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Petróleo não basta mais às economias árabes

Os países árabes ricos em petróleo tiveram um ano favorável em 2003, mas estão fragilizados. Segundo economistas especializados em Oriente Médio, o ambiente econômico e financeiro da região atingiu o ponto mais baixo de sua história recente, com desemprego alto e investimentos em queda.

Entre os fatores citados como responsáveis por essa situação estão a Guerra do Iraque, a violência entre israelenses e palestinos, modelos arcaicos de governo e economia, burocracia e corrupção. Há dados, porém, que sugerem que a Guerra do Iraque atingiu menos a região do que se temia. Com o preço do barril de petróleo entre US$ 22 e US$ 28 em 2003, os exportadores tiveram altas de até 30% em sua receita com a commodity.

O turismo cresceu 20% no Egito no ano passado, em relação a 2002, apesar de ser prejudicado há anos pela violência na região. Muitas das previsões catastróficas em relação à guerra não se concretizaram, mas o medo do terrorismo e o clima de guerra e incerteza não ajudam a economia. Além disso, outras expectativas pessimistas se realizaram – como o fim do petróleo barato do Iraque para Jordânia e Síria, e provavelmente, já que os dados de 2003 ainda não estão disponíveis, queda de investimentos.

O desemprego é, em média de 15% – mais alto entre os jovens. A renda real encolheu para a maioria dos árabes nos últimos anos. Com o crescimento da população, está se tornando cada vez mais difícil manter os generosos benefícios sociais que países ricos como Arábia Saudita e Kuait distribuíam para manter a estabilidade.

“As coisas estão piores do que em qualquer outra época de que possamos nos lembrar”, disse o professor de economia Alan Richards, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. Ele foi consultor do governo americano e da ONU para o Oriente Médio. O PIB per capita da Arábia Saudita, por exemplo, era de US$ 27 mil na década de 80 e agora é de US$ 6 mil, segundo Paul Sullivan, professor de economia na National Defense University, de Washington.

A receita com petróleo caiu entre 60% e 70% nesse período, segundo Sullivan. O preço do petróleo subiu no ano passado, mas tende a cair com a desvalorização da moeda americana, porque são estabelecidos em dólares. Além disso, os preços já estão mais baixos que na década de 80. Segundo Sullivan, o preço do barril naquela época equivaleria a US$ 30 hoje.

A situação tem uma implicação indireta com o terrorismo em todo o mundo. Jovens árabes, alvo do recrutamento de grupos terroristas, são os mais atingidos pela deterioração econômica de seus países.

A educação tradicional os deixa pouco preparados para o mercado de trabalho moderno. Nos países ricos do golfo Pérsico, o seguro-desemprego generoso e, vestígio de tempos melhores, a antiga abundância de cargos públicos fazem com que eles não estejam dispostos a aceitar empregos que exigem baixa qualificação. E muitos não têm condição ou motivação para ocupar vagas no setor privado.

O dado oficial de desemprego na Arábia Saudita é 9,6%, mas especialistas o estimam em até 30%. A guerra e a violência levaram o desemprego a superar 50% no Iraque e nos territórios palestinos. No Iêmen, a taxa é de 35% e mais alta entre aqueles com diploma universitário. No Egito, 1,25 milhão de jovens se registraram num programa do governo que prevê a criação de 150 mil empregos, apesar de as inscrições serem limitadas àqueles que terminaram a universidade antes de 2001. A expectativa é que o governo egípcio não vá conseguir criar todas essas vagas.

O diretor de pesquisa do Centro Egípcio de Estudos Econômicos, Ahmed Galal, disse recentemente que o Egito precisa criar 638 mil empregos por ano nesta década. Nos anos 90, quando a situação econômica era melhor, o país criava 435 mil vagas por ano.

Para analistas, investidores desistem de aplicar recursos na região devido à corrupção, impostos altos, regras vagas e que mudam com freqüência, legislação arcaica, falta de proteção à propriedade intelectual e monopólios estatais.

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