JornalCana

ONU busca no Brasil molde para ampliar uso de álcool

Conhecido por suas praias paradisíacas e ruínas da antiga civilização Maia, Belize, na América Central, conta com forte apelo turístico. Além disso, sua economia não foge à regra de muitos outros países em desenvolvimento e a agricultura é outra de suas fontes de renda vitais. Mas a própria atividade primária também carece de investimentos, e pelo menos nesse ponto o panorama pode começar a mudar.

Objeto de estudo de caso da Organização das Nações Unidas (ONU), este pequeno país com menos de 250 mil habitantes poderá copiar o modelo brasileiro de sustentabilidade da cana-de-açúcar, explicou por telefone ao Valor Anna Rossington, representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Colonizado pelos ingleses e independente desde 1981, Belize já tem da cana forte dependência. Mas, da cana, o país só processa açúcar e melaço, dois dos principais itens da pauta de exportação do país centro-americano. E, para Anna, Belize tem condições de ampliar sua pauta e movimentar o mercado doméstico com a produção do álcool. “Os empresários do país não conhecem o potencial da produção de etanol”, afirmou ela.

Conforme Borges, modelo pode ser “exportado” para vários outros países

Para divulgar o modelo sucroalcooleiro do Brasil, reconhecido mundialmente, o PNUD contratou a consultoria brasileira Job Economia e Planejamento, presidida por Júlio Maria Martins Borges. “Assim como Belize, outros países produtores de cana e dependentes de petróleo podem produzir álcool para os mercados interno e externo”, disse ele.

No Brasil, a produção de álcool ganhou impulso na década de 70 na esteira do Proálcool, programa que estimulou a produção de carros movido a álcool (hidratado) e que teve seu auge na década de 80. Hoje, com os carros bicombustíveis (movidos a álcool ou gasolina), o programa ganhou novas cores. Além disso, no mercado brasileiro também vigora a mistura de 25% de álcool anidro na gasolina.

Um dos problemas é que Belize conta, atualmente, com apenas uma usina de açúcar e moagem de cerca de 1 milhão de toneladas. As exportações de açúcar do país somam 150 mil toneladas. Independentemente do pequeno volume exportado, o país já demonstrou preocupação com o que acontece no mercado global, e por isso participa como terceira parte no processo movido pelo Brasil, Tailândia e Austrália, na Organização Mundial do Comércio (OMC), contra a política de subsídios para o açúcar praticada pela União Européia.

No caso do álcool, os centro-americanos têm pelo menos uma grande vantagem. Martins Borges lembra que Belize é beneficiado pela Iniciativa da Bacia do Caribe (Caribbean Basin Initiative), programa criado na década de 80 para estimular o desenvolvimento de suas indústrias, com isenção ou redução de tarifas para exportação. Por meio desse acordo, Belize e outros caribenhos podem exportar até 7% da demanda interna dos EUA por álcool, equivalente hoje a 500 milhões de litros.

Martins Borges esteve entre os dias 5 e 9 de janeiro naquele país, onde explicou como funciona o modelo brasileiro. “Apresentaremos esse estudo para o governo de Belize, como parte do Plano Nacional de Energia do pais”, afirmou Anna. De acordo com ela, o programa de implementação do álcool poderá receber incentivos de fundos internacionais, o que alavancaria a produção naquele país. “Pode ser perfeitamente viável a implementação da mistura de 10% do álcool na gasolina no país”.

Para Martins Borges, Belize reflete a realidade de vários países produtores de cana e dependentes de petróleo. “A produção de álcool nesses países é economicamente viável”, afirmou. Ele lembrou, também, que Japão e Tailândia poderão implementar a mistura de álcool na gasolina.

Segundo Anna, países centro-americanos como Guatemala, Costa Rica e El Salvador estão considerando investir na produção de álcool, também de olho na excelência brasileira e no mercado americano. “Ao contrário do café, com 70% da produção mundial negociada no mercado internacional, as exportações de álcool são residuais”, concluiu Martins Borges.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram