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Os alquimistas da economia brasileira

Seriam as instituições bancárias os alquimistas da economia brasileira? Afinal, em um ano marcado pelo aumento do desemprego, a baixa atividade industrial e a queda na renda da população, um seleto grupo de 19 instituições bancárias obteve lucro líquido de R$ 14 bilhões, um volume 8% superior ao lucro registrado em 2002. O mais espantoso é que esse resultado animador – para os bancos – não se deveu simplesmente a excelência administrativa, muito menos ao arrojo nos investimentos. Foi fruto de uma política perversa que utiliza como lastro as altas taxas de juros e a aversão à concessão de créditos.

Em um ano marcado por declarações do governo de que “estamos criando os alicerces para um crescimento sustentável”, o lucro dos bancos preocupam, pois são inversamente proporcionais a retração de 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto), registrada no mesmo período. Tal preocupação decorre do fato desse resultado só ser possível graças à condução continuísta e conservadora da economia por parte do governo federal, por meio do seu braço financeiro, o Banco central.

E é o mesmo governo que já admitiu a necessidade de o País crescer de 4,5% a 5% ao ano para reaquecer a economia e solucionar de vez este período recessivo. Mas como isso seria possível? Os problemas continuam os mesmos: os juros altos, a dificuldade de conseguir crédito na praça e os curtos prazos de pagamento. Os “spreads” – diferença entre a captação de recursos e o empréstimo do mesmo – e o aumento das negociações com papéis do governo, fizeram com que os bancos se tornassem avessos ao risco e simples “rentistas” de títulos públicos.

A abertura do mercado financeiro promovida pelo governo não surtiu o efeito esperado, ou seja, de aumentar a competitividade e beneficiar a população com planos de ampliação de crédito e pagamento mais acessíveis. Setores produtivos, como o agropecuário, que geram empregos e divisas para o País, são preteridos em nome do capital especulativo. Essa crítica pode até ter um ar de “dejá vu”, pois foi com ela que o atual governo petista ascendeu à presidência da república, respaldado por mais 65% dos votos válidos na última eleição.

Enquanto isso, membros do antigo governo FHC fazem uma oposição de discursos que busca sustentação no esquecimento da população dos mesmos erros cometidos durante o governo anterior. Precisamos de pessoas comprometidas com o setor produtivo na gestão da política econômica brasileira, e não simplesmente balizadas por políticas enlatadas do FMI (Fundo Monetário Internacional), ou por interesses escusos de alguns setores que sobrevivem e vicejam na crise. O tão almejado espetáculo de crescimento tem de sair da retórica e entrar na prática.

O Brasil precisa mudar sua orientação econômica, o que não é, como alguns desavisados podem pensar, partir para a irresponsabilidade fiscal. Essa mudança, urgente, representa criar condições para um desenvolvimento mais equilibrado, que permita o resgate e a inclusão da grande maioria de nossa população, lembrada apenas às vésperas de eleições.

Arnaldo Jardim é deputado estadual – arnaldojardim@uol.com.br

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