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Planejamento deve pautar as ações para driblar instabilidade do mercado na safra 2022/23

A tendência da próxima temporada é apresentar indicadores modestos

Planejamento deve pautar as ações para driblar instabilidade do mercado na safra 2022/23

Num cenário onde a expectativa das usinas aponta a próxima safra, como de recuperação, a depender da estabilidade climática; a demanda de combustível ainda abaixo de índices apresentados em 2019, e a tendência de elevação das taxas de juros, dando o tom do mercado financeiro, a palavra cautela deve ser uma das mais enunciadas pelos representantes do setor bioenergético ao olhar para a safra 2022/23.

O assunto foi pauta do webinar da quarta-feira, dia 17, promovido pelo JornalCana, com o tema: “Mercado Bioenergético Safra 21/22 – Perspectivas de Produção, Precificação e de Capitalização das Usinas”. Sob a condução do jornalista Alessandro Reis, do JornalCana, participaram do encontro: Nilceu Piffer Cardozo, consultor associado da Canaplan; João Chierighini, consultor de mercado de combustíveis e Manoel Pereira de Queiroz, superintendente de agronegócio do Banco Alfa de Investimentos.

Para Nilceu Cardoso, da Canaplan, a safra 2021/22 já estava desenhada que haveria uma queda. “Início conturbado, precipitação abaixo na região Centro-Sul. Sem precedentes nos últimos 10 anos (882 mm), quando a média é de 1.300/1.400 mm”, explicou, guardando uma grande semelhança com a safra 2011/12, também marcada por geadas e severa restrição hídrica. Além disso, a atual safra ainda teve como agravante um verão menos chuvoso, quantidade de incêndios bem mais intensa e ainda o atraso no retorno das chuvas no final da primavera.

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Nilceu Cardozo

“Diante disso, deveremos ter uma redução na produção de açúcar na ordem de 7,5 milhões de toneladas, um número bem significativo, em relação aos 38,5 produzidos no ano anterior”, disse.

Segundo Cardoso, a 2022/23, que ele denomina de a safra da incerteza, deve carregar toda essa herança de 2021/22. Embora já seja possível verificar uma melhora parcial em relação às precipitações. Cardoso também chama a atenção para um processo de redução da área de cultivo. Ele acredita que o teto da próxima safra deverá ser baixo.

“Será uma safra onde certamente teremos que plantar mais, a área de muda deverá aumentar, a de colheita deve se estabilizar e a idade média também deverá apresentar um leve aumento”. Com isso, ele estima três possíveis cenários: se repetirmos o que aconteceu em 2012, com chuvas acima da média, teremos uma safra de recuperação com um teto estimado entre 535 a 540 M t; se as chuvas forem normais, teremos uma safra da estagnação e se voltarmos a termos uma seca intensa, teremos a safra da depressão, com um produção abaixo de 515 M/t”, afirmou.

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O consultor João Chierighini destacou o aumento da participação do etanol de milho na composição desta safra, que deve apresentar um ATR de 75 milhões de toneladas, bem abaixo do recorde alcançado no ano passado e abaixo da média dos últimos dez anos.

“O etanol de milho aumentou a participação na produção, e vem crescendo. Ele tem um papel bastante positivo. Não é um concorrente da cana e sim complementar. A sua participação diminui as incertezas de fornecimento e ajuda a regular o mercado evitando solavanco de preços. Essa participação, hoje de 8,5% e com tendência crescente, tende a minimizar essa questão”, explica.

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João Chierighini

Chierighini vê uma tendência de queda na demanda do etanol anidro na região Centro-Sul. “Embora estejamos vivendo um período de recuperação, após a “guerra sem bomba”, que foi o período de isolamento social por conta da covid-19. Com base no índice de circulação nas rodovias, estamos num patamar 7% abaixo em comparação com 2019. No mercado americano, a demanda de gasolina voltou aos níveis pré-crise. Porém, os veículos elétricos e híbridos estão numa crescente. Por sermos dependentes da importação de gasolina, não temos como definir o preço dos combustíveis internamente, pois dependemos do preço internacional, que alcançou um recorde histórico em novembro de 2021”, elucidou.

Segundo Chierighini a gasolina da Petrobrás ainda tem uma defasagem de 7% em relação aos preços internacionais. “O impacto dos preços da gasolina C e do hidratado nas bombas sobre a demanda de combustíveis em 2020 foi mascarado pela retomada da atividade econômica. O novo ponto de equilíbrio entre oferta e demanda, ainda está sendo construído pelo mercado. Os preços dos combustíveis para 2022, embora estejam em um novo patamar, deverão ficar ligeiramente abaixo dos praticados nos últimos meses de 2021”, afirmou.

Cautela nos investimentos

No quesito capitalização, Manoel Pereira de Queiroz, do Banco Alfa, avalia que o setor vai indo bem. “Os cenários de preços estão compensando, então as empresas estão com caixa. Os investimentos têm sido mais qualitativos. O cenário é positivo para que os caixas da empresa continuem altos”.

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Manoel Pereira de Queiroz

O mercado de capitais, também tem uma tendência de crescimento, mas com restrições. Segundo Queiroz, o crescimento do mercado de capitais saiu de 122.238 bilhões em 2015 para 449.333 bilhões em 2021. Em parte, se deve à redução da taxa de juros.

“As empresas estão procurando o mercado. Fusões e aquisições devem ser reduzidas no próximo ano, em virtude da volatilidade”, comentou.

No cenário macroeconômico, a elevação da taxa de juros, para tentar conter o avanço da inflação, faz com o investidor migre de um ativo de maior risco, para um de risco menor. “Sim, as empresas vão gerar caixa, mas ainda não está na hora de se fazer grandes investimentos, ou dar passos muito largos. O ideal é que as empresas permaneçam fazendo seus investimentos mandatórios, renovando canavial, cuidando da produção, mas que evitem de certa forma dar passos muito longos, em grandes investimentos”, afirma Queiroz.

Assista ao webinar completo: