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Para técnicos, é preciso ampliar pesquisa sobre transgênicos

A discussão sobre o uso das sementes transgênicas se arrasta por muito tempo no Brasil, mas até agora não foi feito no País qualquer estudo de impacto ambiental e nem de segurança alimentar. A informação é do coordenador de cursos de Biossegurança da Fundação Oswaldo Cruz, Sílvio Valle.

Ele acredita que o problema pode ser solucionado com o debate da nova legislação encaminhada, pelo governo, ao Congresso Nacional. “Espero que a nova legislação esclareça as questões e regulamente procedimentos para realizar testes, em um processo não-burocrático, sem estagnar a pesquisa e dando mais segurança à população”, afirma, lembrando que é preciso fazer testes de segurança ambiental e alimentar, inclusive com as sementes da Embrapa.

Valle argumenta que os testes já feitos no Brasil se referem apenas à qualidade agronômica para a verificação de vírus e pragas. Para o pesquisador, uma adequação à legislação ambiental pode ser uma vantagem para os transgênicos.

Meio Ambiente

As áreas plantadas com soja transgênica esbarram na questão ambiental, pois não há lei que regulamente esse tipo de cultura. O pesquisador, também membro do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, defende a responsabilização dos agricultores que utilizam este tipo de semente. “O produtor precisa assumir o ônus de utilizar um produto ilegal, pois ele comete irregularidade ao plantar uma soja proibida pela Justiça”, condena Valle.

Além disso, ele ressalta o fato de a semente transgênica ser protegida por patente. Com isso, a empresa que detém a tecnologia das sementes modificadas têm direito de cobrar royalties pelo uso da tecnologia. “O agricultor brasileiro precisa entender isso”, comentou.

Valle acredita que o nível técnico dos pesquisadores de instituições públicas na área de Biossegurança no Brasil é muito bom. “Mas a fiscalização ainda é deficiente nas empresas que se instalam no país. Nós avançamos muito em biossegurança no Brasil, mas precisamos melhorar na fiscalização das empresas que não internalizam as questões de biossegurança”, recomenda ele, para quem as áreas livres de transgênicos deveriam ser denominações específicas do agricultor.

O pesquisador adverte que a falta de controle da soja pode se repetir com outro produto, o milho. Ele conta que algumas empresas já solicitam a introdução do milho transgênico no Brasil. “Não podemos deixar que aconteça com o milho, o que aconteceu com a soja”, alertou.

Você come GM?

Quando se fala em alimentos geneticamente modificados, alguns imaginam que eles ainda estão longe da realidade. Mas a verdade é que eles já estão em boa parte das prateleiras de supermercado. Diante desta realidade, como saber se o que você está comendo é um organismo geneticamente modificado?

Embora faltem testes de impacto ambiental e de segurança alimentar, a população tem condições de saber se um produto industrializado tem na sua composição organismos geneticamente modificados. As avaliações são feitas no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fundação Oswaldo Cruz. Por mês, são analisados cerca de 20 produtoss e 40% desses obtêm resultados positivos.

Os pedidos de testes são encaminhados pelos Departamentos de Vigilância Sanitária dos municípios e estados e pelo Ministério Público. A chefe do setor de Biologia Molecular do INCQS, Paola Cardarelli, alerta sobre a falta de fiscalização e rotulagem de alimentos como iogurtes, bebidas fermentadas e carnes embutidas. Ela explica que a rotulagem é essencial, porque é a única maneira de a população escolher se quer consumir produtos com organismos geneticamente modificados.

De acordo com a legislação, todo produto com 1% de componentes transgênicos deve ter a especificação no rótulo. Embora a legislação brasileira seja similar à rigida norma européia quando o assunto é transgênicos, no Brasil ainda não há métodos para se fazer cumprir o que está escrito. “Não há laboratórios oficiais em número suficiente para quantificar esses organismos, ainda por falta de recursos e de investimentos”, argumenta Cardarelli.

A chefe do setor de Biologia Molecular do INCQS lembra também que a população ainda é desinformada sobre os transgênicos. Para ela, o maior inimigo do avanço científico é a informação errônea. “Algumas pessoas não sabem nem o que o termo transgênico significa”, diz. Contudo, ela cita que os mais esclarecidos, que conhecem os alimentos geneticamente modificados, fazem questão de saber o que estão consumindo, e procuram informações sobre alguns aditivos, como alteração nos teores de gordura ou de açúcar.

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