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Onde está o conteúdo nas idéias de Obama?

Barack Obama está começando a ficar muito parecido com Gary Hart. Nos idos da campanha presidencial de 1984, Hart desafiou Walter Mondale, franco favorito à indicação pelo Partido Democrata, ao se proclamar candidato das “novas idéias”. Hart estava conquistando impulso, vencendo várias primárias estaduais, incluindo a Flórida. Ele começou a ruir, porém, depois de Mondale ter desafiado esplendidamente as suas “novas idéias” com a frase imortal: “Onde está o conteúdo”?

Esta frase funcionou porque as idéias de Hart não funcionavam. Em primeiro lugar, ele se concentrou principalmente na forma como o governo gasta dinheiro, não no montante que gasta. Brilhante!

O caso de Hart sugere uma lição importante para as pessoas que se candidatam a cargos públicos. É uma má idéia se proclamar o candidato com as novas idéias. Se as idéias são estratégias verdadeiramente inovadoras para solucionar os problemas do nosso país, então as coisas poderiam funcionar. Mas se as idéias são fracas ou requentadas, o candidato está encrencado.

O problema é que a maioria dos grandes temas já foi estudada à exaustão. Existem provavelmente cem propostas para corrigir a legislação tributária e um número maior ainda, para corrigir a Seguridade Social. Como é possível que algum candidato possa aparecer com algo que ninguém pensou antes?

Obama, que busca a indicação do Partido Democrata na disputa presidencial, certamente não percebeu. Seu endereço na internet o identifica como autor de “abordagens inovadoras para desafiar a ordem reinante”. Observadores democratas influentes prestaram atenção. O ex-economista da administração Clinton, Alan Blinder, disse em entrevista à “Bloomberg” que “eles trazem idéias novas para a campanha”. Face nova, idéias novas, nada mal.

Mas onde está o conteúdo? Ao longo das duas últimas semanas, Obama começou a revelar abordagens que só um vegetariano poderia amar.

Tomemos como exemplo a sua proposta na área de energia. Obama teme que um embargo ao petróleo possa causar graves danos à nossa economia e sugere planos para nos ajudar a evitar um desastre. O eixo da proposta é certamente diferente, mas não está numa direção favorável.

Obama a proclama como “saúde para híbridos”. O raciocínio é socorrer as companhias automobilísticas através do pagamento de uma fração dos custos com saúde dos trabalhadores aposentados do setor. Em troca, as montadoras precisariam gastar metade do dinheiro que economizam com tecnologias para produzir carros híbridos mais eficientes em combustível.

A maioria dos grandes temas já foi estudada à exaustão, o que impossibilita que novos candidatos apareçam com algo que ninguém pensou antes

O que há de errado com essa proposta? Deixe-me explicar. A primeira parte é uma tentativa escancarada de ceder às exigências dos sindicatos de trabalhadores da indústria automobilística dos EUA. Ela poderia ser nova se um republicano a tivesse tentado, mas Obama se une a uma longa fila de candidatos democratas que colocam os interesses dos grandes sindicatos de trabalhadores acima dos interesses do povo americano.

O fato é que os sindicatos negociaram benefícios de saúde tão generosos que as montadoras de carros simplesmente não podem pagá-los. A resposta certa é que as duas partes se encontrem, renegociem e amadureçam algo. Se isto acontecer, porém, os benefícios serão reduzidos. Um plano de socorro somente frearia esse processo.

A segunda parte da proposta, que convoca as montadoras a investir dinheiro para desenvolver híbridos mais baratos, é ainda pior. As empresas de automóveis já estão fabricando híbridos e supostamente indo atrás de todas as pesquisas que sejam economicamente justificáveis. Um subsídio para pesquisas específicas só aumentará esses esforços se os projetos que atualmente são considerados perdedores forem subitamente dotados de recursos. Isto é um desperdício de dinheiro com um D maiúsculo.

Então a nova grande idéia de Obama é combinar duas políticas sem nexo. Na matemática, um número negativo multiplicado por outro negativo resulta em positivo. Em política econômica, a coisa não funciona exatamente desta forma.

Ele tem outras propostas de energia, como padrões mais elevados de economia de combustível e dependência crescente sobre o etanol, mas elas dificilmente poderiam ser consideradas novas. Os produtores de milho estão acostumados a ver políticos se enfileirarem para satisfazerem os seus desejos.

Muito bem, diria um apoiador. Mas a mensagem real de Obama é que precisamos pôr um fim às brigas partidárias e buscar soluções que tanto republicanos como democratas possam endossar. Por esse critério, é claro, suas propostas de energia tampouco atingem o objetivo. Porque exatamente os republicanos deveriam se apressar em endossar um plano de socorro caro para um grupo de interesse especial que está entre os mais confiáveis apoiadores da sua oposição política?

Uma nova proposta de energia bipartidária expressaria a verdade sobre o problema. Combustíveis baseados no carbono estão causando aquecimento global e nós precisamos reduzir a nossa dependência deles por meio da introdução de um imposto sobre o carbono. Ao fazê-lo, devemos extinguir todos os subsídios para alternativas e permitir que os altos custos de energia resultantes do imposto motivem as pessoas a buscar agressivamente novas soluções eficazes em termos de custo.

Essa proposta pode não recompensar os produtores de milho, ou os sindicatos de trabalhadores, porém seria o tipo de nova abordagem merecedor de aprovação bipartidária. Talvez seja esperar demais de um político nestes dias, mas este certamente é o tipo de opinião que se poderia esperar de um candidato que tenha demarcado um território como Obama fez.

Kevin Hassett é diretor de estudos de política econômica no American Enterprise Institute e colunista do “Bloomberg News”. Foi o principal conselheiro econômico do senador republicano John McCain durante as primárias de 2000. As opiniões aqui expressadas são as suas próprias.

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