JornalCana

Pela primeira vez em vinte anos, o Brasil tem aumento forte do mercado interno e das exportações

Nos últimos dez anos, a economia brasileira viveu em ritmo de montanha-russa. Em pelo menos dois momentos – a partir de 1994, com o Plano Real, e 2000, ano seguinte à desvalorização da moeda – pareceu estar entrando na rota do crescimento, mas, em seguida, voltou a despencar. Os motivos que levaram à queda do produto interno bruto (PIB) são semelhantes e apontam principalmente para a vulnerabilidade externa, que fez o país ser atingido com intensidades variadas pelo efeito de crises no México, na Tailândia, na Rússia ou na Argentina. O Brasil também sofreu com o apagão em 2001 e o medo gerado em 2002 pela expectativa de vitória do PT na eleição. Agora, inicia-se um novo movimento de recuperação e o país vê-se às voltas com a dúvida sobre se, desta vez, a história pode ser diferente. Para boa parte dos economistas, a resposta é sim, e o motivo é bem palpável. Pela primeira vez em vinte anos, o Brasil está conseguindo aumentar ao mesmo tempo o ritmo de crescimento do mercado interno e o das vendas externas.

Nos últimos doze meses, o Brasil só perdeu para a Rússia, rica em petróleo, no ranking dos emergentes que registraram os maiores saldos comerciais. Os cerca de 31 bilhões de dólares de saldo são bem-vindos por três motivos. Primeiro, porque são fruto da conquista de mercados no exterior, não apenas conseqüência da redução das importações. Segundo, porque ajudam a diminuir a percepção de risco do país. Entre outras coisas, os investidores costumam examinar a relação entre exportações e a dívida externa para aferir a vulnerabilidade. Em terceiro lugar, porque esses 31 bilhões de dólares servem como uma almofada para o crescimento. Com a retomada, as importações já começaram a aumentar, o que é positivo porque demonstra maior integração do país à economia mundial. Fala-se muito do sucesso do modelo exportador dos Tigres Asiáticos, mas esquece-se por vezes de mencionar que suas importações também são muito altas. “Estamos vivendo uma situação diferente das outras fases de recuperação porque temos sinais de uma mudança estrutural e profunda. Trata-se da abertura da economia como processo consistente e sistemático”, diz o economista Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas.

A previsão é que neste ano as exportações cheguem a cerca de 90 bilhões de dólares, mais de 60% de crescimento se comparado a 1999. “A exportação foi o chute inicial para desencadear o processo de crescimento da economia”, diz Cristiano Souza, economista-chefe da MB Associados. Além do resultado positivo das vendas externas, houve uma melhora do consumo interno patrocinada pela queda consistente dos juros desde meados do ano passado, que só foi possível graças ao forte ajuste fiscal. A taxa real, descontada a inflação, é a segunda mais baixa desde 1990 e deve ficar em torno de 8% neste ano. No primeiro semestre, a indústria produziu 7,7% a mais e usou 83% de sua capacidade, um dos maiores índices desde os anos 90. Com o aumento da produção, a taxa de desemprego caiu para 11,7% em junho, o menor patamar desde janeiro. O crédito ao consumidor aumentou e o brasileiro foi às compras. As vendas do comércio varejista cresceram 8,48%. Está longe de ser o ideal, mas, na comparação com os últimos dois anos, é uma conquista.

Conquista de verdade será manter o país na direção correta. As condições econômicas são muito favoráveis. Mas é importante que o governo Lula persista no ajuste fiscal e consiga, com isso, reduzir a dívida pública, que é de 56%. Esse é um dos sinais mais importantes a ser dados para manter a confiança dos investidores no país. E foi o que faltou no Plano Real. Em 1994, a drástica queda da inflação dava ao governo todas as condições políticas para promover ajuste fiscal e reformas estruturais, mas o ajuste foi tímido e as reformas foram apenas iniciadas. Além disso, até 1999, as exportações ficaram muito prejudicadas pela política cambial, que sobrevalorizou o real. Agora a situação é muito mais favorável. “Estamos perto de um modelo ganhador em termos de crescimento”, diz Langoni, da FGV.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram