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País manterá expressivos superávits comerciais

A balança comercial teve novo superávit recorde em 2006, de US$ 46,07 bilhões. Os resultados são impressionantes, ainda mais diante de uma valorização cambial por dois anos. No primeiro mandato de Lula o saldo comercial total atingiu US$ 149,2 bilhões, expressivo o suficiente para fortalecer o real por mais um bom tempo. Não se esperam importantes solavancos no câmbio mesmo porque, na pior expectativa dos analistas, o saldo previsto para 2007 deve ficar em US$ 35 bilhões. Os indícios até agora, entretanto, sugerem que o tombo não será tão forte e que é possível que por mais um ano ele permaneça em torno dos US$ 40 bilhões.

Um dos fatores que mais impulsionaram os superávits continuará no horizonte este ano – o comportamento exuberante do comércio internacional. Ele deve declinar quase imperceptivelmente, de 5,1% em 2006 para 4,9% em 2007, se as previsões do FMI estiverem corretas. As economias chinesa e indiana não deram sinais de fadiga nem de desaceleração. A economia japonesa saiu da modorra e os países da zona do euro poderão ostentar neste exercício algo que não fazem há um bom tempo: um crescimento tão forte ou até superior ao dos Estados Unidos. Se a economia americana seguir o figurino do ‘soft landing’, sobrará crescimento no resto do mundo para garantir um mercado mundial aquecido.

É o que tem indicado o comportamento das principais commodities agrícolas e minerais, em muitas das quais o Brasil lidera ou está bem posicionado para se aproveitar da bonança, que já dura pelo menos três anos. Apenas o minério de ferro deve garantir receitas adicionais de US$ 800 milhões, com os reajustes já conseguidos para o ano, de 5,3% e 9,5%. Os preços do aço, que atingiram seu pico em 2005, não deverão recuar diante da demanda em alta. As exportações brasileiras de aço devem dar um salto de 40%, passando de 10,3 milhões de toneladas para 14 milhões de toneladas. Há falta de zinco e preços menores, mas ainda nas alturas, para o cobre. Um fator de sustentação, ainda que nervosa, é a investida dos fundos de pensão nestes mercados. Como informou o Valor na edição de ontem, suas aplicações cresceram de US$ 20 bilhões há cinco anos, para US$ 120 bilhões agora. Uma pesquisa com investidores institucionais americanos indicou que 53% deles pretendiam investir mais de 10% em commodities, como relatou “The Wall Street Journal” (2 de janeiro). A interrupção da alta dos juros nos EUA manteve o apetite por risco desses fundos, depois de uma ameaça de debandada em meados do segundo semestre. Como os riscos de nova escalada do custo do dinheiro são improváveis no curto prazo, há mais lenha na fogueira da demanda agora.

A rota dos preços de algumas commodities agrícolas relevantes aponta também para cima. As exportações brasileiras de álcool e açúcar deverão crescer, depois de avançarem 67% de 2005 para 2006. As receitas do complexo carne deverão se manter, enquanto que as do complexo soja podem subir, dada a febre do etanol, que leva sojicultores americanos a deslocarem sua produção para o milho. O café promete novos recordes e não se prevê queda muito expressiva para o suco de laranja, que teve excelente performance no ano passado.

A alta dos preços tornou-se o maior fator de sustentação das exportações brasileiras, ante um volume físico declinante, impactado pela valorização cambial. O avanço das importações vai comer parte do superávit, mas seu comportamento tem sido o inverso das vendas ao exterior: o quantum sobe significativamente, mas os preços não. Os preços dos importados variaram menos que o dos exportados. Até outubro eles avançaram 7,5% e 12%, respectivamente, segundo a Funcex.

Outro fator importante no resultado final da balança, de magnitude imponderável, é a desvalorização do dólar ante outras moedas, já em curso. Os ganhos dos exportadores brasileiros nas vendas para a Europa melhoraram com o euro forte e o dólar mais fraco ajudaria o Brasil nos mercados do Oriente Médio e Ásia. A valorização do real não mudará no curto prazo e isto é mais sentido no caso das vendas para os EUA, o segundo maior mercado do país, onde elas só cresceram 9,8% em 2006. Com o mercado internacional comprador, medidas que aumentem a competitividade, com redução de impostos, juros menores e melhorias na infra-estrutura, poderão prolongar bastante o animado fôlego exportador.

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