Mercado

Petrobras vai começar a exportar álcool anidro

Estatal garantirá a compra de 3 bilhões de litros, por 20 anos, de usinas brasileiras. Depois de mais de um ano de estudos, a Petrobras finalmente começa a colocar em prática seu projeto de exportar álcool para o mundo. Inicialmente, a empresa garantirá a compra anual, por 20 anos, de 3 bilhões de litros de álcool anidro de cana-de-açúcar, que será feito por usinas privadas. A quantidade seria suficiente para que o Japão, por exemplo, misturasse 5% do combustível limpo à sua gasolina. Para tanto, serão necessários investimentos de R$ 3 bilhões no Brasil só na parte industrial de novas usinas, que pelos planos da estatal entrariam em operação na safra 2008.

“Queremos garantir a disponibilidade do álcool não só para o Japão, mas para os EUA, Europa, Coréia do Sul, Índia, China, etc., o que representa um mercado imensurável”, afirma Marcílio de Ribeiro Miranda, consultor de negócios da Petrobras. “Mas, como precisamos de formalidade, o Japão será um projeto-piloto”, acrescenta.

No país asiático há uma lei que permite a mistura de até 3% de álcool na gasolina, com a possibilidade de a mistura crescer para 5% e até 10%.

O mercado principal que a Petrobras espera abastecer no momento, com garantia plena de oferta, é o japonês, mas a estatal afirma contar com demanda para que a produção seja embarcada para vários países que já demonstraram interesse no álcool de cana brasileira.

Ribeiro Miranda informa que a Petrobras já tem mais de 40 projetos de novas destilarias de álcool para avaliar, no Centro-Oeste, no sul da Bahia e no Triângulo Mineiro. “Agora, chegou o momento da ação, de começar a implantar as unidades produtoras”, declara.

Embora a história da estatal seja marcada por grandes divergências com o setor de açúcar e álcool, a Petrobras tem tudo para atingir sua ambiciosa meta de tornar-se a maior exportadora de álcool do planeta, mesmo porque, segundo fontes da empresa, só ela teria o know-how de misturar o álcool à gasolina, procedimento que, em princípio, poderia parecer bastante simples, mas, segundo a empresa, não é. Segundo Miranda, a Petrobras criou no início deste ano a Brasil-Japão Etanol, uma joint-venture com a trading estatal japonesa Nipon Alcohol Banhai, para cuidar da importação e distribuição do álcool no país asiático.

No Brasil, a Petrobras vai garantir a compra de álcool por 20 anos das unidades que tiverem comprovadas suas viabilidades econômica, financeira e de logística. Na análise dos projetos, a Petrobras terá o apoio da Faculdade Getúlio Vargas (FGV).

Só a Auston Consult, empresa de Ribeirão Preto especializada em análise de viabilidade de negócios no setor de açúcar e álcool, tem 12 projetos a serem avaliados pela Petrobras. “Dos 12 investidores, oito são de fora do setor sucroalcooleiro, mas com disponibilidade financeira e experiência empresarial”, afirma Luiz Carlos Rubiano, presidente da Auston.

Para participar do projeto da Petrobras, o empreendedor, primeiro, precisa dispor de ao menos 7,5 mil hectares de terras, suficientes para produzir 500 mil toneladas de cana por safra, para produzir 37,5 milhões de litros de álcool.

Depois, o empreendedor interessado precisa assinar com a Petrobras um protocolo de intenções para a construção da nova unidade. Noventa dias depois de assinado o protocolo de intenções, é necessário que o empreendedor apresente à Petrobras o projeto de viabilidade econômico-financeira do projeto, que será analisado e passará pelo crivo da estatal e da FGV.

Uma vez aprovado o projeto, a Petrobras assina com o futuro usineiro um contrato de compra firme de álcool por 20 anos. Com o contrato em mãos, o empreendedor vai a um Fundo de Investimento de Direitos Creditórios (FIDC) – em fase final de organização pela Petrobras – para captar os recursos e construir a destilaria, cujo prazo de pagamento será de 20 anos, com juros efetivos de 5% ao ano.

Em princípio, os FIDC terão recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Japan Bank, da Mitsui Co. e de fundos de pensão brasileiros como Previ e Petrus, além de outras instituições nacionais e internacionais.

Se tudo ocorrer como previsto, já no fim do ano os novos empreendedores começam o plantio, para que, na safra de 2008, operem as destilarias.

Banner Revistas Mobile