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Ônibus “mais limpos” em Curitiba

A partir de amanhã Curitiba terá seis ônibus rodando com biocombus­­tíveis. A iniciativa faz parte de um projeto da prefeitura para que, no futuro, toda a frota do transporte coletivo use os chamados combustíveis limpos e é inédita no país. A tecnologia, intitulada B-100, usa 100% biodiesel à base de soja. O material é fabricado por uma usina no Rio Grande do Sul. O custo é entre 20% e 30% maior que o diesel comum e será subsidiado pelo município. Apesar do alto valor, os benefícios para o meio ambiente são maiores: o B-100 reduz em até 70% a fumaça emitida pelos veículos.

Dez instituições participam do programa, que deve durar 18 meses. Entre os parceiros estão duas montadoras, a Scania e a Volvo; o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), que fará o monitoramento da qualidade do biocombustível e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, que vai avaliar testes de emissões de poluentes e fumaça. A inovação é justamente a articulação entre o poder público e a iniciativa privada. Alguns projetos anteriores testados pela cidade não deram certo porque as empresas mudaram a tecnologia dos motores (veja box).

Iniciativas

Veja o que já foi testado pela prefeitura de Curitiba:

1995/1998 – cinco ônibus rodaram com álcool hidratado na proporção de 95% de álcool e 5% de aditivo. A tecnologia não deu certo porque o aditivo era importado e seu custo muito elevado.

1998 – dois veículos suíços da montadora Scania rodaram na cidade por três meses também com álcool hidratado e aditivo.

1998/1999 – vinte ônibus circularam pela cidade por um ano com a mistura B-20, com 80% de diesel e 20% de biodiesel à base de soja. O material era importado dos Estados Unidos em parceria com produtores de lá porque no Brasil a produção não era grande. Mas ! isso aumentava substancialmente os custos.

1999/2004 – vinte ônibus usaram a tecnologia MAD-8, com 89,6% de diesel, 8% de álcool anidro e 2,6% de aditivo. Mudanças tecnológicas dos motores impossibilitaram a continuidade do projeto.

2006 – durante as conferências COP 8 e MOP 3, 20 veículos rodaram com a mistura B-5, com 95% de diesel e 5% de biodiesel.

Para a Urbs, a principal contribuição é mostrar que uma alternativa de energia limpa é possível nas grandes cidades. Os testes realizados nos próximos 18 meses vão mostrar se os motores precisarão de ajustes. Os seis ônibus que receberão o novo combustível são flex, aceitam tanto diesel quanto biocombustíveis. Mas somente os veículos da Linha Verde têm essa tecnologia, os demais não. Por isso, se os testes derem certo, na medida em que a frota seja trocada no futuro, todo o transporte coletivo será movido a biocombustível à base de soja.

Gestor de vistoria e cadastro de transporte da Urbs, Élcio Luiz Ka­! ­ras diz que o município selecionou uma empresa do Rio Grande do Sul porque era a mais especializada em biocombistíveis à base de soja do setor. Outras matérias-primas, como a mamona e gordura animal, mostraram ter problemas em temperaturas abaixo de 19ºC. Como o inverno de Curitiba é rigoroso, a prefeitura optou pela soja, que não oferece este risco. Além do cus­­to mais alto, o biodiesel também consome mais, cerca de 8%. “Por isso haverá subsídio. Mas os be­­nefícios que a cidade terá com um ar mais puro não tem preço”, diz.

Hoje a frota da capital é composta por 2 mil ônibus. Eles são um dos maiores poluidores porque usam o diesel, combustível altamente prejudicial para o meio am­­biente. Os veículos em teste vão rodar os 18 quilômetros da Linha Ver­­de, totalizando cerca de 200 por dia. Para o diretor de Transporte da Urbs, Fernando Guignone, o pro­­jeto do município pode ser um exemplo para o Brasil e melhorar a qualidade do ar da cidade em até 50%. Curitiba é a primeira cidade a usar o B-100, sem a adição de diesel comum. “Estaremos utili­­zan­­do um combustível totalmente renovável. É uma iniciativa pioneira.”

Exemplo

Pesquisador do departamento de Química da Universidade Federal do Paraná, Luiz Pereira Ramos também concorda que a iniciativa de Curitiba poderá ser levada para todo o Brasil e até para outros países. Os resultados obtidos pelos tes­­tes nos 18 meses de funcionamento ajudarão a compor o banco de dados mundial sobre os combustíveis limpos. Ele argumenta que as empresas e o poder público geralmente têm uma visão limitada e somente veem o custo a curto prazo. Esquecem com isso de ver todos os benefícios gerados pelos biocombustíveis. “É uma reação em cadeia. A economia nacional é aquecida, o ar da cidade fica mais puro, as pessoas têm mais qualidade de vida e menos problemas respiratórios.”

Hoje o país importa cerca de 10% do diesel consumido. Com a produção nacional, o Brasil pode diminuir esta dependência. “O poder! público tem um papel essencial agora de incentivar esta tecnologia. No início será um pouco mais caro, porque é algo novo, mas depois de disseminado, os preços do diesel do biodiesel podem ser equivalentes” explica. “Os benefícios para o meio ambiente são gigantes.”

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