Perspectivas de custos no plantio de soja transgênica versus convencional para a próxima safra

A adoção de qualquer tecnologia agrícola envolve benefícios e custos, tanto para os produtores rurais quanto para os consumidores intermediários e finais. Portanto, determiná-los e identificá-los é fundamental para a tomada de decisão.

A situação pela qual o setor agrícola passa neste momento, principalmente em relação à safra de soja 2004/05, que está em fase final de colheita e o milho safrinha, que está na época de plantio, nos leva a refletir sobre algumas variáveis que influenciarão muito a tomada de decisão, por parte do agricultor, para o plantio da safra 2005/06:

A quebra da produção de soja/sementes nas principais regiões produtoras do país devido à estiagem no final do ciclo da cultura.

Aumento dos custos de produção, com destaque para os fungicidas para controle da ferrugem da soja, bem como também maquinário, implementos, defensivos, fertilizantes, combustíveis etc.

Redução dos preços internacionais das principais culturas, com destaque para soja.

Descapitalização do produtor.

Re-negociação das dívidas, junto aos órgãos financeiros oficiais e fornecedores, contraídas na safra que se encerra.

Estima-se que na safra 2003/04 a penetração da soja transgênicas, nas diversas regiões produtoras do Brasil, atingiu cerca de 19% da área plantada, aproximadamente 3,4 milhões de hectares.

Para safra futura é esperado o plantio de aproximadamente 50% da área cultivada em todo país, ou seja, 10 milhões de hectares deverão ser semeados com sementes Transgênicas. Isso influenciará diretamente na disponibilidade de materiais geneticamente modificados como também na oferta do herbicida glifosato, utilizado nessa tecnologia.

Para efeito de informação, as Cultivares de Soja com denominação RR, citadas nesse artigo, são provenientes de empresas certificadas pelo Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária, ou seja, são sementes legalizadas.

Para o produtor, primeiramente, estima-se que a opção pelo plantio da soja transgênica (RR) possa permitir uma redução média de custos da ordem de US$ 72,00/ha, considerando apenas o tipo e a quantidade de herbicidas utilizados na lavoura, ou seja, na soja convencional utilizam-se diversos produtos, enquanto a TRANSGÊNICA (RR), apenas 1(um) tipo de herbicida, o glifosato. A esse benefício somam-se ainda a maior flexibilidade operacional nas lavouras, a melhor qualidade dos grãos (menor grau de umidade e de impurezas) e a otimização do uso das máquinas (pulverização e colheita), entre outras. Esse conjunto de fatores, que variam de acordo com o nível de tecnologia utilizada nas propriedades, proporciona um resultado econômico superior aos US$ 72,00/ha economizados apenas com a diferença entre os valores dos herbicidas.

Um dado interessante é que em área na qual o controle de ervas daninhas é feito pelo método manual de capina, ocorre um aumento de 3 a 5% na produção da soja em relação à área controlada por herbicidas seletivos. O mesmo acontece com áreas plantadas com soja Transgênica, resistente ao glifosato, onde a eficiência é semelhante a capina manual.

A queda generalizada da produção no setor de sementes, em função da baixa disponibilidade de chuvas que afetou a cultura da soja, incluindo as RR’s, influenciou negativamente na disponibilidade das mesmas para o mercado.

A adoção da biotecnologia resulta em uma situação típica de trade-offs, ou seja, para adotar uma determinada posição tem que se abrir mão de outra. O Empresário Rural deverá optar por um material geneticamente modificado ou um convencional, o quanto antes possível, pois correrá o risco de não obter a quantidade necessária de sementes para o plantio.

Martinelli é supervisor regional COODETEC – Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Fonte: Central de Compras)