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Petrobras cria combustível e acelera produção

O governo anunciou ontem três medidas na área de energia que visam a reduzir a dependência externa na compra de combustível e permitir segurança no abastecimento do país, 20 dias depois de a Bolívia nacionalizar o setor de petróleo, colocando em risco o fornecimento de gás natural ao Brasil. As duas primeiras medidas vão acelerar o projeto de tornar o Brasil auto-suficiente em gás natural e energia e prevêem a antecipação, de 2012 para 2008, da produção de 24,2 milhões de metros cúbicos do insumo por dia no Espírito Santo — praticamente os 26 milhões de metros cúbicos diários que o país importa da Bolívia. A última medida é a criação de um novo diesel pela Petrobras, que será produzido com 10% de óleos vegetais a partir do ano que vem. O produto, que já está sendo patenteado pela estatal, foi batizado de H-Bio, porque inclui no processo o hidrogênio.

O anúncio foi feito depois de uma reunião extraordinária do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), no Palácio do Planalto, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

— É uma vanguarda, uma inovação tecnológica — comemorou o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau.

— É o casamento do petróleo com a agricultura que se faz com este processo. O importante é que há 30 anos o Brasil criou o modelo do álcool e estamos criando agora outra alternativa ao óleo diesel. É um novo paradigma — afirmou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

— É um produto economicamente viável é tem custo muito inferior ao do diesel importado — disse o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

A mistura dos óleos vegetais será feita na refinaria, e o produto final será um diesel de melhor qualidade, com menos enxofre, que é muito poluente. A grande importância do novo produto é de que ele irá reduzir a importação do diesel, principalmente porque o preço do produto está muito alto no mercado internacional.

Em 2007, serão produzidos 256 mil metros cúbicos do novo diesel e em 2008/2009, 425 mil metros cúbicos ao ano. Ele será fabricado, a princípio, em três refinarias: Refap, no Rio Grande do Sul; Repar, no Paraná; e Regap, em Betim (MG). A demanda do diesel no país é de 45 milhões de metros cúbicos ao ano. O Brasil importa de 5 milhões a 6 milhões de metros cúbicos anuais.

Descoberta adicional de gás permite antecipação

A estimativa do governo é de que na produção de 256 mil metros cúbicos do H-Bio seja usado 1,2 milhão de toneladas de soja ou outras plantas oleaginosas, como palma e dendê. A demanda adicional de óleo de soja, disse Roberto Rodrigues, vai permitir a melhoria de preço do produto

Rondeau disse que o Plano de Produção Antecipada de Gás (Plangás) prevê a aceleração da produção da Bacia do Espírito Santo. Ela estava prevista para 2012 porque o processo normal leva de seis a sete anos. Gabrielli ressaltou que haverá uma significativa redução dos prazos previstos inicialmente.

A antecipação poderá ser feita porque no último mês houve uma descoberta adicional de gás nos campos da Petrobras. Gabrielli disse ainda que será necessário um redesenho de alguns gasodutos para escoar a produção de gás da Bacia do Espírito Santo. Hoje a Petrobras produz 15,8 milhões de metros cúbicos por dia, e chegará a 40 milhões em 2008 no Sudeste.

— Não é uma tentativa, é uma demonstração de que o Brasil está procurando caminhos de reduzir sua dependência externa — disse Rodrigues.

— Havia uma demanda do presidente Lula neste sentido — explicou Rondeau.

A outra medida é a adaptação das usinas termelétricas da Petrobras, que poderão usar quatro combustíveis. Além do gás, elas serão adaptadas para gerar energia elétrica usando álcool, GLP (gás de botijão) e GNL (gás natural liquefeito). Os testes com álcool começam a ser feitos em setembro, na usina Barbosa Lima Sobrinho, em Seropédica, no Rio, porque precisa ser feito um ajuste nas turbinas.

— Queremos segurança energética no abastecimento, haverá uma mudança de paradigma também no caso das usinas. As usinas serão tetracombustíveis — ressaltou Rondeau.

Petrobras acelera importação de GNL

A Petrobras também anunciou ontem que está trabalhando em ritmo acelerado para desenvolver o projeto de importação de GNL. Como esse combustível vem na forma líquida, pode ser transportado por navio de qualquer lugar do mundo, sem a necessidade de gasodutos — como o que sai da Bolívia. Portanto, não há a dependência de um único fornecedor. O GNL é transformado em gás em unidades de regaseificação que ficam dentro do próprio país importador. O diretor Financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, explicou que o o objetivo é substituir pelo GNL os 14 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural que a companhia previa importar da Bolívia a partir de 2008 ou 2010, além dos 30 milhões de metros cúbicos diários já contratados.

Está em análise a construção de duas unidades de regaseificação, sendo uma no Nordeste e outra no Rio. Essas duas unidades exigirão investimentos de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões. O GNL será importado de países como Angola, Trinidad y Tobago e Argélia:

— A atitude que a Bolívia está tomando acaba desvalorizando o produto em vez de valorizá-lo, porque coloca em dúvidas o suprimento.

A indústria de plásticos vai pedir à Petrobras preços diferenciados para nafta e gás (GLP e natural), insumos que respondem por 70% dos custos do setor. O pleito será levado à estatal na próxima reunião do Fórum de Competitividade, na terça-feira, em Brasília, pelas quatro principais entidades empresariais do setor: Abiplast, Siresp, Afipol e Abief. Juntas, elas representam cerca de 8.500 empresas do setor no país.

Os empresários argumentam que, com a auto-suficiência de petróleo e as alternativas de combustíveis renováveis (álcool e biodiesel), a Petrobras disporá de uma oferta maior de nafta, por isso pode vendê-la a preços menores ao setor, que ganharia competitividade nas exportações de resinas e bens manufaturados.

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