipótese alguma, abdicar do fabuloso potencial hídrico, hoje concentrado majoritariamente na região amazônica com seus caudalosos rios. Usar matrizes limpas, renováveis e baratas para geração de energia não é uma questão partidária, e sim de bom-senso.

* Humberto Viana Guimarães é engenheiro civil e consultor, formado pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em materiais explosivos, estruturas de concreto, geração de energia e saneamento

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