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Plantar rende mais que arrendar terras

Representante dos plantadores de cana recomenda a donos de terras que cultivem lavouras. “Em vez de vender ou arrendar terra aos usineiros, os produtores rurais com propriedades em novas áreas canavieiras deveriam produzir cana-de-açúcar”. Este é o recado que Manoel Ortolan, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), tem dado aos potenciais fornecedores de matéria-prima às novas usinas e destilarias que surgem no País.

“O setor sucroalcooleiro vem crescendo rápido demais e o produtor das novas regiões, como não conhece cana, acaba vendendo ou arrendando suas terras às usinas”, diz Ortolan. “Queremos que eles se organizem em associações ou cooperativas e se transformem em fornecedores”, acrescenta.

O principal argumento de Ortolan para que os ruralistas tornem-se fornecedores de cana é a renda maior que eles podem garantir se comparada à venda ou arrendamento da terra.

Ortolan informa que nas novas áreas canavieiras, como no oeste de São Paulo ou Minas Gerais, as usinas pagam anualmente, em média, o equivalente a 35 e 40 toneladas de cana, com 109 quilos de Açúcar Total Recuperado (ATR), por alqueire. Com o preço da cana em R$ 55,00 por tonelada, Geraldo Magela Andrade Silva, assessor técnico da Orplana, calcula que, nessas regiões, o arrendamento da terra para usinas rende em média R$ 1.660,00 líquidos por alqueire por ano.

Já na região de Ribeirão Preto, onde não há mais terras disponíveis para novos canaviais, paga-se pelo arrendamento anual, em média, por alqueire, 60 toneladas de cana, com 122 quilos de ATR, o que garante ao proprietário R$ 2.580,00 por alqueire, 55,42% a mais do que nas novas regiões canavieiras. (O alqueire paulista, equivalente a 2,42 hectares, é a medida de área usada pelo setor para arrendamento ou compra e venda de terras.)

Segundo cálculos da Orplana, se o dono das terras optar por produzir cana, em vez de arrendar, pode ganhar mais de R$ 5 mil por alqueire, ou seja 200% mais do que se arrendar na região de Araçatuba e quase 100% mais do que se arrendar na região de Ribeirão Preto, onde se localizam as mais valiosas terras do País. “Ressalve-se que os cálculos valem para esta safra, em que a qualidade e os preços da matéria-prima (R$ 55,00 por tonelada) estão acima da média histórica”, afirma Ortolan.

O engenheiro agrônomo Gustavo Schiavinato Hildebrand, produtor de cana e fornecedor com terras em Leme (SP), concorda com os cálculos da Orplana. Ele calcula que um fornecedor pode tirar líquidos, em média, R$ 5.080,00 por ano por alqueire. “O ganho depende da região e dos custos de produção”, acrescenta o agrônomo Carlos Alberto França Ribeiro, doutor em açúcar e álcool.

Ortolan faz palestras pelas novas regiões canavieiras para incentivar os proprietários de terras a produzirem cana. “Procurem as associações, que têm agrônomos, advogados e economistas aptos a dar assessoria técnica e financeira para formar fornecedores de cana. No mínimo, vocês terão chances de arrendar às usinas por um preço melhor”, disse num encontro com fazendeiros ocorrido na última sexta-feira, em Sertãozinho (SP), durante a Fenasucro & Agrocana 2006.

Ortolan diz que, quando o proprietário de terra torna-se fornecedor de cana, os benefícios sociais e econômicos são maiores. “Movimenta-se a economia local e se pulveriza a renda no campo”, afirma.

“É louvável a filosofia de Ortolan – em que se pese o pensamento oposto de outros usineiros -, porque precisamos fortalecer toda a cadeia produtiva do setor”, elogia o empresário Maurílio Biagi Filho.

“Sempre estimulamos o fornecedor de cana”, diz Biagi, lembrando que a Usina Santa Elisa, de Sertãozinho (SP), que comemora 70 anos, chegou a ter quase 400 fornecedores. Ele recorda ainda que a Cevasa – criada em 2000 e cujo controle foi vendido à Cargill – foi implantada a pedido de agricultores, fornecedores e acionistas da destilaria de Patrocínio Paulista (SP). Um terço das ações da empresa continuam em mãos dos agora sócios da Cargill.

A Usina Moema, de Orindiúva (SP), já fez ou está fazendo sete novas unidades. Acionista da Moema, Biagi diz que “sempre convidamos os produtores locais a participar do negócio, mas muitos preferem arrendar a terra”. Além da Moema, usinas como as paulistas Barra Grande e São José, além das mineiras Iturama e Campo Florido, entre outras, têm optado por parcerias com os fornecedores.

É compreensível a opção pelo arrendamento, já que, para ser fornecedor de cana, é preciso preparar o solo, plantar as mudas, promover tratos nos canaviais, cortar a cana e transportá-la até as usinas.

A opção pelo arrendamento foi feita, por exemplo, por um grande arrendatário de terras à Santa Elisa, com 1,5 mil alqueires em Pontal (SP). “O preço da cana está excelente e o dinheiro entra em dia. Para que vou me arriscar a fornecer matéria-prima?”, questiona o dono de outras fazendas e outros negócios. Só com a fazenda em Pontal ele receberá este ano mais de R$ 7,5 milhões.

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