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Plantio direto avança na palhada de cana crua

(Informativo Coopercitrus) – O Estado de São Paulo e parte do Triângulo Mineiro, devido a fatores climáticos e de logística, tornam-se juntos a principal área sucroalcooleira do mundo.

Este ano, segundo previsões do governo americano (USDA-Departamento de Agricultura dos EUA), o Brasil deve se tornar o maior produtor mundial de soja, ultrapassando o próprio EUA. Para se alcançar estes números, a agricultura contou com a técnica do plantio direto, que através da rotação de culturas estão sendo obtidos resultados bastante significativos, inclusive com a realização de mais de uma safra em um mesmo ano agrícola, reduzindo custos, ganhando produtividade e melhorando a preservação do meio ambiente.

Sabendo-se que o Estado de São Paulo possui condições favoráveis para produção de cana e soja, com a adoção de técnicas adequadas, teremos um enorme potencial produtivo de soja em áreas de renovação de cana que não vem sendo explorado, tampouco aproveitado em sua totalidade.

A cana de açúcar é uma cultura com ciclo médio de 5 anos, tendo o primeiro corte com 18 meses na maioria das regiões. Tem-se então, que a cada 5 anos, praticamente 20% de toda área de plantio de cana, estaria sendo reformada. Sendo assim, haveria a disponibilidade de uma enorme área que estaria em “pousio” (parada) desde a colheita da cana até o final de fevereiro e início de março, esperando o novo plantio da cana, que poderia estar sendo explorada, trazendo benefícios econômicos e culturais para a área. Procurando melhorias através da rotação de culturas, o Plantio Direto em palhada de cana surge como uma excelente opção para redução de custos e ganho de produtividade tanto da soja utilizada na rotação como para a cultura “principal” da cana de açúcar.

Segundo Victor Abou Nehmi Filho, consultor da FNP Consultoria e Comércio, as perspectivas para os próximos 10 anos do setor sucroalcooleiro e de grãos são bastante otimistas devido a algumas mudanças de paradigmas que estão ocorrendo no mundo moderno:

– A chamada Agricultura Energética (utilização de biocombustíveis), que vem sofrendo uma crescente demanda no chamado mundo desenvolvido (UE, EUA, Japão), onde o preço do álcool brasileiro não teria concorrentes se não fossem o protecionismo e as barreiras comerciais como: subsídios, tarifas, taxas, cotas de importação, etc., aplicados por estes países aos produtos brasileiros. Como exemplo temos os EUA, produzindo álcool de milho com um custo muito superior ao nosso;

– A Crescente demanda por alimentos em nações que estão se tornando grandes consumidores mundiais como a China e a ex-URSS, onde qualquer pequena mudança na renda per capita acarreta uma enorme corrida ao consumo; consumo este que é verificado primeiramente na área alimentícia, principalmente no aumento de consumo de proteína animal, que por sua vez reflete em aumento direto na demanda por milho e soja;

– E a redução de subsídios programada para 2006 pela O.M.C (Organização Mundial do Comércio) que apesar de ainda bastante polêmica deve trazer mudanças sobre os subsídios utilizados na agricultura do chamado primeiro mundo, também incentivando de certa forma nossa agricultura.

Da safra de 03/04 para 04/05 prevê-se um crescimento de apenas 4 % enquanto que para os próximos dez anos (até a safra de 13/14) acredita-se num aumento de área de 33%, saltando de 5,213 milhões de hectares da safra atual para uma área plantada de 7,245 milhões de hectares na safra de 2013/14. Neste crescimento de área e conseqüente aumento de produção, verifica-se que a produção de açúcar deve crescer em torno de 25%, saltando de 24,023 milhões de toneladas na safra 03/04 para 30,199 milhões de toneladas na safra de 2013/14. Já a produção de álcool terá um aumento mais significativo saltando de 13.592 milhões de litros na safra 2003/04 para 27.143 milhões de litros na safra 2013/2014, um crescimento próximo de 80 %.

Analisando desta forma a médio e longo prazo o mercado mundial, e considerando que temos parte desta área de reforma de canaviais disponíveis a serem rotacionadas com soja, acredita-se num rápido crescimento das áreas de grãos (soja) no Estado de São Paulo. Os possíveis problemas existentes, como falta de tempo para implantação e colheita da cultura (soja), ou dificuldade de se plantar em áreas de colheita mecanizada de cana crua, já estão sendo superados por alguns produtores que vêm utilizando com sucesso a técnica do plantio direto na palhada de cana-de-açúcar.

Como exemplo do êxito da utilização desta técnica, temos o Engenheiro Agrônomo e produtor de soja Marcelo de Felício (Pitangueiras – São Paulo) que vem realizando o plantio direto de soja em áreas de colheita de cana crua, da seguinte forma:

O início do sucesso em se conseguir altas produtividades de soja na utilização do plantio direto começa com a escolha da variedade a ser plantada e análise de solos, que deve ser realizada no ano anterior ao plantio. Constatada a necessidade de calagem, deve-se realizar o parcelamento da mesma, aplicando-se a primeira dose (50% da necessidade) no ano anterior ao da rotação. Após a realização do corte da cana de açúcar, é feita a aplicação da segunda dose do calcário (50% da necessidade).

Realizada a calagem, deve-se esperar o tamanho ideal da rebrota da cana em torno de 70 cm ou 45 dias (variando de acordo com as precipitações pluviométricas) para o início da dessecação.

O plantio é realizado de maneira em que a linha de soja fique posicionada com um ângulo de 45° em relação à linha de cana, para se obter uma melhor germinação da soja (evitando sobreposição das linhas).

Ao longo do desenvolvimento da cultura, o principal foco de tratamento passa a ser o controle de pragas. Pelo fato do plantio ser realizado em áreas de reforma de canaviais, não tem ocorrido grandes problemas com doenças devido a pouca presença de fonte de inóculo por se plantar na mesma área, uma única vez a cada 5 anos.

Devido a palhada remanescente da cana, ocorre um melhor deslizamento da plataforma da colheitadeira evitando o problema de impurezas junto à soja. Sendo assim, temos na opção do plantio direto em palhada de cana de açúcar uma excelente alternativa ao produtor para realização da rotação de culturas, com vantagens econômicas e culturais.

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