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Para Furlan, Alca pode favorecer o Brasil

O ingresso do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca) será benéfico para a abertura de mercados para o agronegócio brasileiro. Mas o próximo governo terá que ser firme em negociações que acabem ou amenizem os subsídios dados pelos Estados Unidos a seus produtores rurais.

A opinião é de Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho de administração da Sadia, a maior agroindústria brasileira, e também de José Roberto Mendonça de Barros, economista e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Ambos foram palestrantes do Fórum de Presidentes de Cooperativas do Paraná, que reuniu cerca de 150 representantes do setor produtivo em Curitiba, na última sexta-feira.

Bloco continental

Para Mendonça de Barros, a agricultura brasileira, uma das mais competitivas do mundo, abriria mercados importantes com a adesão ao bloco continental.

“Alguns setores vão nadar de braçada, como o açúcar, o suco de laranja e, principalmente, o álcool. Só a Califórnia, estado norte-americano, que precisa de combustíveis menos poluentes, tem uma demanda de 6 milhões de litros de álcool”, exemplificou o economista, que atuou no governo entre 1995 e 1998, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, e hoje trabalha na área de consultoria.

O economista acredita que o Brasil marcou posição na Alca no momento em que conseguiu aprovar uma norma pela qual o tratado só entra em vigor quando todos os seus pontos estiverem negociados. Segundo ele, as negociações em torno da redução dos subsídios norte-americanos poderão se estender por, pelo menos, dois anos.

Furlan comparou as negociações envolvendo a Alca a um casamento. “Se não houver vantagem para a noiva e o noivo, não tem negócio.” Na opinião do presidente do conselho de administração da Sadia, a Alca só interessará ao Brasil se representar a abertura de mercados para o agronegócio.

Bom negócio

“Bem negociada, a Alca pode ser um tesouro para o Brasil”, afirmou Furlan. Na semana passada, o empresário participou de um seminário sobre a agricultura na Alca, promovido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), realizado em Washington.

Uma das pioneiras na exportação de carnes e derivados de aves e suínos, a Sadia obteve, no ano passado 38% de seu faturamento no mercado externo – em relação a apenas 18% há cinco anos. Segundo Furlan, essa participação poderia ser muito maior se não fossem os fortes subsídios e as barreiras sanitárias impostas.

O diretor da Sadia sugeriu aos dirigentes de cooperativas paranaenses que invistam no acabamento de produtos para torná-los mais competitivos no mercado internacional. Este é um dos pontos fortes da empresa. A Sadia produz embalagens específicas para cada mercado em que atua e faz adaptações de linguagem e até da própria marca. A empresa é líder nacional no abate de frangos (12,7% do total), suínos (13,5%) e perus (79,8%).

Leste europeu

Mendonça de Barros previu que, no médio prazo, a União Européia terá que reduzir o protecionismo agrícola para poder incorporar os países do leste do continente, que integravam o extinto bloco comunista. Isso representará uma boa oportunidade para o Brasil ampliar suas vendas no bloco.

“O Brasil tem a agropecuária mais competitiva do mundo sem subsídios. Vejo otimismo no longo prazo e cautela no curto. É inevitável que o protecionismo se reduza, mas será uma guerra lenta.” Também favorece, segundo o economista, a crescente “percepção” do governo para as exportações. “Hoje, os melhores talentos do Itamaraty estão na área da negociação comercial”, afirmou.

Escassez de crédito

Mendonça de Barros previu também a continuidade da escassez de crédito externo para as empresas brasileiras no próximo ano, em virtude da crise internacional, que poderá se agravar com a iminência de ataque ao Iraque pelos Estados Unidos. Diante deste cenário externo, ele calculou que o dólar poderá iniciar 2003 num patamar entre R$ 2,90 e R$ 3,50.

A manutenção do real desvalorizado continuará favorecendo as exportações, principalmente de commodities agrícolas. Segundo o economista, o Brasil poderá repetir o superávit da balança comercial esperado para este ano, na faixa de US$ 10 bilhões. “Independentemente do cenário econômico, o setor agropecuário continuará sendo o mais estruturado para competir no mercado externo.” (Gazeta Mercantil)

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