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Petrobras busca mecanismo de reajuste depois de trimestre ruim

A Petrobras tornou público, na sexta-feira, seu pedido ao conselho de administração para que seja criado um mecanismo que permita repassar a defasagem de preços dos combustíveis para as bombas. Em uma carta escrita com franqueza poucas vezes vista em um ocupante do posto, Graça Foster, presidente da companhia, admitiu o sério impacto do subsídio que o governo está obrigando a Petrobras a carregar para evitar impactos na inflação. E mostrou que existe, sim, preocupação com o endividamento e a capacidade de honrar o bilionário plano de investimentos.

O tom contundente remete à entrevista publicada na sexta-feira pelo jornal “O Globo”, na qual Graça falou sobre o cargo que ocupa. “Isso aqui não é um lugar para muito tempo, nem pode ser para muito tempo”, disse a executiva, respondendo sobre os desafios que vê no seu futuro profissional.

O que foi evidenciado na mensagem de Graça aos investidores é que a essa altura os riscos não podem ser subestimados, mesmo considerando o tamanho da Petrobras e o fato de a empresa ter controle estatal, o que teoricamente afasta o risco de um “default”. Como lembrou uma fonte qualificada ouvida pelo Valor no fim de semana, “a Petrobras pode ser grande demais até para o governo”.

Pelos cálculos de um analista, até setembro a perda com a venda de gasolina e diesel abaixo do preço de aquisição no mercado internacional era de R$ 4,7 bilhões. Isso somente em 2013.

A defasagem da gasolina neste momento não existe, mas a do diesel estava em 15% na sexta-feira, considerando apenas os preços de importação (FOB), sem os custos de internação no país.

A direção da Petrobras informou que levou ao conselho de administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, uma metodologia de precificação “que permita maior previsibilidade do alinhamento dos preços domésticos do diesel e da gasolina aos preços internacionais”. Aparentemente ainda não convencido, o conselho pediu “simulações adicionais” e prazo até 22 de novembro.

Um analista de um grande banco que prefere não expor seu nome questiona que parte do imenso problema os conselheiros que representam o governo ainda não entenderam. Outro analista avalia que a medida é urgente e mais, acha que se for criado um gatilho para reajustes dos combustíveis, ele deve ser acionado quando a defasagem chegar a 5% em um período de dois meses, por exemplo. O temor é que se crie uma banda muito larga, de 15% por exemplo, que não resolveria o problema, já que a perda com defasagem desse tamanho é muito grande para ser carregada.

Na carta, Graça afirma que a atual defasagem dos preços dos combustíveis é causada pela desvalorização de 22% do real frente ao dólar, que se intensificou depois do alívio proporcionado por seis reajustes de preços da gasolina e diesel. E admite que essa é uma ameaça ao bilionário Plano de Negócios 2013-2017, de R$ 236,7 bilhões, um dos maiores em curso na indústria mundial. A Petrobras também se preocupa com a possibilidade de um novo rebaixamento de sua nota de crédito, o que encareceria ainda mais a emissão de novas dívidas.

“Essa situação tem impactado nosso fluxo de caixa e alavancagem.”, destacou Graça.

A carta divulgada acompanha o péssimo resultado do terceiro trimestre, quando o câmbio piorou o já tóxico efeito da defasagem de preços, sendo responsável por um lucro pífio de R$ 3,4 bilhões. Juntos, defasagem e câmbio foram os principais responsáveis pelo prejuízo de R$ 5,5 bilhões da área de refino e abastecimento no trimestre. No ano, o prejuízo já está em R$ 12,3 bilhões. Enquanto a produção não aumenta, os custos permanecem altos. Também não foi contabilizada a venda da participação da estatal no Parque das Conchas para Shell e ONGC por US$ 1,5 bilhão, e por isso a companhia só registrou a entrada no caixa de R$ 1,19 bilhão referente à venda do bloco BS-4, onde estão os campos de Atlanta e Oliva (cuja participação foi adquirida pela OGX), e Coulomb, nos Estados Unidos.

A Petrobras também enterrou de vez a expectativa de parceria com a venezuelana PDVSA na Refinaria do Nordeste ao incorporar a planta construída em Pernambuco. Em 30 de setembro, o endividamento bruto total da Petrobras estava em R$ 250,9 bilhões, sendo 63% em dólares e 20% em reais; 72% da dívida vence depois de 2018. Já a relação dívida líquida/Ebitda ajustada passou de 2,57 vezes para 3,05 vezes e a estrutura de capital (medida pelo capital de terceiros em relação à dívida total) aumentou para 51%, como destacou o BB Investimentos.

Os indicadores já superaram as premissas estabelecidas pela empresa para garantir a financiabilidade dos investimentos sem sobressaltos. Outra preocupação é com a geração própria de caixa – R$ 13,091 bilhões – abaixo do esperado e que respondeu por apenas cerca de metade do investimento, de R$ 24,348 bilhões.

A tendência é piorar os indicadores já que a Petrobras tem compromissos assumidos que superam US$ 200 bilhões para colocar em produção os gigantes campos de Franco e Libra. Com a mensagem contundente de Graça, o mercado prestou menos atenção no fraco resultado, título aliás do relatório do Deutsche Bank. O analista Marcus Sequeira prevê reação negativa do mercado hoje. Ele acha que o mecanismo de reajuste pode trazer de volta o otimismo com as ações, mas mantém a cautelosa “devido à influência do governo”.

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