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Petrobras teme perder mercado para o álcool

Pressionada pela alta do petróleo, a Petrobras está diante de um dilema. É que o preço da gasolina está defasado em relação ao do mercado externo e há a necessidade de um reajuste, mas, ao mesmo tempo, a companhia teme aumentar o preço do produto e perder ainda mais mercado para o álcool.

Paralelamente à questão empresarial, a estatal também considera o peso político de um reajuste sobre a inflação – que, neste ano, ameaça estourar o centro da meta do governo por causa do repique de preços dos alimentos.

Segundo a Folha apurou, a estatal cogita, de fato, corrigir o preço da gasolina, mas não tomou ainda a decisão em razão do receio de perder ainda mais terreno para o álcool e porque ainda avalia o impacto sobre o IPCA.

Mais barato, o álcool já é mais vendido do que o derivado de petróleo e a expectativa é que um aumento intensifique ainda mais a tendência de expansão do biocombustível.

Para a Petrobras, é mais vantajoso vender gasolina do que álcool em seus postos. É que a estatal controla toda a cadeia do petróleo – a extração, o refino e a distribuição – e absorve margens de lucro em todos os seus elos. Já no caso do álcool, compra o produto da usina e revende – em alguns casos, até com margem negativa, pois há muita concorrência com os postos de bandeira branca.

Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo), foi vendido 1,432 bilhão de litros de álcool no 1º bimestre, acima do consumo de gasolina – 1,411 bilhão de litros. Ao final do ano passado, o derivado de petróleo mantinha uma dianteira de 100 milhões de litros.

A redução do preço do álcool neste ano foi decisiva para o maior consumo do produto. No primeiro bimestre, as vendas do álcool cresceram 56%. As de gasolina subiram apenas 2,9%. Pelos dados da ANP, o preço da gasolina estava, em média, a R$ 2,624, mais do que os R$ 2,245 cobrados pelo álcool.

Por outro lado, cresce a diferença entre os preços da gasolina no Brasil e as cotações do produto no exterior, o que deve fazer a estatal reajustar a gasolina neste semestre, segundo agentes do setor. Especialistas estimam que a defasagem beira 20%, o que reduz muito a margem de manobra da estatal.

“Se a diferença se mantivesse em 10%, certamente a Petrobras iria segurar o reajuste, mas com essa defasagem fica mais difícil”, diz Nelson Matos, analista do Banco do Brasil.

Rocha diz, porém, que a concorrência com o álcool é um complicador. “O carro flex revolucionou o mercado de combustíveis no Brasil. Ninguém esperava uma evolução tão rápida do consumo de álcool.”

Inflação

Controlada pela União, a Petrobras tem de conciliar interesses empresariais e o peso de uma alta na inflação, segundo Helder Queiróz, professor do Grupo de Economia da Energia da UFRJ. “Do ponto de vista técnico, está mais do que na hora de anunciar um reajuste. A defasagem é muito grande.”

Queiróz diz que a estatal segura um reajuste também por causa dos efeitos na inflação -o peso da gasolina no IPCA é alto, de quase 5% do índice. O próprio Banco Central já prevê um reajuste, segundo a última ata do Copom. Desde 2005, o combustível não é reajustado.

Ele critica ainda a falta de uma regra “clara” e “previsível” para reajustes. Defende o alinhamento dos preços ao mercado internacional, mas como uma fórmula preestabelecida de correção. “Poderia ser trimestral ou semestral”, afirma.

Sem um mecanismo de reajuste, a estatal controla ainda mais o setor, pois, como tem 99% da capacidade de refino do país, impede a concorrência com importações, pois pode mudar seus preços a qualquer tempo, o que inviabiliza a competição, já que o importador fica sem um referência de preço.

Barril

O preço do barril de petróleo caiu ontem 1,89% em Nova York, fechando a US$ 116,06. Em Londres, teve queda de 1,82%, para US$ 114,34. (Pedro Soares)

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