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Política inflacionária brasileira afeta preço global do açúcar

A defasagem entre o preço da gasolina no Brasil e as cotações internacionais impactou os resultados da Petrobras e levou a companhia a registrar no segundo trimestre o maior prejuízo em 13 anos: R$ 1,3 bilhão. A política do governo de manter os preços internos da gasolina estagnados desde 2007 é um esforço para conter a inflação, mas está repercutindo para além do mercado de combustíveis.

O preço artificialmente baixo da gasolina brasileira está interferindo na formação dos preços internacionais do açúcar, alerta o economista britânico James Fry, fundador da consultoria em commodities LMC International.

Fry fez a afirmação em sua palestra no Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido nesta segunda-feira (6) em São Paulo pela Associação Brasileira de Agribusiness (Abag). Ex-professor da Universidade de Oxford, o consultor mostrou que o preço das commodities agrícolas passou a estar altamente vinculado ao do petróleo a partir de 2007, com o crescimento na adoção de biocombustíveis no mundo.

“No passado, era possível prever se os preços iam subir ou cair apenas olhando a tendência do estoque mundial, mas a partir de 2007 a faixa de preço desses produtos passou a ser determinada pelo preço do petróleo”, diz Fry. O nível de estoque passou, segundo o consultor, a definir apenas em que ponto dessa faixa definida pelo preço do petróleo estará o preço do óleo de palma, da soja e do milho, por exemplo.

A lógica é que, quando os óleos vegetais sobem muito de preço, o biodiesel feito a partir deles perde mercado para o diesel de petróleo, reduzindo a demanda e, consequentemente, os preços. O mesmo vale para quedas muito grandes dos preços agrícolas, descoladas do preço do petróleo: os óleos vegetais ficam mais competitivos que o petróleo e a demanda sobe, até que se encontre o equilíbrio. A mesma relação vale para o milho, que é a fonte de etanol dos Estados Unidos e maior substituto da gasolina.

A única exceção é o açúcar, apesar de a cana-de-açúcar ser proporcionalmente a mais usada para a produção de biocombustíveis. “O Brasil faz o preço mundial do açúcar, logo a política de preço da gasolina do Brasil define o preço do mercado global de açúcar”, explica Fry. Isso ocorre porque, no Brasil, a cana não muda de destinação naturalmente conforme os preços do mercado, conforme a competitividade do etanol em relação ao preço do petróleo. Ou seja, ao limitar o preço da gasolina, o Brasil limita também o preço internacional do açúcar, e não só o preço interno do etanol.

O preço da gasolina cria um teto fixo para o etanol. E diferentemente do preço do combustível fóssil, os custos de produção do biocombustível não ficaram estagnados nos últimos seis anos. “O que estamos fazendo é a desconstrução do futuro”, disse nessa terça-feira (7) o consultor Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro, na abertura do Congresso Brasileiro de Marketing Rural e Agronegócio, em São Paulo. “O etanol hidratado dá margem zero e o etanol anidro está uma porcaria”, critica ele.

Um ponto importante para entender a tese de Fry é que a demanda dos principais mercados de biodiesel (União Europeia e EUA) e de etanol (EUA) do mundo, a demanda por biocombustíveis oscila mensalmente. Lá, os distribuidores de combustível podem comprar mais ou menos biodiesel a cada mês para misturar no diesel, desde que, no final do ano, um determinado percentual de suas vendas seja de biodiesel. O mesmo vale para o etanol misturado à gasolina. No Brasil, a obrigatoriedade de mistura de biodiesel e etanol anidro aos combustíveis fósseis é fixa e todo o diesel e gasolina vendidos no País contêm o mesmo teor de biocombustíveis.

Sou Agro

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