A alta do preço do petróleo no mercado internacional — que já chegou a se aproximar dos US$ 140 — e a do combustível nas bombas, com a gasolina a R$ 8, pode incentivar a eletrificação da frota no país. Híbrido com etanol é opção no Brasil.
O mais recente reajuste da Petrobras elevou o valor cobrado pela gasolina na refinaria em 18,77% e o do diesel, em 24,9%. Boa parte desse aumento já chegou ao bolso do consumidor.
Para especialistas, o cenário pode funcionar como um empurrão a mais para fazer deslanchar o crescimento da frota de carros elétricos no país ou de veículos híbridos, que funcionam à base de eletrificação ou combustão. Um impedimento para essa tendência, é o elevado preço dos veículos eletrificados.
Embora a longo prazo o custo compense, a diferença de preço entre os modelos elétricos e aqueles a combustão ainda é imensa. Enquanto um carro de entrada flex custa cerca de R$ 65 mil, o carro 100% elétrico mais barato disponível no Brasil, o JAC EJSI, custa R$ 165 mil.
Na categoria híbrido, que pode ser abastecido com etanol ou eletricidade, o mais em conta é o Kia Stonic, que tem um sistema de 48V apenas e sai por R$ 146,9 mil.
Se for desconsiderado um híbrido-leve, que é onde esse Kia se encaixa, o mais barato é o Toyota Corolla Altis Hybrid, por R$ 174 mil. Também híbrido, o preço do Toyota Prius é um pouco mais salgado: começa em R$ 190 mil. Hoje, o modelo a combustão mais barato é o Renault Kwid Life, por R$ 59.090.
Em recente entrevista, Marcus Ayres, sócio-diretor da consultoria Roland Berger, avaliou que a demanda por elétricos deve crescer à medida que o custo total desses veículos fique mais próximo ao dos tradicionais, que é a tendência no médio e longo prazo.
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Frota de veículos elétricos ganha espaço entre empresas
A ampliação da frota de veículos elétricos vêm ganhando espaço entre empresas de diferentes setores no mercado brasileiro, cada vez mais comprometidas com a pauta de descarbonização e adoção de critérios ESG.
É o caso da Via, controladora das Casas Bahia e do Ponto Frio. Em 2019, a empresa adotou iniciativas sustentáveis em seus modais logísticos. Na época, a Via estabeleceu como objetivo reduzir de maneira significativa a emissão de carbono gerado pela companhia até 2025.
Outra companhia que aposta no elétrico é o Magazine Luiza, que começou a eletrificar sua frota no segundo semestre do ano passado. A empresa iniciou um período de testes em junho de 2021. O Magalu, que tem frota terceirizada, ajudou a intermediar a compra com seus parceiros. Já são 51 veículos urbanos de carga, que circulam em cidades dos estados de São Paulo, Paraíba, Bahia e Rio de Janeiro.
Nesse primeiro período, a empresa afirma que o principal obstáculo é a quilometragem. Mas não é só no varejo que os elétricos ganham força. A locadora Unidas anunciou em janeiro a compra de 2 mil veículos eletrificados para sua frota em 2022, sendo 1.600 carros 100% elétricos. A aquisição faz parte do plano da empresa de neutralizar as emissões de carbono e gases de efeito estufa em todas as suas operações até 2028.
O investimento é de R$ 370 milhões. A empresa possui mais de 400 veículos em sua frota. Os novos carros serão usados nos setores de aluguel de veículos e de gestão e terceirização de frotas.
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A Neoenergia tem veículos elétricos em sua frota administrativa desde março de 2020. Ao todo, são 85 veículos híbridos e 44 totalmente elétricos. O objetivo é que toda a frota de veículos leves e administrativos seja completamente substituída até 2030.
Neste cenário, a eletrificação vem sendo vista como um processo de renovação e as montadoras estão investindo em pesquisas para sair na frente nesta corrida. Exemplo disso é a Volkswagen do Brasil, que vai inaugura em setembro deste ano, o seu Centro de P&D de Biocombustíveis na região América Latina. Sua sede será na fábrica Anchieta, localizada em São Bernardo do Campo – SP, onde cerca de 10 engenheiros estarão dedicados, em parceria com universidades locais, ao estudo de soluções de descarbonização usando etanol e outros biocombustíveis para mercados emergentes.
O conceito arquitetônico adota o conceito de espaço aberto inspirado em coworkings, no qual a equipe trabalha em constante colaboração para estimular o desenvolvimento de soluções inovadoras. O projeto considera também muita iluminação natural, o verde integrado ao ambiente e espaços flexíveis para utilização em diversas situações de interação dos times de trabalho.
“Os biocombustíveis, como o etanol brasileiro, apresentam um grande potencial de contribuição para a estratégia global Way to Zero de neutralização de carbono até 2050. Com o Centro de Pesquisa de Biocombustíveis, pretendemos estabelecer parcerias locais com universidades, institutos e empresas, para explorar a vocação e conhecimento da região no tema e encontrar soluções para a mobilidade sustentável em complemento à eletrificação veicular”, destacou Matthias Michniacki, vice-presidente de Desenvolvimento do Produto & Baureihe da Volkswagen do Brasil e Região SAM, área que receberá o Centro de Pesquisa no Brasil.