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Peso da tradição inspira cautela

Até hoje, o empresário Colin Butterfield, paulista de Piacatu, de 40 anos, que assumiu a presidência da Cosan Alimentos em 2010, sente calafrios quando decide fazer alguma mudança na estrutura de negócios da marca de açúcar União, incorporada pelo grupo em 2009. Não é por menos. Criada em outubro de 1910 pelos irmãos italianos, Giuseppe e Nicola Puglisi Carbone, no bairro paulistano da Mooca, a União é hoje a terceira marca mais bem avaliada no Brasil, no segmento de alimentos, líder em açúcar refinado no varejo, e responsável pela maior parte das vendas da Cosan, que registrou no segundo trimestre da safra 2011/2012 uma receita líquida de R$ 267,2 milhões. “Fico nervoso cada vez que preciso mexer em algo que faz parte da essência do negócio. O clima é de expectativa para ver se a mudança vai dar certo ou não”, afirma Butterfield.

No entanto, nada surpreende, indica o executivo. “Quando entrei no jogo, em 2010, sabia que tinha uma responsabilidade tremenda nas costas. Sabia que não podia mexer, de uma hora para outra, num time vencedor. Precisava primeiro ver o que estava funcionando e o que não estava. A marca União é hoje a mais importante do negócio da Cosan, um sinal de qualidade, tradição e interação. Não se pode mudar rapidamente um negócio que tem mais de cem anos. Isso pode destruir o trabalho de várias gerações”, explica.

Mas, ao mesmo tempo em que atua para manter a trajetória de sucesso da empresa, Butterfield diz que é preciso avançar, fazer inovações para alcançar novos patamares de crescimento da organização. “É necessário agregar mais valor, lançar novas categorias de açúcar, apresentar produtos em novas roupagens, mas sem perder as características básicas da União.” Aliás, mexer na embalagem dos produtos, algo que não acontecia por mais de dez anos, segundo ele, foi um risco bastante calculado. “Fizemos muitos estudos, experimentamos os produtos junto aos consumidores para ver se não havia perigo de rejeição. Só lançamos depois que tínhamos certeza de que não haveria uma ruptura com o consumidor.”

Butterfield diz que compensou sua falta de experiência no ramo de alimentos (ele vinha da Cargill e da área de finanças) com o apoio de funcionários mais antigos e de profissionais contratados. “A pressão é muito grande, especialmente quando você senta na cadeira de um negócio que funciona tão bem há mais de cem anos. É preciso conhecer o patrimônio que se herdou e tomar muito cuidado para não mexer nas fortalezas que fizeram o sucesso da companhia. Ao mesmo tempo, há que saber fazer as mudanças necessárias para que o negócio prospere”, afirma.

Em muitos casos, essa pressão pode exigir do executivo até mesmo cuidados especiais à saúde. “Faço análise semanalmente, que me ajuda bastante”, admite Ricardo Selmi, bisneto do patriarca italiano Adolfo Selmi, que fundou na região de Campinas, em 1887, a primeira fábrica do Pastifício Selmi, detentora das marcas Renata e Galo. “Trabalho bastante, pelo menos 12 a 13 horas por dia, as pressões são constantes e a análise ajuda a dar uma boa aliviada. Não alivia o peso do trabalho, mas alivia a cabeça”, brinca.

Embora esteja incumbido de dar continuidade à história da Selmi, Ricardo dirige hoje uma empresa que já não é mais familiar: há seis anos, a Selmi associou-se ao grupo português Belarmino, que atua na área de transportes coletivos urbanos e intermunicipais, e agora caminha rumo à profissionalização. “Meus irmãos e tias deixaram a companhia, e hoje sou o único membro da família Selmi atuando na empresa. O processo de profissionalização é intenso, e com o crescimento dos negócios, imaginamos abrir o capital da empresa, daqui a alguns anos, e formar um conselho de administração”, conta ele.

Com isso, explica Selmi, fica cada vez mais árdua a tarefa de manter a reputação da primeira fabricante de massa italiana na região de Campinas. A pressão dos competidores aumenta todo dia, segundo ele. E com razão: nos últimos dez anos, a Selmi cresceu numa média de 15% ao ano, e hoje, com duas fábricas (Sumaré, em São Paulo, e Londrina, no Paraná), cerca de 1,2 mil colaboradores, fatura em torno de R$ 700 milhões.

Com 31 anos, Guilherme Weege, graduado em administração de empresas e cursos executivos em Harvard e Wharton, nos Estados Unidos, e no Insead, na França, também enfrenta o desafio de um processo de transição de um grupo familiar para uma estrutura de organização 100% profissional.

Herdeiro dos negócios da Firma Weege, fundada em 1906 por Wilhelm e Bertha Weege, que tinha como principal atividade o comércio, queijaria e açougue, Guilherme Weege está encarregado, desde 2004, da diversificação dos negócios do grupo. Hoje, seu principal ativo é a Malwee Malhas, criada em julho de 1968 pelo avô Wolfgang Weege, que produz cerca de 40 milhões de peças por ano. “Busco a cada dia unir a experiência comprovada pela história com o espírito inovador de nossas atuais equipes de trabalho”, afirma.

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