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País precisa investir R$ 8 bi em rede de dutos

A decisão da Petrobras de cortar investimentos para se concentrar na produção no pré-sal tem trazido preocupações sobre o aumento dos gargalos no abastecimento de combustíveis ao mercado. Estudo encomendado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) mostra que o Brasil demandará investimentos da ordem de R$ 8 bilhões na expansão da infraestrutura de dutos e que, num momento em que a única investidora de peso na área enxuga seu plano de negócios, o governo precisa se movimentar para atrair novos investidores para o setor e evitar que, em dez anos, o mercado enfrente barreiras no transporte de derivados como gasolina e diesel.

“Hoje, vivemos o esgotamento do modelo atual de negócios. Dependemos de um agente [Petrobras] que está reduzindo investimentos”, disse Marcus D’Elia, sócio executivo do Instituto de Logística e Supply Chain’s (Ilos), que elaborou o estudo. “Precisamos criar modelos que facilitem a entrada de novos agentes no mercado para que esse investimento possa ser feito no curto prazo, sem onerar fortemente a Petrobras ou o governo federal.”

De acordo com o estudo, o crescimento do consumo de combustíveis no país demandará a construção de seis novas rotas, nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, além da duplicação de dutos existentes, cujas capacidades devem se esgotar nos próximos anos.

Segundo cálculos do Ilos, a construção de novos dutos demanda investimentos de R$ 4 bilhões. Embora o estudo não tenha se debruçado sobre o cálculo dos aportes necessários para a expansão da infraestrutura atual, por meio da duplicação e de investimentos em bombeamento, a estimativa é que sejam demandados outros R$ 4 bilhões para aumentar a capacidade dos dutos existentes.

Para o gerente-executivo de abastecimento, petroquímica e biocombustíveis do IBP, Ernani Filgueiras, a falta de investimentos não deve causar um apagão no fornecimento de combustíveis ao mercado, mas pode aumentar custos e tornar menos eficiente o suprimento aos consumidores.

“Se os investimentos não forem concretizados, não quer dizer que faltará combustível, mas haverá gargalos. Vai acabar incentivando o transporte por meio de rodovias, o que encarece o frete e aumenta a insegurança nas estradas e as emissões de poluentes”, diz Filgueiras.

D’Elia alerta que o modelo regulatório atual do setor não tem estimulado a entrada de novos investidores e que a discussão sobre o aperfeiçoamento das regras é urgente. “Um duto médio leva geralmente sete anos para ser construído, incluindo o tempo de licenciamento e obras. Se o que estamos discutindo agora não for definido nos próximos três anos, provavelmente teremos problemas”, afirma.

Segundo ele, a regulamentação do livre acesso é hoje um dos principais inibidores de investimentos por parte das distribuidoras. Pelas regras da ANP, uma empresa que construa um duto está sujeita a aceitar investimentos de terceiros na ampliação desse duto. “Ou seja, após todo o esforço de investimento inicial, um concorrente se aproveita de um investimento marginal para aumentar a capacidade e atingir o mesmo mercado que o proprietário quis atingir com a construção do projeto”, explica.

Além disso, a interferência da ANP na regulação das tarifas de transporte não é bem vista pelo investidor. D’Elia destaca, ainda, que o Brasil poderia se inspirar na América do Norte e criar a figura do operador logístico, empresa que atua exclusivamente na construção e operação de dutos. Falta, contudo, regulamentar esse tipo de agente no país.

O estudo prevê até 2025 o crescimento de 32% na demanda por diesel e de 53% no de gasolina equivalente (consumo dos veículos do ciclo Otto, ou seja, gasolina e etanol). “Se [o crescimento projetado] não for alcançado em 2025, será em 2028. O problema é do mesmo tamanho, porque não se consegue construir dutos em três anos”, diz D’Elia, a respeito dos efeitos da desaceleração do consumo este ano sobre as projetos.

Fonte: (Valor)

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