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Para sindicato, álcool barato é “marketing”

Aquele famoso ditado – “O tiro saiu pela culatra” – cai direitinho no episódio do posto de combustíveis que ganhou o noticiário, na última quarta-feira, ao vender o litro do álcool a R$ 1,08. Em média, o combustível é comercializado na cidade por R$ 1,26.

Filas se formaram no posto, fotos ganharam as páginas dos jornais e uma pessoa, que se apresentou como “gerente” do estabelecimento, “denunciou” que estaria sendo pressionada a subir o preço do álcool para se aproximar dos preços praticados pelos concorrentes, numa prática ilegal conhecida como “cartelização”.

O denunciante chegou a citar os nomes dos postos que o estariam pressionando a reduzir o valor do álcool. O que ele não sabia é que naquele mesmo dia um funcionário de um dos postos citados foi até seu estabelecimento, pela manhã e à tarde, e comprou gasolina – não abastecendo um veículo, mas colocando-a em um recipiente. Comprou, pediu e obteve nota fiscal. “E mandamos as amostras para um laboratório credenciado, com químico responsável (PetroQuality), e o resultado das análises é inquestionável – ele estava vendendo gasolina adulterada com solvente. Que credibilidade esse sujeito tem para acusar os outros por vender álcool mais caro?”, pergunta Renê Abbad, presidente do Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Ribeirão Preto e Região).

“Estou agora (ontem pela manhã) reunido com cinco donos de postos e dois advogados. Vamos à Justiça processar esse indivíduo”, informou Abbad. Segundo ele, depois de lacrado por comercializar combustível adulterado, há alguns meses, o posto foi vendido e estaria no nome de uma “laranja” – uma senhora de baixa renda residente no Parque Cândido Portinari.

No episódio – O presidente do Sincopetro envolveu-se no episódio ao ser citado pelo suposto dono do posto por não ter fornecido auxílio quando da autuação do estabelecimento, meses atrás. “Quando o problema é de documentação, é de burocracia, o sindicato dá toda a ajuda possível. Mas em caso de adulteração, não. Que fique bem claro – o Sincopetro não dá guarida a quem comete o crime de vender combustível adulterado”, sustenta Abbad.

O preço era ainda menor

Na semana passada, A CIDADE havia anunciado uma queda de 16% no preço médio do álcool combustível comercializado em Ribeirão Preto – de R$ 1,35 para R$ 1,25. Mas esses valores são os chamados preços médios – os praticados na maioria dos estabelecimentos.

Já naquela ocasião alguns postos em rodovias e na periferia vendiam o álcool bem mais barato.

O próprio posto de que deu origem à celeuma, localizado na rua Tenente Catão Roxo, no bairro Monte Alegre, ganhou notoriedade ontem por vender o litro do álcool a R$ 1,08 no período da manhã. Mas o mesmo posto, segundo o levantamento semanal da ANP (Agência Nacional de Petróleo), disponível no site www.anp.gov.br, comercializava o mesmo litro de álcool ainda mais barato, a R$ 1,06, no período de 1º a 6 de maio.

Naquela semana pelo menos um outro posto localizado na zona urbana também vendia o álcool a R$ 1,06. “Tudo não passou de jogada de marketing, e isso vem acontecendo com freqüência”, diz Renê Abbad.

“Quando um posto é autuado seguidas vezes, e sua credibilidade cai ao chão, são poucas as alternativas de se reerguer num mercado competitivo como o nosso. Uma delas é simplesmente passar o negócio para a frente, e o novo dono que se vire para reconquistar a clientela. Isso pode ser feito assinando contrato de exclusividade com uma grande companhia distribuidora, para poder exibir bandeiras de renome, ou então com falsas promoções e denúncias, como o que ocorreu agora”, sustenta Abbad.

Inquérito

No Ministério Público, o promotor Carlos Cezar Barbosa abriu inquérito para apurar as denúncias de “cartelização” formuladas pelo dono do posto da rua Tenente Catão Roxo. Não é a primeira vez que o MP investiga a suposta “cartelização” do setor varejista de combustíveis em Ribeirão Preto. O denunciante não foi localizado pela reportagem de A CIDADE.

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