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“Os biocombustíveis podem suprir 30% da demanda mundial no transporte”

A conclusão é de Christopher Sommerville referência mundial em pesquisas sobre biocombustíveis e diretor do Instituto de Energia e Biociências (EBI, a sigla em inglês) da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos EUA. Em 2007, Sommerville abandonou quatorze anos de atuação na instituição rival, a conceituada universidade californiana de Standford, para comandar, no EBI, um projeto de 500 milhões de dólares, patrocinado por grandes companhias de energia. Ele afirmou na época que não tinha medo do lobby das empresas, mas sim dos efeitos negativos que a má-fama do etanol do milho poderia gerar na aceitação dos novos biocombustíveis. Em entrevista a ÉPOCA, Sommerville explica quais são as pesquisas mais avançadas para o mundo superar a dependência do petróle! o na produção de combustível para os veículos.

ÉPOCA – Quais são as empresas que estão patrocinando pesquisas de novas fontes de energias?

Christopher Sommerville – As grandes investidoras são a BP (British Petroleum), Shell e a Chevron. Além de projetos em biocombustíveis, todas essas companhias também investem em outras tecnologias, como a energia eólica, a solar e a geotérmica (produzida a partir do calor do núcleo da Terra). Mas tenho certeza que nenhuma dessas empresas acredita que haverá uma mudança completa da matriz energética mundial.

ÉPOCA – E o senhor acredita que no futuro o mundo vai parar de usar petróleo como fonte de energia?

Sommerville – Eu não acredito que já exista uma solução realista, e a curto prazo, para o dilema energético mundial. O que precisamos fazer é desenvolver ao máximo todas as possibilidades de fontes energéticas, como a energia dos ventos, a solar, térmica, a energia geotérmica, a energia eletroquímica, a fotovoltaica e melh! orar a eficiência energética. Os biocombustíveis são uma parcela dessa gama de novas possibilidades. A questão das mudanças climáticas é muito séria e ameaçadora, vamos ter que desenvolver muitas tecnologias diferentes para conseguir lidar com esse desafio.

ÉPOCA – E qual é a parcela de contribuição dos biocombustíveis na futura matriz energética mundial?

Sommerville – A nossa previsão é suprir no mínimo 30% de todo o combustível mundial para o transporte com os biocombustíveis. Isso sem causar problemas ambientais ou agravar os problemas da insegurança alimentar. Mas para atingir essa meta ainda vamos ter que esperar uns 20 anos para aperfeiçoar a infra-estrutura e tecnologia existente.

ÉPOCA – E quais são as pesquisas e matérias-prima mais promissoras para conseguirmos atingir essa meta?

Sommerville – Essa é uma pergunta muito complexa. Acho que entre as melhores possibilidades está o biocombustível que usa toda a planta, o chamado lignocelulose. Ele pode prod! uzir gasolina e diesel com uma alta taxa de energia por matéria-prima, pois também aproveita o bagaço da cana-de-açúcar, os resíduos agrícolas e florestais. Outra matéria-prima promissora é uma grama nativa do EUA, que chamamos de planta perene. Sua produção requer baixo investimento em insumos agrícolas e ela ainda ajuda a capturar o carbono da atmosfera. Nesse cenário, acaba a produção de etanol via milho, mas fica a cana-de-açúcar brasileira, pois ela é muito produtiva e pode ter um retorno energético maior se incluir o aproveitamento do bagaço. Outro estudo importante é no processo de fermentação dos biocombustíveis, onde começamos a suar catalisadores sintéticos ao invés das enzimas e micróbios naturais, o que tem aumentado muito a produtividades. Há muitas tecnologias em desenvolvimento e ainda não temos um consenso claro sobre qual é a melhor.

ÉPOCA – Já é possível fazer a produção de biocombustível da celulose em larga escala?

Sommerville – Não, mas no EUA, estã! o sendo construídas plantas de produção com capacidade para 30 milhões de galões por ano. Mas ainda vai demorar uns oito anos para vermos a expansão em larga escala do etanol da celulose.

ÉPOCA – Os biocombustíveis da celulose são melhores do que o hidrogênio como combustível para veículos?

Sommerville – Hoje sim, pois o hidrogênio tem um processo de produção caro e que também emite gás carbônico. Para conseguirmos hidrogênio a sua fabricação é feita a partir da queima de combustível fóssil, principalmente o gás natural. A longo prazo poderemos produzir hidrogênio a partir da fotossíntese das plantas. Algumas pesquisas de Berkeley já apontam para essa possibilidade. Se essas pesquisas forem bem sucedidas poderemos estar abrindo uma nova econômica livre de carbono para a produção de hidrogênio. Mas mesmo assim, os custos para a construção de uma nova frota de veículos abastecidos com hidrogênio são intimidantes, e acho impossível fazer toda essa mudança até 2050. Por outro ! lado, os biocombustíveis da celulose são compatíveis com a nossa atual frota e infra-estrutura, por isso acredito que eles ainda serão muito importantes durante os próximos 40 anos, ou mais.

ÉPOCA – Existem muitas críticas aos biocombustíveis, um exemplo foi um artigo publicado pelo pesquisador Mark Jacobson de Standford, no mês passado. Ele que acusou os biocombustíveis da celulose de serem piores do que o etanol produzido pelo milho. Jacobson também afirmou que essa tecnologia ira resultar em mais poluição, danos ao meio ambiente e problemas com a produção de alimentos. O que o senhor acha dessas críticas?

Sommerville – Esse artigo é um bom exemplo de como podemos conseguir modelos para fazer o prognóstico que desejarmos. Acho que os modelos de Jacobson foram baseados em hipóteses muito pessimistas, e tolas. Eu sou editor da revista que publicou o artigo dele, e na minha opinião os cientistas são livres para fazer os seus argumentos, mas isso não significa que todos devam concordar com as suas suposições. Você realmente acha que tantas pessoas estariam estudando os biocombustíveis da celulose, se a situação fosse tão sombria como Jacobson calcula?

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