Mercado

País atrai Índia para investir em bioenergia

Dois grandes grupos indianos devem anunciar, na próxima semana, investimentos para produção de biocombustível no Brasil, durante visita do ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, à Índia. O anúncio, aguardado pelo governo brasileiro, faz parte do esforço do ministro para trazer ao campo dos negócios a forte aproximação política entre os dois governos. Quase um ano após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Nova Déli, os empresários brasileiros, mesmo os que farão parte da comitiva do ministro, ainda estão na fase de sondagem do mercado indiano.

“O mercado indiano não é lugar em que se entra da noite para o dia; levamos quatro anos de conversas com a Índia para investirmos lá”, diz o vice-presidente do conselho administrativo da Marcopolo, José Antônio Fernandes Martins, que servirá de cicerone à comitiva na visita à fábrica da Marcopolo e da indiana Tata Motors, na cidade de Lucknow, próxima a Nova Déli.

Com chassis da Tata e carrocerias da Marcopolo, a fábrica já monta cem ônibus por mês, destinados ao transporte público da capital indiana. A fábrica atual, em instalações da Tata, é provisória, e os sócios planejam investir US$ 90 milhões na unidade já em construção em outra cidade próxima, Dharwad, onde, deverão ser fabricados de 15 mil a 20 mil ônibus por ano, praticamente duplicando a produção atual da Marcopolo. “Provavelmente não entraríamos sozinhos em um mercado com língua, fornecedores, hábitos de consumo, leis e tributos tão diferentes”, diz Martins, que vê forte potencial de negócios na Índia, como plataforma para o resto da Ásia.

A timidez dos empresários brasileiros em relação à Índia pode ser explicada por essas incertezas do mercado local, somadas ao atraso na aprovação, pelo Congresso brasileiro, do acordo de redução de tarifas de importação assinado em 2004 entre os dois governos, segundo avalia a especialista Renata Palhano, do escritório de advocacia Guedes & Pinheiro. “Um acordo comercial traz regras de solução de controvérsias que dão mais segurança aos empresários”, afirma.

O acordo, que aguarda há quatro anos aprovação no Senado, é tímido, com pouco mais de 400 mercadorias de cada lado, na maioria com redução de menos de 20% nas tarifas de importação. “Sem a aprovação, os indianos não querem falar em ampliação da abertura comercial”, diz Renata.

A Randon, grande fabricante de carretas, tem interesse, mas ainda está “reticente”, à espera da melhoria da infra-estrutura do país, afirma o diretor corporativo e de operações da empresa, Erino Tonon. “Enquanto isso, estamos aumentando nossas importações de componentes de lá”, comenta. Não são os únicos. Em 2007, embora o comércio bilateral tenha crescido muito, quase 30%, para quase US$ 3 bilhões, as exportações estabilizaram-se em cerca de US$ 950 milhões, e foram as importações que avançaram, em quase 47%. O déficit comercial do Brasil com a Índia saltou de US$ 535 milhões para US$ 1,21 bilhão.

“No campo econômico, o comércio bilateral está muito aquém do potencial”, admite Mauro Couto, assessor internacional do Ministério do Desenvolvimento. O governo, porém, acredita que a aproximação com as autoridades indianas tende a abrir caminho para que outros investidores sigam o exemplo da Marcopolo.

Miguel Jorge, em palestra aos indianos, deve lembrar que já há 33 companhias indianas com sociedades no Brasil, quase metade delas no setor farmacêutico. O governo brasileiro quer estimular associações especialmente no campo da bioenergia e agronegócio. O ministro falará também das possibilidades no setor automotivo e de tecnologia da informação.

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