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Petrobras já estuda antecipar produção no Brasil e importar GNL

A Petrobras já estuda medidas para substituir a importação de gás da Bolívia, que seria ampliada em pelo menos 15 milhões com a expansão do Gasoduto Bolívia Brasil. Embora sem efeitos imediatos no curto prazo, as medidas podem passar pela antecipação da produção interna tanto de gás como de petróleo (já que na bacia de Campos o gás é associado ao óleo) e a importação de até 34 milhões de metros cúbicos de gás natural liqüefeito (GNL) para regaseificação em plantas a serem instaladas no Sudeste, Nordeste e Sul. A estatal também não descarta o gerenciamento da demanda de gás por meio do aumento do preço do gás nacional, que é livre.

Na avaliação de fontes da companhia ouvidas pelo Valor com o compromisso de não serem identificadas, o aumento do preço do gás dos atuais US$ 3,2 para US$ 6 a US$ 7, como querem os bolivianos, pode fazer com que o insumo perca terreno na matriz energética, sendo deslocado por produtos que cederam espaço para ele nos últimos anos, entre os quais o diesel, o óleo combustível e o gás liqüefeito de petróleo (GLP), um produto manufaturado. Por isso a empresa negociará duro com a Bolívia para manter as regras do atual contrato.

Para ampliar a oferta de gás no Brasil – o atual plano estratégico prevê aumentar a oferta dos atuais 32 milhões para 69 milhões de metros cúbicos (sem contar o consumo de suas instalações) – a Petrobras pretende antecipar em um ano, de 2011 para 2010, a produção de gás nos campos de Uruguá e Tambaú (no bloco BS-500). Nessa área, ela planeja produzir 18 milhões de m³/ dia.

O diretor de exploração e produção, Guilherme Estrella, informou que a companhia está trabalhando em regime de urgência para entregar até junho os planos de desenvolvimento à Agência Nacional do Petróleo (ANP) seis meses antes do previsto. Estrella também negou que a Petrobras tenha qualquer dificuldade orçamentária para acelerar os investimentos, como calculam alguns especialistas. “Temos sondas e recursos já previstos para a execução do plano. Isto não é problema”, disse o diretor. Ele avalia uma terceira descoberta de óleo leve e gás na área.

Mas o BS-500 não é a única alternativa. Com o atraso de um semestre na produção no BS-400, nos campos de Mexilhão e Cedro, – antes prevista para o início do segundo semestre de 2008 e adiadas para 2009 -, a Petrobras se esforça para aumentar o ritmo de desenvolvimento e a produção de campos de gás e de petróleo localizados nas bacias de Campos e Espírito Santo, além de Santos (SP). Nesta última, planeja ampliar a oferta de gás nos campos de Merluza e em Lagosta, operado pela El Paso.

Entre os campos que serão acelerados na bacia do Espírito Santo estão Peroá e Cangoá. Na bacia de Campos, a produção de óleo pode subir, em campos gigantes como Marlim, utilizando a sonda reservada para o BS-400.

Mesmo com essa aceleração, há quem calcule que não sobrará gás para suprir 100% da demanda das usinas termelétricas caso o país enfrente uma nova crise de abastecimento de água para as hidrelétricas e fique sem acesso ao gás da Bolívia. Mas o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, assegura que não faltará gás para quem tiver contrato, o que pode excluir grandes consumidores, sobretudo do Nordeste.

“Ninguém no Brasil vai parar por falta de gás. Sempre vão existir alternativas de combustível em todos os segmentos. O que ninguém pode contar é com suprimento de gás sem ter contrato com uma distribuidora”, avisou.

Se afeta enormemente a Petrobras, única que explora, transporta e comercializa o gás da Bolívia, a nacionalização anunciada por Evo Morales na semana passada pode inviabilizar novos investimentos no país, trazendo resultado contrário ao esperado.

“A Bolívia é uma página virada na nossa história”, diz Marco Aurélio Tavares, que deixou a Repsol YPF para montar a consultoria Gas Energy. “Com essas medidas, Morales e sua equipe estão hipotecando e esterelizando o futuro do país”, diz Tavares, que também receia o engavetamento de projetos de gasodutos na Argentina. Para ele, a alternativa é produzir gás no Brasil para reduzir a dependência das importações, o que sob o ponto de vista do investidor externo, significa acelerar a regulamentação do setor.

“O fundamental para o Brasil é ter um marco regulatório claro e estável que permita atrair investimentos na exploração e produção de gás pelo maior número de empresas. E para isso elas precisam, além da segurança, ter acesso aos mercados. Outra coisa importante é a ANP fazer mais rodadas para oferecer blocos com potencial de gás”, diz Tavares.

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