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Petróleo caro "blinda" uso de etanol de milho nos EUA

Em tempos de preços altos do petróleo, usar um percentual de etanol na gasolina representa um bom negócio. E é por isso que, a despeito de toda a avalanche de críticas que recai sobre o uso de milho para produção do biocombustível, esse mercado nos Estados Unidos deve seguir firme.

É o que diz Bruce Babcock, diretor-executivo do Centro para a Agricultura e Desenvolvimento (CARD, na sigla em inglês) da Universidade de Iowa. Posicionado no “coração” do cinturão do milho americano, o especialista acredita que a robustez do mercado de etanol se estenderá ao Brasil e a qualquer outro lugar do mundo onde o bicombustível for produzido. “Basta dizer que continuará havendo uma forte demanda por etanol, não importa onde for produzido, enquanto o preço do petróleo continuar em alta”, completa.

No curto prazo, acrescenta Babcock, a força do mercado de etanol nos Estados Unidos, amplificada pela quebra da safra de milho no país em decorrência das perdas provocadas pela mais severa estiagem no país em pelo menos 50 anos, também deverá puxar a produção do cereal no Brasil. “Certamente, a próxima colheita do grão no Brasil será muito demandada para importação”.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a indústria de etanol daquele país vai usar nesta safra 2012/13 em torno de 114 milhões de toneladas de milho, ou 42% da colheita esperada. Na temporada passada (2011/12), a indústria do biocombustível abocanhou 40% da produção, ou 127 milhões de toneladas.

Em entrevista concedida ao Valor uma semana antes de chegar ao Brasil para participar do “Global Agribusiness Forum”, evento que será realizado em São Paulo, Babcock afirma que neste momento, nos EUA, as companhias de petróleo – que, em sua maior parte, também atuam como misturadoras – têm percebido que um blend de 10% de etanol na gasolina tem sentido econômico. “Por isso, essas empresas não vão desistir facilmente da grande fatia de milho da safra americana que utilizam”, diz.

Assim, continua ele, apesar de toda a pressão das indústrias de alimentos e rações, e também de exportadores de grãos, a produção de etanol de milho no país não deverá declinar. A “preferência” da indústria misturadora por etanol deve equilibrar forças na briga pela oferta de milho entre os mais diferentes setores consumidores do grão. Deve também conter o avanço de movimentos que querem pôr fim ao uso de alimentos na produção do biocombustível”.

Sobre as oportunidades para o Brasil, o diretor do CARD afirma que o país continuará com papel relevante no suprimento de etanol ao mercado americano, sobretudo dentro da cota de biocombustíveis avançados, na qual apenas o etanol de cana brasileiro se encaixa nos critérios determinados pela Agência de Proteção Ambiental americana (EPA, na sigla em inglês).

No entanto, ele observa que há dúvidas sobre o excedente exportável que o Brasil terá para atender a essa demanda nos próximos anos (ver matéria ao lado). “O grande crescimento da frota de veículos flex fuel indica que a demanda potencial do Brasil por etanol vai superar a oferta nos próximos anos”, calcula Babcock. De qualquer forma, ele diz ser difícil prever quando o mercado de exportação será um destino mais atrativo ao etanol brasileiro.

Em 2007, o Brasil assistiu a um verdadeiro boom de investimentos em novas plantas de etanol para atender ao fundamento “certeiro” de que haveria um grande mercado para a exportação do biocombustível, sobretudo nos Estados Unidos. Mas o fato é que o fluxo de comércio do biocombustível entre os dois países, tradicionalmente instável, inverteu a mão e o Brasil é que passou a elevar a importação do produto americano.

Depois de atingir mais de 4 bilhões de litros em 2008, as exportações de etanol do Brasil a todos os destinos recuaram para níveis próximos de 1 bilhão de litros. Neste ano-safra, que vai até março do ano que vem, deve atingir, segundo estimativas do mercado, a marca de 2,5 bilhões de litros, uma boa parcela aos Estados Unidos.

Esse mercado seguirá vigoroso em terras americanas nos próximos anos, segundo o diretor do CARD, especialmente se o presidente Obama for reeleito. “Ele é um forte apoiador dos biocombustíveis e as políticas americanas não tendem a mudar significantemente se ele continuar como presidente”, diz Babcock.

No que tange ao programa de etanol, há pouco que os Estados Unidos possam fazer para atravessar esse ano de escassez de milho, segundo ele. E os cenários parecem pouco prováveis. “Ou [o país] renuncia ao mandato de etanol, ou entra em uma política de banimento de exportações de grãos para reduzir os preços internos. Mas considero remotas as chances de os Estados Unidos seguirem outros países que têm adotado o banimento de exportação, como Rússia, China e Índia”, avalia Babcock.

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