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Pesquisa avança na redução de custos na produção do E2G

Composto desenvolvido pelos pesquisadores aumenta em até 120% a sacarificação do bagaço da cana-de-açúcar ao longo de 12 meses

Pesquisa avança na redução de custos na produção do E2G

Lidar com desafios já faz parte da rotina dos produtores de etanol. Assim tem sido com o de primeira e não será diferente com o E2G, o etanol de segunda geração, que precisa otimizar a eficiência de sua produção. Investir em pesquisa tem se mostrado o melhor caminho para se alcançar alternativas e soluções.

Pesquisadores do Laboratório de Bioquímica de Plantas da Universidade Estadual de Maringá (Bioplan-UEM) e do Laboratório de Fisiologia Ecológica da Universidade de São Paulo (Lafieco-USP), descobriram como aumentar em até 120% a sacarificação do bagaço da cana-de-açúcar ao longo de 12 meses.

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O coordenador do Bioplan-UEM, o biólogo Wanderley Dantas dos Santos, explica que foram desenvolvidos três compostos diferentes, cada um com características específicas, que foram aplicados individualmente à cana-de-açúcar, à soja e à braquiária. Na soja, ocorreu um acréscimo de 36% em 90 dias, enquanto a sacarificação do capim braquiária cresceu 21% em 40 dias.

O resultado foi alcançado através da aplicação de compostos naturais às plantas — um deles à base de ácido metilenodioxicinâmico (MDCA); outro, com ácido piperolínico (PIP); e um terceiro que leva daidzina (DZN).

MCDA, PIP e DZN são inibidores da lignina, molécula que confere rigidez à parede celular da planta. “De forma geral, os compostos que desenvolvemos alteram o metabolismo da lignina. Isso facilita o acesso à parede celular da planta, que é onde está localizada a celulose. Assim é possível produzir mais açúcar, mais carboidrato”, explicou Santos.

A descoberta reduz os custos de produção do E2G. O grande produtor desse tipo de álcool, que corresponde a 1,5% da produção nacional, é a Raízen, que vem gradativamente ampliando seu número de plantas para a fabricação do produto.

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Segundo o botânico Marcos Buckeridge, coordenador do Lafieco-USP e do INCT do Bioetanol, atualmente a indústria tem um gasto financeiro alto para realizar o chamado pré-tratamento, quando se retira a lignina para tornar os carboidratos acessíveis às enzimas que então irão digerir esses polissacarídeos e assim produzir açúcares que podem ser fermentados para produzir o etanol de segunda geração. “Isso impacta o custo de produção em 30%”, informa Buckeridge, um dos maiores especialistas do mundo em etanol de segunda geração e pesquisador do RCGI.

Com a aplicação dos compostos desenvolvidos pelos pesquisadores seria possível melhor aproveitar a biomassa da cana-de-açúcar. “Com a modificação na lignina, o bagaço se torna mais fácil de ser digerido pelas enzimas. Ou seja, será necessário utilizar menos enzimas no decorrer do processo. As enzimas correspondem à parte mais cara da produção do etanol de segunda geração”, prossegue Buckeridge.

A pesquisa ainda está em curso e a eficácia da tecnologia deverá ser testada em uma unidade da Raízen, sediada em Campinas – SP.