As perspectivas para o agronegócio brasileiro, dentro do cenário mundial, são boas, principalmente para o biocombustível, segundo levantamento feito pelo professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (Fea-RP/USP) e da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV Eaesp), Marcos Fava Neves.
Segundo Neves, que participou de uma reunião exclusiva, realizada na segunda-feira (1), na Fiesp, para os membros do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), existe uma visão mais estratégica para trabalhar o agronegócio diante da economia global, como acontece com os Estados Unidos, onde as importações de produtos agrícolas cresceram 6 bilhões de dólares. “A estratégia que o Brasil tem de tomar para beneficiar não só empresas, mas pessoas, é incentivar as cadeias produtivas, como já tem feito neste período, vide o crescimento forte nos últimos anos”
O expositor destacou as oportunidades do agro brasileiro como fornecedor do mundo, citando o milho brasileiro, que alcança 22% das exportações, do ano passado até o momento. O fato representa uma vantagem na importação, como também, coloca em foco a retomada da força do etanol de milho com perspectiva de produção de 8 bilhões de litros até 2030, gerando uma expectativa de investimentos.
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Neves ressaltou também o bom momento para o mercado de açúcar, sendo que o alimento brasileiro teve o maior crescimento de market share, no ano passado, chegando perto dos 50% do mercado global.
Para o especialista, os próximos 20 anos representarão oportunidades, baseado em dados da Food Price Index FAO, que levanta um ponto de atenção sobre o aumento do consumo numa escala contínua, enquanto a produção segue como escada, devido a problemas climáticos e de preço.
A FAO mostra que a América Latina e o Caribe devem reforçar sua posição de principal fornecedor mundial de commodities agrícolas, com crescimento médio nas exportações líquidas de 1,7% ao ano, enquanto a América do Norte deve expandir em ritmo mais lento, 1,3% ao ano.
A expectativa das “importações de soja, milho, suíno e frango até 2029 são todas favoráveis. E a bioenergia está voltando com força total, na retomada da economia e alta do petróleo. A China, por exemplo, precisa de área e investimento, o que abre espaço para grão e exportação de milho do Brasil”, avaliou.
O professor ainda citou a Índia, que com seu problema gravíssimo de poluição, avança no biocombustível, substituindo parte da gasolina por etanol. Já na Europa e no Canadá, 15% do combustível são renováveis, e o novo governo norte-americano deverá ser mais favorável ao biocombustível, devido à volta dos EUA nas reuniões de mudança climática, as COPs, acredita ele.
Para o acadêmico, o Brasil precisa, cada vez mais, agir e assumir o cargo de fornecedor sustentável no mundo para ter chances de crescer. “Esse é o posicionamento proposto como fornecedor sustentável de alimentos, biocombustíveis e outros agro-produtos, que passa por custos, pela busca incessante de diferenciação e pelo cooperativismo”, disse Neves, que salienta que falta cooperação no Brasil para avançar no mercado internacional como força única.
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O professor ressalta que a agenda sustentável é definitiva no mundo e o Brasil, dentro desse modelo de fornecedor mundial sustentável, tem o forte indicador de energia renovável em sua matriz energética, sendo o segundo maior produtor do mundo, atrás apenas da Suécia.
Neves conclui que o Brasil precisa enfatizar esses indicadores em busca de recursos verdes. Outros índices dizem respeito ao uso de biocombustível na matriz, a emissão per capita baixa de Gases de Efeito Estufa (GEE), a cobertura do território com florestas ou vegetação original, mostras de reflorestamento e desmatamento ilegal, mais a força que tem o Código Florestal brasileiro, como também as inovações e o uso de tecnologias limpas, afirmou.
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O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, também participou da reunião e informou que, na visão econômica e de longo prazo, apesar de um ano de recessão, o agronegócio deve crescer cerca de 2% este ano.
Ao apresentar as perspectivas econômicas no Brasil e no mundo, o economista-chefe disse que o impacto econômico da segunda onda da Covid-19 foi menor do que a primeira onda até o momento, contudo a renovação do auxílio emergencial deverá usar créditos extraordinários (não sujeitos ao teto de gastos). O governo só pode criá-lo em razão urgente e imprevista. Na pandemia é urgente, mas não é prevista, na avaliação do especialista.
Ao se focar no dólar, o crescimento global e as commodities ajudam a conter a moeda. Para Mesquita, a inflação sofre pressão temporária neste cenário. Por outro lado, o preço da alimentação subiu, devido à canalização de consumo de bens e alimentos. Segundo Mario, a inflação vai seguir pressionada o ano todo.
“O Banco Central vai começar a subir a taxa de juros (Selic) em março, já que a taxa Selic em 2% levaria a inflação acima da meta (3,5%) em 2022. É um ajuste importante para segurar as expectativas, ainda mais que devemos ter outra rodada de auxílio emergencial”, explica o economista.