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Peru à cubana

Dois jornalistas brasileiros já foram enxotados de Cuba nos últimos dias, sem conseguirem entrar oficialmente no país. Helena Celestino, do jornal O GLOBO, e Sérgio Rangel, da “Folha de S. Paulo”. Aos dois foi avisado que “sua profissão está vetada aqui”. Esse bloqueio pode piorar se as notícias também piorarem e faz lembrar a inesquecível definição do mestre Sobral Pinto.

Ao ouvir o carcereiro justificar a ditadura com a afirmação de que se tratava de uma “democracia à brasileira”, Doutor Sobral deu a resposta que virou um clássico: “Existe peru à brasileira, não existe democracia à brasileira. Ela é universal.”

Só existe peru à cubana. Democracia é universal. Os avanços na área social em Cuba são notáveis, principalmente pelo absurdo e longo bloqueio vivido pelo país. Os avanços na medicina são admiráveis. O sucesso na educação, invejável. Nada disso pode ser perdido, mas nada disso justifica uma ditadura que prende e mata opositores, mantém por quase cinqüenta anos o mesmo governante, e que “veta” a profissão de jornalista. A idéia de justificar uma ditadura pelo seu desempenho em qualquer área é tão obsoleta, que é um espanto que ainda tenha defensores. Mas tem.

Esse é um bom momento econômico para iniciar-se em Cuba uma transição política para a democracia. A economia está crescendo 8% ao ano graças ao níquel, que bate recordes de preços no mercado internacional, ao açúcar, às receitas do turismo e à ajuda da Venezuela. A Venezuela fornece mais petróleo do que Cuba consome e a um preço fortemente subsidiado. A Ilha reexporta o que sobra a preço alto. Excelente negócio.

Quando a enviada do GLOBO, Helena Celestino, foi impedida de entrar na ilha, ela tentou falar com o embaixador brasileiro Tilden Santiago, a quem havia informado anteriormente que estava indo para lá. O embaixador infelizmente estava no banho e lá ficou tanto tempo que os policiais disseram que o prazo havia se esgotado e ela foi deportada antes de desembarcar. A boa notícia para o Brasil é que, nos duros tempos vindouros, as relações bilaterais poderão contar com um profissional da envergadura de Bernardo Pericás, embaixador indicado.

A nota em que Fidel Castro anunciou seu afastamento foi a exibição perfeita da esdrúxula situação da ilha. Ele teve de delegar todas as funções que exerce. Fidel é primeiro-secretário do Partido Comunista, comandante-em-chefe das Forças Armadas, presidente do Conselho de Estado e de governo, líder do Programa Nacional de Saúde Pública, líder do Programa Nacional de Educação, líder do Programa Nacional de Revolução Energética. Ou seja, ele é chefe de governo, de Estado, das Forças Armadas e ministro da Saúde, da Educação e da Energia.

O fato de estar agora doente, aos 80 anos de idade, significa que Fidel Castro venceu a grande queda-de-braço de sua vida. Sobreviveu a toda a obsessão dos Estados Unidos por eliminá-lo fisicamente, que atravessou todos os governos americanos nesses 47 anos, independentemente de serem democratas ou republicanos. Ele assumiu quando quem governava os Estados Unidos era Dwight Eisenhower. John Kennedy veio em seguida e executou o plano deixado pronto de invasão de Cuba, a famosa, e fracassadíssima, invasão da Baía dos Porcos. Fidel está no seu décimo presidente americano e alguns deles tiveram dois mandatos. Recapitulando: passou por Eisenhower, Kennedy, Lyndon Johnson, Nixon, Ford, Carter, Reagan, Bush pai, Clinton e Bush filho. Permanece lá dando uma prova viva da incompetência da CIA.

Mais incompetente será o governo americano se achar que pode envolver países latino-americanos relevantes em qualquer ação contra a ilha. No Brasil, por exemplo, há ampla simpatia por Cuba e os cubanos, independentemente de se aprovar ou não o regime de Cuba. Cuba deve decidir seu destino, e não o governo americano.

Os Estados Unidos têm uma contradição insanável em sua política externa em relação a Cuba: é a do dois pesos, duas medidas. Hoje eles mantêm o bloqueio a Cuba argumentando que o regime cubano é ditatorial, e são os maiores parceiros da China — o maior déficit comercial do país é com os chineses — que é igualmente ditatorial. A secretária de Estado, Condoleezza Rice, fala da redemocratização de Cuba e nada tem a dizer sobre a da China. Os Estados Unidos têm em relação a Cuba uma velha birra. É só.

Se Fidel sair do hospital, como parece provável, ele terá tido com essa doença um aviso de como não deve ser sua sucessão. Seu irmão Raúl não apareceu em público, as notícias sobre sua doença foram bloqueadas, a nota que saiu foi apenas a autorizada por ele mesmo, e os jornalistas estrangeiros foram barrados. Parecia um revival daqueles obscuros episódios do falecido regime soviético. Fidel, se quiser preservar o legado positivo de 47 anos de melhora na área social, terá de encontrar um caminho de liberalização da vida política de Cuba. Claramente, o sinal dado agora é que esse é o começo do fim do regime castrista.

Mercado de olho no Fed

Ontem e hoje o mercado está com o olho no que vai acontecer no Federal Reserve (Fed, o BC americano). A maioria dos bancos e analistas, aqui e no exterior, acha que os juros americanos não vão subir e continuarão nos mesmos 5,25%. O problema é que o mercado já errou muito. Achava a mesma coisa quando estava em 4%, em 4,5% e em 5%. Se os juros subirem, só uma minoria estará posicionada e o mercado pode cair bastante. A resposta será hoje às 15h15m.

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